Será que posso ser eu só amanhã, e por hoje esquecer quem sou? Posso lavar os olhos das imagens guardadas, livrar o peito das dores acumuladas, estender as mãos ao alto na poética ignorância do saber imposível?
Será que só por hoje, umas horas, me posso esquecer dos dias, das noites, dos regressos intermináveis do sol no rendilhado dos estores? Posso fingir que não sei nada, nunca soube, que fui sempre uma folha de papel branca, uma tábua rasa, pronta a ser inscrita pela ponta dura da pedra da experiência?
Quem me dera nascer de novo, sentir-me inundada pela novidade das coisas mais simples, descobrir porque é que chove, porque é que o sol brilha, que o relâmpago e o trovão são simultâneos..
Será que, só por hoje, me posso fechar na concha mágica e perfeita da ingenuidade e dormir assim, esquecida de mim?
Thursday, September 27, 2007
Sunday, September 23, 2007
É mentira.
A mentira tem perna curta. Curtinha, anda coxa, vai-se arrastando por aí. É por isso que, quando cai, cai com estrondo, não se levanta, fica suja da lama na estrada e é pisada por aqueles que passam.
Podes até fingir que não reparas, é de mau gosto ficar olhar assim, para quem passa, mas tu sabes. Reconhece-la pela hesitação com que se move, pelo engasgar dos seus passos, pela forma como tenta passar despercebida entre a multidão ruidosa.
Pelo seu jeito único de ferir os ouvidos quando ri, pelo seu gesto habitual de tentar desaparecer depressa depois de falar contigo...
Só porque não te chamo pelo nome, não quer dizer que não te conheça.
Podes até fingir que não reparas, é de mau gosto ficar olhar assim, para quem passa, mas tu sabes. Reconhece-la pela hesitação com que se move, pelo engasgar dos seus passos, pela forma como tenta passar despercebida entre a multidão ruidosa.
Pelo seu jeito único de ferir os ouvidos quando ri, pelo seu gesto habitual de tentar desaparecer depressa depois de falar contigo...
Só porque não te chamo pelo nome, não quer dizer que não te conheça.
Friday, September 21, 2007
Que estranha forma de vida!
Eu existo da minha maneira estranha. Existo com o mau humor de manhã, com a pasta dos dentes que me enche a boca, com os ganchos que insistem em sair do lugar.
Existo no carro, na estrada fria, no fumo inquieto de motores em fúria. Existo com a mala ao lado, meia cheia, o optimismo congelado para usar na altura certa.
Existo na sala, calada e dormente, o espírito perdido em montanhas distantes, a mão que vagueia em apontamentos ouvidos mas não apreendidos.
Existo no regresso, doce regresso, na casa que me espera, familiar e minha, as minhas coisas nos cantos que conheço de cor, as pantufas à porta para me receber.
Existo na noite, na minha almofada, na forma na cama que tem o meu ser, no lençol de algodão dobrado à pressa, no cheiro do champô que passeia por ali.
E fora daqui, o que é feito de mim?
Existo no carro, na estrada fria, no fumo inquieto de motores em fúria. Existo com a mala ao lado, meia cheia, o optimismo congelado para usar na altura certa.
Existo na sala, calada e dormente, o espírito perdido em montanhas distantes, a mão que vagueia em apontamentos ouvidos mas não apreendidos.
Existo no regresso, doce regresso, na casa que me espera, familiar e minha, as minhas coisas nos cantos que conheço de cor, as pantufas à porta para me receber.
Existo na noite, na minha almofada, na forma na cama que tem o meu ser, no lençol de algodão dobrado à pressa, no cheiro do champô que passeia por ali.
E fora daqui, o que é feito de mim?
Vida num acto
Tornei-me mais alta. Construí pontes a partir da matéria dos meus obstáculos. Uni mundos sem pensar nas diferenças que os poderiam arrasar. Arrisquei. Levei a melhor, às vezes perdi. Outras vezes encontrei-me, sozinha, encontrando-me. Fiz a reunião do corpo e da alma e brilhei, permanente combustão estrelar que acaba numa explosão. Os meus destroços, viajando numa atomosfera sem pressão. A fita-cola à mão de uma mão amiga que me cola a mão de volta no lugar. Única união. Resplandecente conclusão. Um fim feito de pontos de interrogação. Não é término, é interrupção. São três pontos de exclamação sem necessidade, só pelo gosto. A necessidade de gostar, do prazer. Uma necessidade desnecessária que me faz viver. Um olho aberto, outro fechado. Viro a cara sem olhar para o lado. Frente, trás, diagonais transparentes. O meu corpo, feito de linhas, novelos de cores diferentes. Nós, laços, traços, abraços. Nós, miscelância de ritmos e de compassos, numa melodia perfeita, polifonia polivalente. Em frente, em frente... Um atraso de ponteiros que nos acalma a alma, a palma da mão virada para sul, pano de tule que cobre o tempo, frágil teia de aranha por cima do vento, rasga-se a norma, rasga-se o trato, é tudo espontâneo, vida num acto, baixa-se o pano, agradece o actor. O tic-tac que pára, só sobrevive o amor.
Thursday, September 20, 2007
O meu polinho
Quando fiz os meus 17 anos e meio (e há quanto tempo foi isso?!), pedi ao meu pai a carta de condução. Era fundamental, essencial, indispensável para a minha vida! Era o meu bilhete para o comboio da independência, para o mundo das meninas crescidas que pintam os lábios paradas no trânsito (apesar de nem sequer usar batôn), para os pés descalços fora do vidro (impossível quando se vai a conduzir), para a música aos berros e cantorias assustadoras ao volante (revelou-se, de facto, a essência da condução).
Tirei a carta, com a garantia de que o pai não me ofereceria o carro. Um dia, teria um carro. Um dia, tal como ele, acabaria a minha licenciatura e compraria o meu calhambeque (bip bip, quero buzinar meu calhambeque!). "Tudo bem, para que é que eu quero um carro?", dizia eu, imaginando-me por aí, no carro do papá, cheio de amigas em pleno estado de êxtase, atravessando as estradas de alcatrão fumegante de todo o país (filmes americanos a mais... eu sei!).
Acabei a carta em Abril. Em Junho tinha um carro na garagem. Ele não era novo, não era brilhante nem tinha o cheiro a pele que sai dos bancos quando nos sentamos num carro pela primeira vez. Mas era meu, só meu, e de mais ninguém. Estado de graça que durou até a minha irmã, um ano depois, tirar a sua carta de condução de veículos ligeiros e passar a dizer que era "nosso". Sacrifícios que se fazem, pelo menos tinha meio carro que era melhor que um banco inteiro no autocarro!
Eu e o meu (meio) Polo! O meu (meio) Polo e eu! Tem cicatrizes de guerra, mas não as temos todos? O volante está gasto, o tablier meio rachado, o porta-bagagens cheio de todas as tralhas possíveis, o cachecol do SCP sempre a postos, no banco de trás.
A verdade é que o meu Polo não me levou a lugares distantes e improváveis. Não, eu e o meu (meio) Polo não levantámos poeira em estradas de terra batida, percorrendo o mundo sem saber onde parar.
Tinha um sonho modesto. Queria encher o depósito e partir sem rumo, escolher ao acaso uma paragem no mapa, ou pura e simplesmente fazer pim-pam-pum nos cruzamentos e deixar-me levar. Mas ainda temos tempo Polinho...
E quando me perguntam pelo carro dos meus sonhos, falando de marcas de luxo, eu encolho os ombros. Não me preocupo muito com isso. O Polinho tem 4 rodas e leva-me a todo o lado. O Polinho não se queixa dos riscos nas portas, na traseira e na frente: de facto, ele está um bocado riscado, mas são como as rugas, sinais de experiência e vivência intensa. Mesmo quando, na auto-estrada, ele mostra o motor cansado e se arrasta nas subidas (em Monsanto subimos a 40 km/h), eu rio-me, na faixa da direita, com os velhinhos à minha frente a uns estonteantes 50km/h, até que consigamos atingir uma velocidade razoável (não há nada como uma bela descida).
Não me perguntem qual a marca do carro dos meus sonhos. Ou de que cor, a cilindrada, as polegadas das jantes. Olhem para o meu Polinho e lá está a resposta. :D
Tirei a carta, com a garantia de que o pai não me ofereceria o carro. Um dia, teria um carro. Um dia, tal como ele, acabaria a minha licenciatura e compraria o meu calhambeque (bip bip, quero buzinar meu calhambeque!). "Tudo bem, para que é que eu quero um carro?", dizia eu, imaginando-me por aí, no carro do papá, cheio de amigas em pleno estado de êxtase, atravessando as estradas de alcatrão fumegante de todo o país (filmes americanos a mais... eu sei!).
Acabei a carta em Abril. Em Junho tinha um carro na garagem. Ele não era novo, não era brilhante nem tinha o cheiro a pele que sai dos bancos quando nos sentamos num carro pela primeira vez. Mas era meu, só meu, e de mais ninguém. Estado de graça que durou até a minha irmã, um ano depois, tirar a sua carta de condução de veículos ligeiros e passar a dizer que era "nosso". Sacrifícios que se fazem, pelo menos tinha meio carro que era melhor que um banco inteiro no autocarro!
Eu e o meu (meio) Polo! O meu (meio) Polo e eu! Tem cicatrizes de guerra, mas não as temos todos? O volante está gasto, o tablier meio rachado, o porta-bagagens cheio de todas as tralhas possíveis, o cachecol do SCP sempre a postos, no banco de trás.
A verdade é que o meu Polo não me levou a lugares distantes e improváveis. Não, eu e o meu (meio) Polo não levantámos poeira em estradas de terra batida, percorrendo o mundo sem saber onde parar.
Tinha um sonho modesto. Queria encher o depósito e partir sem rumo, escolher ao acaso uma paragem no mapa, ou pura e simplesmente fazer pim-pam-pum nos cruzamentos e deixar-me levar. Mas ainda temos tempo Polinho...
E quando me perguntam pelo carro dos meus sonhos, falando de marcas de luxo, eu encolho os ombros. Não me preocupo muito com isso. O Polinho tem 4 rodas e leva-me a todo o lado. O Polinho não se queixa dos riscos nas portas, na traseira e na frente: de facto, ele está um bocado riscado, mas são como as rugas, sinais de experiência e vivência intensa. Mesmo quando, na auto-estrada, ele mostra o motor cansado e se arrasta nas subidas (em Monsanto subimos a 40 km/h), eu rio-me, na faixa da direita, com os velhinhos à minha frente a uns estonteantes 50km/h, até que consigamos atingir uma velocidade razoável (não há nada como uma bela descida).
Não me perguntem qual a marca do carro dos meus sonhos. Ou de que cor, a cilindrada, as polegadas das jantes. Olhem para o meu Polinho e lá está a resposta. :D
Wednesday, September 19, 2007
Matéria de sonho
Julgo que foi Shakespeare quem afirmou, um dia, que "o homem é feito da mesma matéria com que se entrelaçam os sonhos".
Ignorar, assim, tão ferozmente, a ciência da carne e dos ossos, do sangue e da pele, e fazer do Homem um ser tão alto quanto a sua imaginação é tornar-se, tão simplesmente, matéria de sonho. Porque, até certo ponto, ou talvez a partir dele, nós somos aquilo que julgamos ser, aquilo em que acreditamos acima de tudo, mesmo as nossas dúvidas.
Somos, tão claramente, a matéria dos nossos sonhos! E aquele que sonhar mais, tornar-se-á mais alto, mais forte, mais capaz.
Com o "Big Fish", de Tim Burton, aprendi uma daquelas lições que sabemos que nunca esqueceremos, ao contrário das datas e dos nomes empilhados em alguma aula de história. Aprendi que um peixinho dourado pode ultrapassar até 4 vezes o seu tamanho normal se não estiver num daqueles aquários pequeninos em que gostamos de os enfiar.
O significado era claro: aquele que sonhar mais alto, aquele que se permitir ir mais longe, crescerá. Os outros, estarão condenados ao seu tamanho vulgar de homens, com a certeza de que a comida chegará, por fim, e a água será mudada, os limos retirados, o oxigénio renovado.
Os filmes do Tim Burton são, quase sempre, sobre a diferença e sobre a magia. Não a magia das bruxas ou dos deuses, se bem que estejam repletos de personagens fantásticas, mas sobre a magia de acreditar, que se reflecte precisamente nessas personagens. Até que ponto és capaz de acreditar? Até que ponto és capaz de deixar que este filme, tão surreal, se embranhe nos teus laços de realidade e se torne tão táctil como a tua própria pele?
Ousar acreditar, permitir-se acreditar. Acreditar é arriscar, e uma das perguntas mais pessoais que se podem fazer a alguém é precisamente: acreditas? Haverá algo mais forte, mais poderoso que as nossas crenças?
A história é feita de guerras travadas em nome de crenças. E a história da nossa vida, acredito, é feita, não daquilo em que acreditamos, mas da nossa capacidade de acreditar, da própria essência da crença e, claro, do sonho.
Ignorar, assim, tão ferozmente, a ciência da carne e dos ossos, do sangue e da pele, e fazer do Homem um ser tão alto quanto a sua imaginação é tornar-se, tão simplesmente, matéria de sonho. Porque, até certo ponto, ou talvez a partir dele, nós somos aquilo que julgamos ser, aquilo em que acreditamos acima de tudo, mesmo as nossas dúvidas.
Somos, tão claramente, a matéria dos nossos sonhos! E aquele que sonhar mais, tornar-se-á mais alto, mais forte, mais capaz.
Com o "Big Fish", de Tim Burton, aprendi uma daquelas lições que sabemos que nunca esqueceremos, ao contrário das datas e dos nomes empilhados em alguma aula de história. Aprendi que um peixinho dourado pode ultrapassar até 4 vezes o seu tamanho normal se não estiver num daqueles aquários pequeninos em que gostamos de os enfiar.
O significado era claro: aquele que sonhar mais alto, aquele que se permitir ir mais longe, crescerá. Os outros, estarão condenados ao seu tamanho vulgar de homens, com a certeza de que a comida chegará, por fim, e a água será mudada, os limos retirados, o oxigénio renovado.
Os filmes do Tim Burton são, quase sempre, sobre a diferença e sobre a magia. Não a magia das bruxas ou dos deuses, se bem que estejam repletos de personagens fantásticas, mas sobre a magia de acreditar, que se reflecte precisamente nessas personagens. Até que ponto és capaz de acreditar? Até que ponto és capaz de deixar que este filme, tão surreal, se embranhe nos teus laços de realidade e se torne tão táctil como a tua própria pele?
Ousar acreditar, permitir-se acreditar. Acreditar é arriscar, e uma das perguntas mais pessoais que se podem fazer a alguém é precisamente: acreditas? Haverá algo mais forte, mais poderoso que as nossas crenças?
A história é feita de guerras travadas em nome de crenças. E a história da nossa vida, acredito, é feita, não daquilo em que acreditamos, mas da nossa capacidade de acreditar, da própria essência da crença e, claro, do sonho.
Sunday, September 09, 2007
A estação parva
Está acabado. Já nem se digna a brilhar de forma igual, o sol. Sabe que está quase, quase no fim, e vai se deixando dormir, enquanto nós, quase a iniciar mais um ano lectivo, suplicamos por uns últimos dias de calor tórrido e banhos de mar.
E chega o Outono. O Outono é aquela estação que considero a mais parva de todas. Sim, é uma estação parva, em que não acontece nada de especial para além de cairem folhas das árvores. No Inverno sempre há chuva torrencial e ventos arrasadores, e na Primavera nascem os bichinhos e as flores... mas e no Outono? O Outono é melancolia e saudade, com os últimos vestígios do Verão que passou e os primeiros sinais do Inverno que aí vem. No Outono não há celebrações engraçadas, tirando o S. Martinho que já quase ninguém celebra. Não há roupa de Outono. Não há emoção no Outono. Não há gritos no Outono (tirando os dos vizinhos do outro lado da rua que se ouvem todo o ano).
Está bem, é sempre engraçado pisar as folhas secas nas ruas, a estalarem debaixo dos pés. E é verdade que o Outono tem cores bonitas, douradas e sagradas. E tem o cheirinho das castanhas assadas à entrada da estação de comboios, cada ano mais inflaccionadas e por isso cada vez menos procuradas.
Alguém diz que a sua estação preferida é o Outono? O Outono, tão impávido e sereno, tão quieto e calado, tão triste a lembrar-nos o fim de tudo com as árvores carecas que nos sussuram: "um dia vais ser tuuuuuuu!"
Talvez um dia encontre um estado de alma tão harmonioso que o Outono se tornará uma estação como a outras. Talvez este ano me surpreenda a admirar a quietude dos dias castanhos e me alegre pela calma à minha volta. Talvez este ano o Outono me deslumbre, com ventos mansos e chuvas miúdas. Talvez um dia se descubra que a Terra é mesmo plana. Talvez. Quem sabe?
Talvez esteja apenas desiludida com o fim do Verão e a despejar toda a minha revolta e tristeza contra o pobre Outono que não tem culpa de nada...
E chega o Outono. O Outono é aquela estação que considero a mais parva de todas. Sim, é uma estação parva, em que não acontece nada de especial para além de cairem folhas das árvores. No Inverno sempre há chuva torrencial e ventos arrasadores, e na Primavera nascem os bichinhos e as flores... mas e no Outono? O Outono é melancolia e saudade, com os últimos vestígios do Verão que passou e os primeiros sinais do Inverno que aí vem. No Outono não há celebrações engraçadas, tirando o S. Martinho que já quase ninguém celebra. Não há roupa de Outono. Não há emoção no Outono. Não há gritos no Outono (tirando os dos vizinhos do outro lado da rua que se ouvem todo o ano).
Está bem, é sempre engraçado pisar as folhas secas nas ruas, a estalarem debaixo dos pés. E é verdade que o Outono tem cores bonitas, douradas e sagradas. E tem o cheirinho das castanhas assadas à entrada da estação de comboios, cada ano mais inflaccionadas e por isso cada vez menos procuradas.
Alguém diz que a sua estação preferida é o Outono? O Outono, tão impávido e sereno, tão quieto e calado, tão triste a lembrar-nos o fim de tudo com as árvores carecas que nos sussuram: "um dia vais ser tuuuuuuu!"
Talvez um dia encontre um estado de alma tão harmonioso que o Outono se tornará uma estação como a outras. Talvez este ano me surpreenda a admirar a quietude dos dias castanhos e me alegre pela calma à minha volta. Talvez este ano o Outono me deslumbre, com ventos mansos e chuvas miúdas. Talvez um dia se descubra que a Terra é mesmo plana. Talvez. Quem sabe?
Talvez esteja apenas desiludida com o fim do Verão e a despejar toda a minha revolta e tristeza contra o pobre Outono que não tem culpa de nada...
Friday, September 07, 2007
Ad.... ainda não te vou dizer Ad...Verão!
Estou a escrever a partir de um portátil que não é meu, usando uma rede sem fios que não é minha. Maravilha dos tempos modernos, a internet é a forma mais fácil de pedir emprestadado. Dezenas de redes desprotegidas convidam-me a ligar-me à internet a partir delas. Ora e como quem é bem educado não recusa assim convites, cá estou eu, graças a um vizinho qualquer, a escrever do meu quartinho para o mundo.
Tinha saudades de um portátil. O meu andava revoltado, cuspiu duas teclas, foi para a marca para aprender a ser mais subserviente. Mas, confesso, a sua atitude de menino rebelde conquistou-me. Olhei-o com severidade, arqueei a sobrancelha com ar zangado, mas por dentro alegrava-me saber que o meu portátil tem personalidade. Levava porrada nas teclas todos os dias, até que chegou a hora que se cansou, e, sem ai nem ui, cuspiu-me duas teclas para eu aprender.
E o que me traz aqui para escrever hoje senão o prazer de usufruir da net do vizinho? Pouco. Ando melancólica com o fim do Verão, sempre que começo a escrever sinto um apertozinho no coração, porque sei que está perto, tão perto, a hora de dizer adeus à minha estação mágica. Valeu por todos os momentos, pelo sol na barriga, pelos vidros abertos e o cabelo esvoaçante, pelo sabor a sal no regresso a casa, pelos chinelos à noite, pelo tereré feito num impulso nuns hippies demasiado novos para o poderem ser de facto, pelas noites em alerta à espera de estrelas, cometas e Marte, pela "Sangria da Alegria" que teve até direito a hino, pelos pés do lado de fora do carro, pelas canções que se tornaram promessas inocentes ("Jura que não vais ter uma...." :P), por todos os sítios e acima de tudo por todas as PESSOAS que tornaram este Verão um hino à vida, à alegria e à amizade.
Tinha saudades de um portátil. O meu andava revoltado, cuspiu duas teclas, foi para a marca para aprender a ser mais subserviente. Mas, confesso, a sua atitude de menino rebelde conquistou-me. Olhei-o com severidade, arqueei a sobrancelha com ar zangado, mas por dentro alegrava-me saber que o meu portátil tem personalidade. Levava porrada nas teclas todos os dias, até que chegou a hora que se cansou, e, sem ai nem ui, cuspiu-me duas teclas para eu aprender.
E o que me traz aqui para escrever hoje senão o prazer de usufruir da net do vizinho? Pouco. Ando melancólica com o fim do Verão, sempre que começo a escrever sinto um apertozinho no coração, porque sei que está perto, tão perto, a hora de dizer adeus à minha estação mágica. Valeu por todos os momentos, pelo sol na barriga, pelos vidros abertos e o cabelo esvoaçante, pelo sabor a sal no regresso a casa, pelos chinelos à noite, pelo tereré feito num impulso nuns hippies demasiado novos para o poderem ser de facto, pelas noites em alerta à espera de estrelas, cometas e Marte, pela "Sangria da Alegria" que teve até direito a hino, pelos pés do lado de fora do carro, pelas canções que se tornaram promessas inocentes ("Jura que não vais ter uma...." :P), por todos os sítios e acima de tudo por todas as PESSOAS que tornaram este Verão um hino à vida, à alegria e à amizade.
Subscribe to:
Posts (Atom)