Há dias maus. Ou dias mais ou menos, vá. Em que só queríamos a cama, uma tarde de cinema típica de domingo com as comédias de sempre a passar em dose de elefante, o pijama de flanela e o aquecedor na potência máxima, só desta vez, porque até nos preocupamos com o consumo de energia e o fim do mundo.
Nestes dias, ou temos a coragem de nos atirarmos pelas escadas e, assim, sermos forçados a ficar em casa (ora, bolas!), ou, como o comum dos mortais, arrastamo-nos entre as torradas e o café com leite, a escova dos dentes e o casaco, e enfrentamos a chuva, o nevoeiro e o frio como bravos guerreiros vikings.
Mas também há dias de vacas na Praça de Espanha. Quando conduzimos quase em piloto-automático, alguém ao nosso lado grita: OLHA UMA VACA! e nós esperamos, a qualquer momento, embater com uma tonelada de manchas pretas e brancas. (quanto pesará uma vaca? google: "peso vaca" - cerca de 400 kgs) Afinal, não há embate. Quatro ou cinco vaquinhas limitam-se a pastar em plena Praça de Espanha, num metro quadrado de relva, à chuva e sob os gases dos tubos de escape dos carros que abrandam para espreitar estes espécimes raros na capital.
É nestes dias que a minha secretária excessivamente desarrumada (a mais desarrumada da área, já conferi) me irrita ao ponto de quase acreditar que alguém a desarruma todas as noites só pelo gozo de me chatear. Os jornais com 3 meses empilhados à esquerda parecem-me apenas potenciais formas de atear um fogo e as migalhas das bolachas que acabei de comer são motivo suficiente para dar um raspanete à senhora das limpezas que saiu daqui há uma hora...
Nestes dias mais ou menos, tudo o que eu quero é chegar a casa, tirar as botas, afundar-me no sofá e fingir que passei o dia inteiro assim. Mas, assim, não tinha visto as vacas e tinha perdido o acontecimento da semana em Lisboa...
Monday, January 19, 2009
Thursday, January 15, 2009
Sinfonia da melancolia
Passos.
Uma última palavra esvoaçante entre os braços.
Uma só, depressa
antes que, de repente, alguém apareça!
Antes que a luz descubra, por completo, os prédios e as casas
em frente dos quais as palavras se tornaram gestos
e os gestos ganharam asas.
Antes que o coração desta terra volte a bater
e a gente encha as ruas, caminhando sem se deter.
Sacos nas mãos, saltos nos pés, sonhos guardados
- quando é que nos tornámos tão estranhos e errados?
Antes que as pontes ameacem ruir,
e ninguém pare para as ver no momento de cair.
Antes que os destroços de pedra se misturem com os destroços de nós
e que o ruído de mil passos nos abafe e cale a voz.
Quando?
Quando é que cegámos por completo?
Cidades inteiras perdidas em cegueiras que passam por um defeito discreto.
Quando é que nos tornámos tão sós?
Quando é que todos os outros passaram a ser tão diferentes de nós?
Não são passos que escuto em torno de mim:
é a sinfonia de uma inteira melancolia feita de notas que são as gentes assim.
Thursday, January 08, 2009
Richness For Dummies
"There's plenty of money out there. They print more every day. But this ticket, there's only five of them in the whole world, and that's all there's ever going to be. Only a dummy would give this up for something as common as money. Are you a dummy?"
(Grandpa George em "Charlie and the Chocolate Factory", 2005)
Subscribe to:
Posts (Atom)