Já nem sei bem como dei com ele. Era para começar um artigo? Sim, era isso, numa busca feliz pelo Google, daquelas que eu tanto gosto de fazer.
Basicamente, é uma compilação das frases feitas a evitar pela mocidade da Juventude Popular e, garanto-vos, é qualquer coisa a que ninguém deve ficar indiferente. Muito menos os jornalistas, cujo trabalho passa, tantas vezes, por lidar com clichés destes.
Ora segue um exemplo:
“ISSO É RELATIVO” – Outra das modas mais eficazes tem sido o uso desta ideia e, sobretudo, os equívocos causados pela utilização incorrecta da palavra “relativo”. Com efeito, em primeira análise, esta significa que se refere ao que tenha relação com alguém ou alguma coisa. Mas não é esse o sentido primordial da sua constante invocação. Na verdade, o rótulo de “relativo” aposto a todas as situações, circunstâncias e problemas, significa, tão só, que se pretende exorcizar tudo o que seja absoluto e, de preferência, apelidá-lo de dogmático ou obscurantista (...) De facto, dá jeito que tudo seja relativo. Não compromete, não limita, nem obriga. A frase “O consumo da droga é um mal, faz mal e pode matar.” é disso um bom exemplo. Os nossos folclóricos amigos do Bloco de Esquerda seriam, decerto, os primeiros a explicar o carácter relativo desta afirmação. Que até nem é bem assim. Que há drogas duras e outras leves. Que umas até nem fazem mal. Que o mal, esse, também é relativo. E, de um momento para o outro, um facto fundado em pesquisas, estatísticas e evidências práticas tornar-se-ia um assunto discutível"
(O bold é meu. As gargalhadas também.)
Sigamos...
“ESTÁ CIENTIFICAMENTE PROVADO QUE” – Forma curiosa de discutir problemas políticos é, seguramente, o recorrente recurso à expressão “está cientificamente provado que”... Esta expressão, na esteira de “magister dixit”, significa que quem alega um facto ou teoria e não se quer maçar com a prova dos mesmos, informa o seu interlocutor que já alguém se deu anteriormente a essa maçada e, curiosamente, pendeu para o seu lado.
Mas esperem lá... não foram eles os mesmos que escreveram:
"E, de um momento para o outro, um facto fundado em pesquisas, estatísticas e evidências práticas tornar-se-ia um assunto discutível."
(bold meu. gargalhadas minhas. Outra vez)
Leiam, leiam: http://juventudepopular.org/formacao/formacaopolitica/guia_pratico_das_frases_feitas.doc
Thursday, April 29, 2010
Wednesday, April 21, 2010
Danos colaterais
"Mamã, ensinas-me a dança do vento*? E a do sol e da chuva?"
(a cria, depois de mais um episódio de Achas Que Sabes Dançar?)
*para quem não está habituado a decifrar estas coisas, entenda-se "dança do ventre"
(a cria, depois de mais um episódio de Achas Que Sabes Dançar?)
*para quem não está habituado a decifrar estas coisas, entenda-se "dança do ventre"
Thursday, April 01, 2010
Quando partilhávamos palavras, era como se o mundo ruisse, em desassossego. Como se toda a inocência depositada sobre os lábios fosse suficiente para travar o contínuo girar da Terra e fazê-la quebrar-se sobre si mesma.
Quando partilhávamos palavras, tudo o resto era nada. Todos os outros desapareciam, cobertos pela banalidade, todos os sons emudeciam, como se nada fosse mais doce que os nossos "um dia". Deitavas palavras ao ar como quem atira pétalas de um malmequer, e eu seguia-as com os olhos até se perderem para sempre dentro de mim.
Caminhávamos juntos, devagar, com a sabedoria daqueles que já aprenderam que a vida passa demasiado depressa para que nos tentemos adiantar a ela, esculpindo cada sombra com o olhar, aprendendo novas línguas: a das flores, a do vento, a da chuva, a do tempo.
E depois dizias-me que tivesse cuidado, mas sempre incitando-me com os olhos a dar mais um passo, a vencer o medo dos espinhos, a aprender a segurar a terra com as mãos.
E nós gritávamos "És o melhor avô do mundo!", de olhos fechados, sentido o vento levantar-nos os cabelos enquanto o chão passava, veloz, sob os nossos pés.
Escutavas cada concerto com paciência, lias cada frase com um sorriso de orgulho, aplaudias cada novo talento como se fôssemos capazes de tudo. Guardavas cartões e desenhos como tesouros, no bolso da camisa, dobrados em quatro. Acreditavas que éramos capazes de tudo, não era, avô? E se alguém me ensinou a sonhar, foste tu. Agora, eu também acredito.
Quando partilhávamos palavras, tudo o resto era nada. Todos os outros desapareciam, cobertos pela banalidade, todos os sons emudeciam, como se nada fosse mais doce que os nossos "um dia". Deitavas palavras ao ar como quem atira pétalas de um malmequer, e eu seguia-as com os olhos até se perderem para sempre dentro de mim.
Caminhávamos juntos, devagar, com a sabedoria daqueles que já aprenderam que a vida passa demasiado depressa para que nos tentemos adiantar a ela, esculpindo cada sombra com o olhar, aprendendo novas línguas: a das flores, a do vento, a da chuva, a do tempo.
E depois dizias-me que tivesse cuidado, mas sempre incitando-me com os olhos a dar mais um passo, a vencer o medo dos espinhos, a aprender a segurar a terra com as mãos.
E nós gritávamos "És o melhor avô do mundo!", de olhos fechados, sentido o vento levantar-nos os cabelos enquanto o chão passava, veloz, sob os nossos pés.
Escutavas cada concerto com paciência, lias cada frase com um sorriso de orgulho, aplaudias cada novo talento como se fôssemos capazes de tudo. Guardavas cartões e desenhos como tesouros, no bolso da camisa, dobrados em quatro. Acreditavas que éramos capazes de tudo, não era, avô? E se alguém me ensinou a sonhar, foste tu. Agora, eu também acredito.
Subscribe to:
Posts (Atom)