Wednesday, February 09, 2011
Monday, February 07, 2011
Thursday, February 03, 2011
Para si, X
Exma pessoa que me rogou a praga,
Venho por este meio tranquilizá-la e dizer que tudo parece estar a correr de acordo com o previsto. Primeiro achei que ia ficar paralisada mas, vai-se a ver, e afinal parece que é só uma gripezinha daquelas que atiram uma pessoa para a cama com febres de 39º, tremores inspirados nesse grande êxito que é o Exorcista e dores musculares. Muito eficaz também a coisa da Máxima Interiores. Não basta pôr uma pessoa a contorcer-se: há que garantir que o dano não se soluciona com uns simples comprimidos e, por isso, toca de fechar a revista. É preciso reconhecer que esteve bastante bem: por acaso foi um dos sítios onde mais gostei de trabalhar. Gostei mesmo – das pessoas, da linha editorial, do lugar e da revista, que era, pura e simplesmente, linda. E atribuir à minha filha um trabalho sobre a Islândia no dia em que eu tinha quase 40º de febre foi, muito basicamente, de génio! Não há nada como estarmos prestes a desmaiar enquanto pesquisamos a gastronomia tradicional de um país onde se apreciam iguarias como tubarão podre e salsicha de fígado de ovelha!
Ainda assim, caro/a X, temo que o seu plano esteja condenado a falhar, no fim. Uma das vantagens de sermos jovens é acharmos que temos o futuro inteiro pela frente. Somos estúpidos, sonhadores e esperançosos. Somos ingénuos, sim, e acreditamos que, mais tarde ou mais cedo, tudo vai ficar bem. O trabalho foi feito e apresentado e o Porramatur – o prato tradicional da Islândia, esclareça-se – fez um sucesso tremendo entre as crianças, que gritaram "porra! porra!" a aula inteira. A febre baixou e já me consigo aguentar de pé. Os contactos começaram a aparecer e as oportunidades vão chegando, devagarinho, mas com um brilhozinho de luz no fundo do túnel. Acho que hoje, num acto de profunda loucura, até vou voltar a vestir uma roupa decente e abandonar as sweatshirts XXL com que defini todo o meu guarda-roupa esta semana! Ainda me dão uns tremores, ainda me sinto mais para lá que para cá, mas a vida tem momentos destes. E, espreitando o lado menos negativo, isto teve mais ou menos o efeito de uma dieta caríssima: foram 3 dias quase sem comer, à base de sopas e chás, e de certeza que uns bons 2 ou 3kg já lá vão – adeuzinho, não voltem, não sentiremos a vossa falta. Nem a sua, estimado/a X. Arranje uma vida, plante umas árvores, escreva uns livros e, se não for um acto de profunda crueldade contra a humanidade, tenha um filho. Enfim, seja feliz. Eu, por cá, garanto-lhe que farei o mesmo.