Dia de fecho.
Oscila entre a loucura e a pasmaceira. Entre o corre-corre e o estar sentada durante horas, nas escadinhas, a apanhar sol, a fumar cigarros e a comer cerejas. Os dias de fecho têm cheiro. É o cheiro da tinta dos prints e plotters, dos marcadores fluorescentes a marcar notas e apontamentos nas margens, do dia que se vai transformando em noite e nós cá dentro, às vezes, no Verão quase nunca, a olhar para o ecrã, absortas das mudanças que se vão dando do outro lado da janela.
Dias de fecho são dias de cortar palavras aos textos. Às vezes parágrafos inteiros, outras vezes são textos dentro do texto que desaparecem, sem sequer deixarem vestígio de algum dia terem existido. Substituem-se palavras perfeitas por outras mais curtas. Sinónimos. Isso não existe. Isso não há.
São dias de corte e costura, de cansaço que traz olheiras, dores de costas, pescoços que estalam, olhos que ardem, zumbido nos ouvidos, roupa que cola e cadeiras que se moldam ao corpo. É a minha cadeira. E se não é confortável é porque o meu corpo não gosta do seu próprio molde. Culpa dele.
Dia de fecho é de “boa sorte”, de “escreveste tanto!”, de “não podemos aumentar um bocadinho a caixa de texto?” de bateres de pestanas suplicantes, vitórias às vezes, derrotas muitas mais, um “uffa” no fim antes da próxima guilhotina. São dias de isqueiros que flutuam entre nós, emprestados, perdidos, não tem dono? ah, é meu!, e o meu isqueiro? – is...quê? Viagens à máquina para ver os snacks que ainda estão dentro do prazo e depois esmurrá-la quando eles não caem, de ir à Maria Delícia comer uma fatia de bolo de bolacha, de arrumar a secretária que ficará novamente caótica na semana seguinte.
Dia de fecho – como é que alguém pode viver isto todos os dias?!
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