"Nunca mais escreveste"
Escrevo, pai, olha para mim. Sei que te disse que, para escrever, há que haver tempo. Que escrever para pagar as contas me esgotava as palavras. Mas a verdade é que, mais que tempo, há que haver espaço, uma medida exacta dele. Um dia, tudo o que temos é uma confusão de letras e frases feitas e deixamos de ser capazes de encontrar quem somos. Queremos escrever - eu queria escrever - mas já não sabia de mim.
Tenho quase medo de voltar e perceber que, afinal, não estava pronta. Que foi só o tempo a brincar comigo, que se vão passar mais seis meses antes de conseguir voltar a pôr qualquer coisa decente sobre o ecrã, que me vou voltar a aninhar no espaço das palavras inúteis, dos clichés, que isto de crescer nos mata mais do que queremos admitir.
Mas hoje as palavras alinharam-se e vou aceitá-las. Amanhã, logo vemos.
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