Existem algumas pessoas que, sem razão aparente, cruzam as nossas vidas. Aqueles com quem apanhamos o comboio ou por quem passamos na rua quase todos os dias. Anónimos muitas vezes mais familiares do que muitos conhecidos, reconhecemos-lhes os traços, aprendemos-lhes os nomes, descobrimos-lhes histórias por entres frases soltas. Como o Zé Mário. O rapaz de 29 anos, barba por fazer, que reclama da vida em voz alta quando vai no metro. Que fez o curso de informática e não lhe deram emprego: "os jovens precisam de emprego!", grita enquanto bate com a mão no vidro, revoltado. O Zé Mário tem uma doença, é óbvio, mas talvez isso o torne mais lúcido. Não engole a revolta, não cala a mágoa, não recalca o desespero. Ao contrário de nós, de lábios cerrados e testa franzida, o Zé Mário diz o que pensa, o que muitos de nós pensam, e faz rir alguns, mais jovens, e tremer outras, mais velhinhas.
"Mas que porcaria é esta?!", inquiria a plenos pulmões há uns poucos dias. E as velhinhas afastavam-se dele, chapéus-de-chuva na mão não fosse ele passar-se e saltar para cima delas. É que, infelizmente, hoje já não se diz o que se pensa. Hoje o normal é calar, aturar, deprimir, recalcar, envelhecer, amargurar. E é por ser tão fora do normal que o Zé Mário se tornou especial.
2 comments:
Faz-me lembrar o conto "O sonho de um homem ridículo", de F. Dostoievsky. O sonhador, o que delirava e que todos chamavam de ridículo era o único que por se libertar do mundano, do imediato, não era ridículo como o homem "normal".
Obrigado por este minuto silencioso em que lendo um texto ecoou na minha consciência um estrondo que nem Hiroshima. :)
Foi por causa duma dessas pessoas q se cruzam na nossa vida q eu me vi forçada a mudar de parque de estacionamento pq o arrumador era mau pra mim e começou a gritar cmg uma vez. Ag no meu novo parque estou mt mais satisfeita pq o arrumador diz-me tds os dias "Vah n t quero ver triste, estás cada dia mais bonita" se continuar assim, no fim de 2008 prevejo que serei a mulher mais linda do planeta!
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