“É strike. Como o Lucky Strike mas sem o Lucky: é assim que se diz greve em inglês.”
Desligou o telefone. A frase fez-me olhar outra vez para ele: de cabelo comprido, barba, bigode, óculos de sol à John Lennon. Um hippie com os seus cinquenta anos que ensinava greves em inglês pelo telefone, auxiliando-se de uma marca de tabaco, enquanto conduzia o táxi pela A5. No rádio tocava música clássica: ele ia tamborilando os dedos sobre o volante, num teclado invisível.
Pensei como seria há trinta anos. E como o seu passado se parecia reflectir no seu presente. Quase todos os hippies ficaram nas fotografias. Enterrados em baús de calças à boca de sino e camisas coloridas. Um bilhete de um concerto, alguns discos, pedaços de poemas escritos em pacotes de açúcar.
Queria perguntar-lhe como era o mundo quando ele tinha 23 anos, como eu. Que mais palavras se faziam a partir dos maços de tabaco: King’s, Double Happiness, Silk Cut... E desejar-lhe que a sua strike também fosse cheia de sorte, como a do maço de tabaco.
Mas limitei-me ao bom dia, depois de pagar.
1 comment:
É verdade. Vamos passando pelo tempo e ficam pedaços de nós nas fotografias que vão amarelecendo até desaparecer...até nos esquecermos de quem somos.
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