Thursday, October 25, 2007

Debaixo da cama

Debaixo da cama não há fantasmas. E, ainda assim, hesito antes de espreitar, uma fracção de segundo em que o coração pára de bombear vida e se cala para não perturbar o mundo dos mortos.
Debaixo da cama há o pó, as canetas que rebolaram, ligeiras, até à parede mais afastada, os arranhões que o aspirador não teve pudor em fazer na madeira brilhante.
Espreito. Devagar, não vão eles fugir. A mão que levanta a colcha como se abrisse a cortina para um outro mundo, púrpura e silencioso. Os olhos habituam-se à escuridão que reina ali, debaixo da cama, onde tudo é possível. Por momentos... Não.
Debaixo da cama há pó, canetas, arranhões, o bilhete de comboio que caiu do bolso das calças. Mas poderia jurar que, antes dos meus olhos se habituarem ao escuro, vi dezenas de formas, centenas de rostos, milhares de gestos. Antes dos meus olhos se habituarem à luz do nosso mundo, que nos cega e ampara, nos acalma o espírito e nos tranquiliza os medos com ciências exactas...

Wednesday, October 24, 2007

Partes de mim


Sei que parte de mim viverá eternamente insatisfeita. Parte de mim, a das asas que batem contra as grades da gaiola dourada, quererá sempre mais, ansiosa de ver para além do horizonte onde acaba o mundo plano e ele se torna redondo. Parte de mim lamentará, até ao fim dos meus dias, não ter visto cada estrada,cada pedra,cada rosto. Essa parte de mim chorará baixinho, frustrada nas suas expectativas de conhecer o mundo. Revoltar-se-à contra a pequenez do homem, a sua efemeridade, as limitações físicas que envolvem a sua alma gigante.
Mas também sei que a minha outra parte, a dos murmúrios dos dias simples, me levará mais longe do que alguma vez os pés mo permitirão. Dir-me-à, procurando um sorriso pleno, que tudo aquilo que um homem pode desejar se situa à sua volta, nas coisas mais simples, nas pessoas mais próximas. Que tudo aquilo que um homem pode, de facto, possuir, será para sempre seu, inviolável mas frágil, parte de si como o próprio sangue que lhe corre nas veias e lhe dá vida. Que dos recortes do mundo, qual trabalho de colagem, levará apenas aqueles que lhe tocarem a alma e não os que lhe marcarem o corpo. E que a minha alma, essa, poderá sempre encher-se um pouco mais e beber das coisas quotidianas que nascem, todos os dias, diferentes.

Tuesday, October 23, 2007

Pé, pézinho, pézão!


Os dedos dos pés ficam para trás. Não sei o que se passa, mas dede pequenina que tenho o hábito de bater com os dedos pequeninos dos pés em todo o lado. Estão tortos e encurvados como o Corcunda de Notre Dame (que imagem tão sexy!).

Se calhar, eles andam depressa demais. Tal como o Gino de "Ossessione", os meus pés têm um formigueiro permanente que os faz "flanêurs" por aí, loucos embriagados que vão contra portas sem nunca, no entanto, pararem de avançar.

Eu vou e venho e mesmo quando fico estou em movimento. Os meus pés estão sempre a bater em algum lado, a sentir um ritmo que não se ouve, a balançar debaixo do assento de uma cadeira, a rodar nos tornozelos num gesto zen, a apanhar as coisas que caem quando não tenho paciência para me baixar.

Os meus pés hiper desenvolvidos calçam o 35/36 e passam despercebidos na grande metrópole dos pés. Não usam mata-baratas (vulgos sapatos bicudos) nem nada que os possa disfarçar. Eles gostam mesmo é do chinelo, dedos de fora a saborear o vento, a terra e as pisadelas de vez em quando.

Os meus pés são simples, humildes, trilham o seu caminho rés ao chão. Permitem-se, de vez em quando, delírios de pinos e rodas (a última correu bastante mal e desde aí andam algo medricas), e amam andar de fora da janela, no carro. São pés que sonham vaguear pelo mundo inteiro, mesmo que a maioria das vezes apenas o façam directamente do sofá. São pés que hesitam entre o buraco e a poça, e que, às vezes, quando ninguém está a olhar, saltam como bailarinas entre as pedras da calçada, com risinhos de desafio à ordem estabelecida. Gostam de se descalçar, sentir o frio, o quente, o áspero, o suave, o nivelado, o desiquilíbrio, a relva, a areia, o mar, a estrada que ferve no verão.

O meus pés sonham tão alto quanto a minha cabeça e por isso, quando tudo o resto falha, basta-me fechar os olhos e deixar que eles me levem até onde a terra é mais fértil.


Monday, October 22, 2007

Jean-Poisson-Vodka e seu fiel amigo Jorge

Ele tinha um sonho simples: tornar-se o primeiro homem a aprender a falar a língua dos peixes. Desejava-o, não pelo dinheiro que poderia ganhar, não pela fama, mas porque todos os seus peixinhos de aquário morriam depressa e ele vivia intrigado com aquilo.
Começou por observar a interacção no seu casal de peixinhos dourados, ignorando o sexo de casa um e as suas tendências sexuais, sem saber mesmo se haveria ali romance ou não. Anotava num caderno cada gesto, cada abrir e fechar da boca (excepto quando comiam pois partia do princípio que eram peixes da mais fina educação), cada atirar da barbatana mais sedutor.
Passados 2 anos já era capaz de travar com eles (não com os primeiros que esses, claro, já tinham morrido) uma conversa básica, sem ser capaz, no entanto, de perguntar o porquê da sua morte precipitada.
Até que chegou ao seu aquário o mais belo espécime que alguma vez vira: um peixe dourado que falava brilhantemente o russo e o francês e que usava um bigodinho chiquérrimo a condizer. Em desespero, confirmou que nem mesmo o mais brilhante dos peixes lhe sabia responder.
Jorge morreu pouco tempo depois. O peixe russo-francês sobreviveu por muitos e longos anos, e decidiu aprender a língua dos homens de modo a perceber o que tinha sucedido ao seu dono.
Nenhum dos dois foi capaz de compreender. É que o peixe não possuía a consciência de finitude e mortalidade: para o peixe, todos os dias eram iguais e quando morreu engasgado com um bocado de ração nem se apercebeu do seu fim eminente, recusando-se a gritar ou algo do género, porque, bem, ele era educado e não falava de boca cheia. Já o Jorge não compreendia que o conceito da morte era inexplicável para o Jean-Poisson-Vodka (o nome do peixe educado!), que por isso, por mais educado e poliglota que fosse, nunca seria capaz de explicar ao seu dono o porquê da sua curta vida, até porque ele não sabia o que era curto ou longo, visto que não tinha a noção do tempo.
E então, perguntam vocês, como podia um peixe tão limitado falar duas línguas e saber regras de etiqueta? Também eu me indaguei, noites e dias, sobre tão estranha possibilidade. Não sei, julgo que, se quiserem mesmo descobrir, terão de aprender a língua dos peixes.

Wednesday, October 17, 2007

RIP monstro das bolachas


Andava eu pelo youtube, perdida entre os vídeos da Rua Sésamo, num regresso ao passado inocente e descontraído, quando me deparei com uma notícia terrível: a morte anunciada do senhor Monstro das Bolachas.

Aparentemente, era este monstrinho azul o culpado pela obesidade nos EUA. Claro, como é que ninguém se apercebeu disso antes? Resta saber como vai ele morrer: engasgado com uma bolacha gigante? Gordo e redondo, começa a rebolar pela estrada até ser atropelado? Qualquer uma destas mortes parece demasiado piedosa para este produto do demo, que continua a incentivar as pequenas crianças, inocentes meninos que passam as tardes a jogar jogos de tiros e sangue espalhado pelo ecrã, a comerem bolachas. BOLACHAS! Ainda se fosse uma cervejinha ou duas, ainda se perdoava, mas bolachas é demais!

Assim sendo, o monstro das bolachas será simbolicamente executado, transformando-se em monstro... dos legumes. Ahahah nada mais divertido: "bem, que fomeca! Vou ali comer uma folhinha de alface! Não querem uma também, meninos?".

É importante mudar os hábitos alimentares das crianças, cada vez mais gordas, mas será que esses hábitos foram adquiridos do monstro das bolachas ou dos pais?

Monstro das Bolachas, CULPADO! Metam-no na prisão, dêem o exemplo, comecem também a pôr o Poupas a fazer uns assaltos e a acabar na choça e o sapo Cocas devia apanhar uma cirrose para as crianças saberem que não se deve beber álcool em demasia.

Realmente, às vezes parece-me que o meu tempo de criança já foi mesmo há muuuuito tempo. E tendo em conta tudo isto, ainda bem.

Orgulho

É uma questão de auto-estima, amor próprio. Ama-te a ti mesmo, orgulha-te de ti. Tenho orgulho da pessoa que sou, mesmo com as minhas falhas e limitações, mesmo com os meus erros. Poderia ter sido qualquer outra pessoa mas tenho orgulho, orgulho em ser eu, em ser a criatura que sou. Obrigada vaquinha por me teres recordado isso!! Ouçam e depois digam lá se não estão orgulhosos de vós mesmos!
E obrigado ao maluco que ainda conspira comigo ao ponto de me mostrar estas coisas.
Somos TÃO grandes assim :D



eu poderia ser tanta coisa... mas não sou! E então? lol ela lá sabe ;)

Tuesday, October 16, 2007

A minha doce arrogância

"Só os parvos não mudam nunca de ideias, mas só os fracos mudam à primeira". É uma espécie de lema de vida, para quando as pessoas se revoltam contra a minha "teimosia" (perseverança?).
Quando acredito, acredito. Mas reconheço a minha ignorância, os meus limites, e estou disposta a mudar. Se me conseguirem convencer, claro. Chamem-lhe o que quiserem, mas atiro-vos o meu lema para cima.O meu lema já me valeu discussões, pequenos inimigos, insultos, tachos a voarem pelos ares (talvez esta parte seja imaginada, mas achei que ficava aqui bem!), gotinhas de veneno espalhadas aqui e ali, pelos muitos sítios em que passei.
Entendam como arrogância o facto de não me dobrar às vossas vontades. Entendam como insolência a minha incapacidade de me calar quando acho que tenho razão. "Se calhar, devias calar-te. Não vale a pena". Vale a pena lutar pelo acredito, gritar que o mar não é azul (porra, não é mesmo!!), esbracejar e suar pelos meus ideais.
"Posso não concordar com o que dizes, mas lutarei até à morte pelo direito que tens de o dizer", disse Voltaire. Outro lema que procuro seguir, e manter sempre em mente quando me debruço sobre uma nova discussão (são algo frequentes, fazem parte do quotidiano dos teimosos que insistem em ter ideias próprias! Raios partam esta gente...).
Respeito que haja pessoal que goste de comer peixe crú, mas não o vou comer só porque me dizem que é bom, não é? E se isso chatear alguém, paciência. Posso até provar, mastigar uns segundos, e depois se for preciso vou cuspir no guardanapo, "obrigada mas acho que não".
Sou arrogante por milhões de motivos, e tenho de confessar que gosto de pessoas arrogantes: gosto dos que não vendem a alma para serem amados, dos que se mantêm fiéis a si próprios acima de tudo, dos que fazem t-shirts com lemas e saem com elas à rua. Gosto de ideais, mesmo que sejam o oposto dos meus. Gosto de crenças, mesmo que não tenham nada a ver com as minhas. Gosto de idiotas, no sentido da ideia pura, porque são eles que criam aquilo que depois, os simpáticos, amáveis e educados, vão escolher para defender.
Estou sempre pronta para receber novas ideias e perspectivas. Acima de tudo, cativa-me isso: o processo de "idear", de criar a ideia, de montá-la a partir de milhões de pedacinhos de ideias recebidos de milhões de fontes diferentes e dizer: eu ACREDITO que...
E se estou errada, convence-me. Dá-me uns dias. E, quem sabe, não te ligo de volta?

Dramaaa

Os mais próximos saberão que, para cada momento, tenho uma música. As mais recorrentes são o "Eye of the Tiger", do Rocky Balboa, cantada vezes sem conta nos momentos mais desafiantes, e, claro, o "Fur Elise" quando há drama.
E porque um amigo se lembrou do drama que é a nossa vida repleta de desencontros (parece que nos vamos encontrar por acaso no sábado), fica aqui o vídeo que ele procurou, afincadamente, noite e dia, só para mim.



(Não faças dramaaaaa Mikastrompsky!! A nossa seita há-de governar o mundo lol Seita da ALEGRIA DISPARATADA SEM MOTIVO APARENTE!)

SOS fui raptada!

"Vou-te raptar". Posso dizer que não, visto que até reconheço a voz da raptora, que abdicou dum daqueles aparelhos modernos que distorcem a voz, e ela nem usa meia de vidro na cabeça, o que me permite ver perfeitamente a cara dela. Por motivos de segurança, permanecerá identificada apenas como "a raptora", não vá eu sofrer represálias depois de ter sido resgatada por ninguém, a não ser pela própria raptora que, como a minha mãe sentenciou há vários anos atrás: "eu não tenho medo que te raptem. Devolviam-te logo a seguir!".
Eu tenho aulas, mas o rapto é extremamente bem organizado, envolvendo um carro azul, matrícula portuguesa, e a Beyoncé aos berros no rádio. Como resistir a tamanha violência? Sou forçada a entrar no carro da raptora, que me "convida" ( com extrema violência, é claro) a partir com ela para sítio incerto (embora eu tenha ouvido a palavra "Cascais" por acaso).
Primeiro sou levada para aquilo a que as pessoas chamam de "café", uma cava escura e fria onde me forçam a beber água, embora o sabor não me engane: era um calmante, de certeza, para me forçar a ser mais obediente! Eu nem estou com medo, porque, lá está, conheço a raptora, mas estou desolada por faltar às aulas! Oh pai, estava mesmo triste, a sério, eu bem lutei contra ela, mas ela tinha mais força, e eu não quis ficar sem dentes!
Para minha surpresa, voltamos ao carro, onde está um pacote de Fritos que tenho de comer (talvez para ter algum ataque de excesso de sal no sangue e desmaiar), mas como quando era pequenina me auto-intitulava "A rainha dos fritos" (facto verídico, eu era a rainha dos fritos e do esparregado, e a minha irmã era a rainha da pizza e do chocolate, títulos oficiais reconhecidos pela união europeia!) fingi apenas um leve desmaio e tive oportunidade de ver a segunda raptora, cujo nome será igualmente protegido, e que será referida como "a segunda raptora".
Enquanto me babava para o banco, numa estratégia de simulação perfeita, as minhas raptoras revelaram o seu ponto fraco, ao delirarem com um certo carro com certas pessoas lá dentro, cujo sexo não irei revelar mas posso dizer que não era o nosso (sem revelar nada, claro!). Estava clara qual seria a minha oportunidade de fuga, mas elas tinham trancado as portas e eu estava "desmaiada" e portanto não pude fugir e apanhar o comboio para a faculdade (Bolas!!! Que azar dos diabos!!).
Chegamos a Cascais onde vamos ter com uma advogada (com certeza encarregue de as safar da prisão para onde iriam parar por me terem raptado!), e sou levada para um quiosque onde elas bebem café. É aí que aparece o seu comparsa, um homem só com um dente na boca, que obviamente tinha um affaire com ambas, mas eu fingi que não percebia e que acreditava na cara de nojo que elas fizeram.
Passei o dia em Cascais, forçada a tirar fotos e a fingir-me contente, sempre maldizendo a minha sorte porque tinha tanta vontade de ir às aulas!...
De repente, lembrei-me: e se usasse o meu grito aprendido no Discovery Channel, para comunicar com os animais tipo Tarzan, e pedir-lhes socorro? Aproveitei a distracção das minhas raptoras e comecei a grasnar insistentemente ("ai que tosse horrível ah ah ah") até que uma pequena gaivota (para elas uma gaivota, para mim uma companheira de armas!), começou a atacar as minhas raptoras, fazendo com que elas caissem no chão, ferindo, inclusivamente, um cotovelo que deitou para aí meia gota de sangue!
Ao fim da tarde libertaram-me, depois, claro, de me enfiarem Mac pela goela abaixo apesar dos meus pedidos desesperados: "ai nãããããoooo eu tenho peixinho cozido em casa, não me façam issooooo!".
A verdade, queridas raptoras, é que foi dos melhores raptos de sempre. Perdoo-vos a afasia, as figuras tristes, a violência que ainda hoje me assombra, durante a noite, em pesadelos a preto e branco. Adorei ser vossa refém! Adorei as "lontras", os "cre-pes", as luvas foleiras até aos cotovelos, as poses pirosas no "Paraíso", os fãs histéricos a pedir autógrafos na passadeira vermelha, a manifestação a que não fomos porque não podíamos aparecer na RTP porque senão acabava-se o rapto...
São raptos assim que nos fazem sorrir, rir às gargalhadas, mesmo amordaçadas!

PS - claro que não ir à faculdade me traumatizou e fiquei muito triste!!! (caso estejas a ler, pai!)

Wednesday, October 10, 2007

O vento do Norte

Estranhei a indiferença com que o mundo acordou. Como se já não houvesse luas para onde olhar, nem estrelas para desejar, nem horizontes a alcançar.
Olhei para os lados, e procurei o norte com a ponta do dedo. É lá que o vento é mais frio, porque no Pólo Norte vive o pai Natal, numa fábrica de brinquedos coberta de neve. E se seguisse em frente, para lá onde o vento é frio, sem nunca parar? E se arriscasse, nem curvas nem nada, sempre em frente, atravessar estradas, mares, campos, florestas, icebergues, montanhas imensas? E as solas já gastas, os pés a doer, e o vento do norte a chamar: por aqui.
Deixa-te de sonhos e levanta-te, é dia! Pega no casaco e enfrenta as coisas de cimento e alcatrão, e não percas tempo a olhar para os lados.
O vento do Norte... tens cada coisa!

ResponIACKA!

Responsabilidade.
Só a palavra arrepia-me. É uma palavra feia, a língua bate na parte de trás dos dentes e depois estica-se cá para fora, toda enrolada "RES-PON-SA-BI-LI-DA-DE".
Gostava de encontrar os senhores inventores da língua portuguesa e dar-lhes dois calduços para ver se se deixavam de ideias destas.
"Procura-se pessoa RESPONSÁVEL", dizem todos os anúncios de emprego. Se eu fosse honesta, ficava desempregada para o resto da vida e sobrevivia como assaltante de bancos. Mas é preciso ganhar a vida, e, envergonhando-me da minha desonestidade, lá vou fazendo um esforcinho no sentido de me tornar uma adulta responsável, consciente das suas obrigações, plena de sentido de dever.
Tenho amigos responsáveis que entraram no responsável mundo do trabalho fazendo estágios responsáveis. Eu fiquei na faculdade. Mais umas especializações, que é para ver se me valorizo enquanto profissional. Ou, por outras palavras, POR FAVOR NÃO ME PONHAM JÁ NUM LUGAR RESPONSÁVEL!
Um dia, quando for velhinha, vou ser responsável. Vou tomar sempre os comprimidos a horas, e lembrar-me do sítio onde moro. Vou usar xailes no inverno para não me constipar e vou ter atenção para não dar detergente da roupa aos passarinhos.
Mas por agora, enquanto o mundo é tão grande e eu ainda sou pequena, enquanto as pernas têm formigueiro e me querem levar a todo o lado, deixem-me ser assim, plena de rebeldia e com os olhos abertos e espantados para o mundo, com a cabeça nas nuvens e os pés em algum lado que não vejo. Deixem-me beber a água da chuva e chapinhar os vossos sapatos profissionais com as minhas galochas amarelas.
Sim, em breve tem de ser. Em breve vou ter de deixar a menina e abraçar a senhora. Vou ter de sorrir sem mostrar muito os dentes que fica mal, e usar tons pastéis que são delicados.
Mas prometo a mim mesma que até lá vou fazer tremer o mundo debaixo dos meus pés!!

Saturday, October 06, 2007

E esta, hein?



Façam a vossa experiência de reconhecimento facial e vejam com que celebridades de assemelham... eu nunca tinha dado por ela. E continuo algo confusa..
Mas que tem piada, tem! Quem diria que sou parecida com a Woranuch Wongsawan?? :P

http://www.myheritage.com/

Thursday, October 04, 2007

SINAIS DE MUDANÇA ou O TEXTO SOBRE O CUSPE/CUSPO/SALIVA/... E PODIA FICAR AQUI ATÉ AMANHÃ MAS NÃO SÃO HORAS DE TAL COISA

Uma das minhas grandes metas, depois de ver o Titanic, era aprender a cuspir a sério. À homem mesmo, com barulho e tudo, para bem longe, sem pingar o queixo de baba e parecer uma velhinha inválida incapaz de comer a sopa.
Agora que penso bem nisso, aquela cena tinha muito de simbolismo e muito pouco mesmo de romantismo. Era a libertação da Rose do seu mundo da etiqueta e dos protocolos: "Jack, ensinas-me a mandar uma escarreta?", pergunta com os seus olhos brilhantes, repletos de uma esperança inocente e bela. Para mim, aquele pedaço de cuspe lançado para longe significaria a possibilidade de encontrar um Jack. Hoje percebo que se tivesse andado por aí a cuspir provavelmente nem Jack nem Jaquim. Não sei, é um feeling que tenho...
Não aprendi a cuspir. Durante uns tempos, oh vergonha, quando cuspiam para o chão mesmo à minha frente e eu não era capaz de retribuir o cumprimento na mesma moeda. Passavam os velhos, mandavam a escarra, e eu ali, uma menina da cidade que nem sequer sabia mandar uma cuspidela valente!
Não aprendi a cuspir mas aprendi a evitar as cuspidelas no chão que também é coisa que dá trabalho. Mas a verdade é que, cada vez menos, se vê (e ouve! que aquilo se ouve bem!) gente a cuspir para o chão. Chamem-lhe boa educação, civilização, o que quiserem, mas o Sô Tónio diria, com o seu ar pachorrento "bah! modernices!" seguido de uma bela cuspidela... no chão!
São pequenos sinais, evidentes porém, de que o mundo está mesmo a mudar. Nalguns aspectos para melhor, noutros para... um diferente não tão positivo. Como os miúdos de 6 anos na escola primária a gritarem asneiras que, no meu tempo, eu nem sabia que existiam! E o azeite e o vinagre em pacotinhos individuais (que, por acaso ainda só vi no MacDonald's... bom povo lusitano!). E as portas automáticas no metro que nos podem cortar em dois.
"Bah! Modernices! RRRRROOOOOOONC CUSP!"

Wednesday, October 03, 2007

Escrever a brincar

"Às vezes não compreendo nada do que escreves!"
Ele queria dizer "a maioria das vezes" mas controla-se. Não sabe se é ele que não entende ou se é ela que não escreve como deve ser. Ela tem a mania de escrever frases que violam a gramática, palavras que não existem fora da sua cabeça, ideias que são impossíveis no mundo dos homens.
"Eu escrevo o que me apetece. Mesmo que não faça muito sentido", responde, encolhendo os ombros, num misto de tristeza por ser incompreendida e um sentimento de individualidade que a seduz como é normal nos jovens.
"Então nunca vais poder escrever a sério. Assim como os escritores, que escrevem para os outros". Ficou ferido de morte pela aparente indiferença que relevou face à sua incompreensão. Quer feri-la também.
"Então vou escrever a brincar."

Hi5 ou Época de Saldos (dá cá mais 5!)



Quando apareceu o Hi5, criei a minha conta. Uma página com fotos e umas quantas parvoíces acerca de mim: o meu perfil. Tem graça, como de repente nos resumimos a um grande catálogo de gente. Se quisermos conhecer alguém, vamos ao Hi5, procuramos por zona, por grupos de interesse, por idades, por aspecto físico. Enfim, tornámo-nos meros objectos de decoração, com umas quantas frases profundas que visam mostrar como somos pessoas sensíveis, inteligentes, espirituosas.


Uma coisa que nunca percebi, que continuo sem perceber, é a ideia de adicionarmos pessoas que nunca vimos na vida à nossa lista de amigos. Qual é o objectivo da coisa? Trocar e-mails e falar pelo msn? Ou é só para termos mais uma cara numa lista de 500 pessoas em que, como é óbvio, temos uma sorte do caraças se estiverem lá enfiados mais de dez amigos de verdade?


Não aceito "friend requests" de estranhos. Mas, mesmo assim, custa-me sempre carregar no botãozinho do "No Thanks". Fico a sentir-me presunçosa, "metida à besta" no topo dos meus saltos altos e do batôn vermelho (tudo coisas que não uso mas que enfim, nesta cena imaginada são indipensáveis) com um olharzinho de desprezo: não, obrigadinha, mas não estou interessada em ter-te como amigo.

Gosto de visitar as páginas dos meus AMIGOS, ver as fotos mais recentes, deixar uns comentários engraçados, cuscuvilhar um bocadinho sobre as relações que se vão trançando entre os perfis da maria e do manel... Coisas de gaja!

Mas existem muitos aspectos na instituição Hi5iana me fazem confusão. As fotos de meninas com mãos a tapar as maminhas "ui fui apanhada de surpresa.... mas vou pôr no hi5 na mesma, sem sequer me aperceber!", homens que insistem em mostrar músculos quase sem respirar, roxos do esforço, "oh sim vê como são definidos os meus bíceps e tríceps... e o cérebro também é músculo? ehpah, tenho já de ir tomar umas vitaminas para isso também!"...



Não entendo. Não entendo mesmo. Dizem que todos têm o seu preço, mas estas pessoas estão em saldos, dão-se de graça assim, a qualquer um que visite a sua página na internet. Donde vem esta vontade de se exibir? Se calhar, onde eu uso palavras eles usam imagens. No fim, expomo-nos relativamente da mesma forma. Será que isso me torna objecto de saldos também?Huuummm...

La vita è bella!

Acordei.
- Mãe, já está a ficar de noite? - pergunta-me uma filha que exige nestum de mel o mais depressa possível.
- Não, está mau tempo, só...
O humor começa assim, cinzento como o tempo. Os pés vão-se arrastando pelas divisões enquanto faço, mais uma vez, todas as operações mecânicas que cada manhã exige.
Dada minha cabeça, treinada no tempo em que Outono era Outono, Inverno era Inverno, e por aí em diante, sem mistos de 4 estações num dia só, pensei que o melhor seria mesmo levar as minhas botas de pêlo, também conhecidas como "Os Mamutes"...
Mas esqueci-me que a minha cabeça de 22 anos já está mais que ultrapassada, que o meu senso comum começa a passar do prazo, e que mais dia menos dia vou ser surpreendida pela palavra "cota" na boca de alguma amiguinha da minha piquena quando lhe perguntar pelo Noddy.
Chego à estação mesmo a tempo de ver partir o meu comboio. Que saía ás 13h08. Onde cheguei às 13h09. E o próximo comboio? Às 13h24. Quero atirar um caixote do lixo às malditas carruagens que se afastam mas o sr polícia está a olhar para mim com uma cara estranha e só depois percebo porquê. É que do escuro fez-se luz, do frio nasceu calor, e estou debaixo de um sol abrasador com botas de pêlo. E assim fico durante 16 minutos, sentada num banquinho, a amaldiçoar cada pêlo daquelas botas que decidi calçar e que agora queria atirar para a linha de comboio e vê-las serem esborrachadas pelo pouca-terra em fúria.
Finalmente, novo comboio, lugar sentado, está mais fresco lá dentro, tudo parece compôr-se. Levanto os olhos do livro que estou a ler, pronta a olhar o céu azul e sorrir-lhe em resposta, quando... sim, há um dilúvio.
Porque eu reclamei das botas. Porque não tenho guarda-chuva nem casaco nem porra nenhuma, mas tenho botas e por isso devia estar feliz porque calcei os meus mamutes portáteis e o sr lá das nuvens quis fazer-me sentir mais apropriada. Obrigadinha pah!
Tudo bem, enfio-me no metro a correr, estações que não acabam.
Lá está, "The postman always rings twice": sim, a Giovanna USA engravida e sim morre... num acidente de carro! E claro, os filmes eram baseados na mesma obra. Bem me pareciam coincidências a mais! Mas eu sou uma miúda que até acredita em coincidências..
Saio da faculdade e regresso ao metro onde começo a ser atacada ferozmente por uma velhinha. Mas eu quero dizer FEROZMENTE mesmo, com cotoveladas mesmo nas costelas, capazes de parar a respiração a um homem dos grandes. Sou atirada quase pelos ares para cima dum banco e olho para trás, onde a senhora de cabelos brancos me sorri "desculpe"... Eu rio-me, incrédula, mas passar-lhe ali uma rasteira não ficava bem e decido esperar até à próxima paragem. Mas antes que possa tomar qualquer medida surge a velhinha ninja número dois, desta vez empurrando-me para a saída, com as suas peles pendentes dos braços a girarem à minha volta como hélices devastadoras. Desisto. Elas são muitas.
Finalmente chego ao comboio. Depois de cargas de porrada, chuva intensa, calor abrasador, esperas intermináveis e mais uma hora de dramas a preto e branco, estou viva! Sim, estou viva!
Às vezes não são os dias melhores que nos deixam mais alegres. Às vezes são estes dias, em que tudo corre mal, em que tudo parece planeado ao milímetro para nos lixar a vida, que nos fazem sentir vivos, que nos dão vontade de atirar a cabeça para trás e rir às gargalhadas até nos doer a barriga e nos arderem os olhos das lágrimas do riso.
Nestes dias, em que o mundo me prega partidas e eu me molho com a chuva que cai dos telhados, em que os sapatos exigem ficar desapertados e o senhor das lotarias nacionais que não sei quando andam à roda tem vontade de nos gritar aos ouvidos, quero gritar-lhe de volta: LA VITA È BELLAAAAAAAAA!

Tuesday, October 02, 2007

Adeus Codex, Olá Lisey!

As almas mais atentas hão de reparar que eu vou actualizando, ali naquele quadradinho à esquerda, as minhas leituras. Ainda há dias lia o Codex, do meu Sr. Professor José Rodrigues dos Santos, mas devo confessar que o deixei a meio, desiludida com as últimas linhas lidas por mim.
Muito na linha do Código Da Vinci, temos um professor de história, perito em códigos e cifras, que tem como missão recuperar as pesquisas feitas por um colega, entretanto morto.
Até aqui tudo bem. Uns enrolanços com uma sueca, uns talvez demasiados pormenores dos sítios que vai visitando (nós acreditamos que ele tenha lá estado, não é preciso mencionar quantos passos vão da porta do museu não sei quantos ao restaurante não sei que mais...), um casamento em crise e algum suspense na resolução dos mistérios. Bem, na resolução do primeiro. Se começou bem, introduzindo a história da escrita egípcia que é mesmo um dos meus ponto sensíveis (mas vai daí, quantas pessoas para além de mim estarão realmente interessadas em aprender a escrever e ler hieroglifos?), para mim enterrou-se na parte em que uma charada BÁSICA leva quase 10 páginas a ser resolvida. Juntem a palavra ECO, FOUCAULT e PENDENTE. Hummmm familiar? Demasiado familiar? Talvez nem todos tenhamos ouvido falar nisso, mas estamos a falar de um Sr. Professor, com um nível de cultura que será, ou deveria ser, mais elevado que o comum. Serão aceitáveis 10 páginas para descobrir que a charada se referia ao livro do Eco?
Então fechei o outro livro, o do Professor real, e abri uma das minha últimas aquisições, a Históiria de Lisey, do Sr. Stephen King. E tenho devorado cada palavra com a fome que o outro livro, aquele do professor, me deixou.
Não sou nenhuma crítica e o livro não está nada mal escrito. A história, porém, carece de acção, morre um bocado nas descrições exageradas e nas centenas de documentos que acreditamos que sim, que o sr leu, mas que se tornam aborrecidos.
Quem sabe se um dia não volto ao codex, já em paz com o professor fictício que não sabia o que era o pendente do foucault, e me disponho a "papar" os 3000 documentos que estão para lá enfiados? Mas por agora, vou abrindo os olhos de espanto e deixando a minha imaginação flutuar nesse universo do incrível que é o da mente do Stephen King. ..
PS- já agora, também baseado numa obra do Stephen King, está no cinema o "1408". Recomendo MESMO, com o aviso de que vão saltar da cadeira algumas vezes! E não é isso mesmo que queremos?

Ossessione VS The postman always rings twice


A sala está escura. "Estão a ver um filme", diz-me alguém que vem atrás de mim e entra, sem hesitar, na sala sem luz. Eu vou, pé ante pé, enquanto ouço o Gino e a Giovanna aos berros "Maledeta! Mia lasagna!". Sim, é só um filme. A preto e branco. Italiano. Com uma história que, se tivesse visto desde início, ameaçaria cunhar de ridícula. Mas enfim, é a magia do cinema, há para todos os gostos, e quem gosta de cenas tão "naturais" como um casal a dormir que, de repente, "ah, sim, estávamos a ser perseguidos não era?" e se levanta a correr e aos tropeções pela praia... sim, tudo bem. Tenho cá para mim que a Giovanna, que morre esticadinha depois de um acidente de carro, nem sequer estava grávida. Chamem-lhe o que quiserem, desconfiança, cepticismo, falta de romantismo, sei lá, mas uma mulher que confessa estar grávida logo quando ia levar uma carga de porrada do suposto pai da criança... humm eu não sei, mas a mim cheira-me a esturro.

E, enquanto na tela se vai projectando o Gino a gritar NOOOOOOOOOOOOON eu estou com uma fome danada e lembro-me que tenho um pacote de bolachinhas deliciosas na mala. O que é que eu fui fazer?!

O pacote faz rás-trás-splás, com o plástico a contorcer-se nas minhas mãos. Há uma menina que faz um ar incomodado. Desculpa, só tenho bolachinhas para mim! Olha, olha...

A partir do momento em que há o FINE e tenho o estômago mais aconchegadinho, aí sim, estou pronta para ver o Gino e a Giovanna em versão USA, also black and white, com morte certa no final que só conhecerei hoje, pelas 14h. Será que a Giovanna americana também vai engravidar? E o Gino americano, homem de fato macaco, também vai acabar a gritar NOOOOOOOOO?
Tudo questões importantíssimas que estou ansiosa por ver resolvidas! Por isso não percam o próximo episódio, porque eu não posso mesmo perdê-lo...