Os dedos dos pés ficam para trás. Não sei o que se passa, mas dede pequenina que tenho o hábito de bater com os dedos pequeninos dos pés em todo o lado. Estão tortos e encurvados como o Corcunda de Notre Dame (que imagem tão sexy!).
Se calhar, eles andam depressa demais. Tal como o Gino de "Ossessione", os meus pés têm um formigueiro permanente que os faz "flanêurs" por aí, loucos embriagados que vão contra portas sem nunca, no entanto, pararem de avançar.
Eu vou e venho e mesmo quando fico estou em movimento. Os meus pés estão sempre a bater em algum lado, a sentir um ritmo que não se ouve, a balançar debaixo do assento de uma cadeira, a rodar nos tornozelos num gesto zen, a apanhar as coisas que caem quando não tenho paciência para me baixar.
Os meus pés hiper desenvolvidos calçam o 35/36 e passam despercebidos na grande metrópole dos pés. Não usam mata-baratas (vulgos sapatos bicudos) nem nada que os possa disfarçar. Eles gostam mesmo é do chinelo, dedos de fora a saborear o vento, a terra e as pisadelas de vez em quando.
Os meus pés são simples, humildes, trilham o seu caminho rés ao chão. Permitem-se, de vez em quando, delírios de pinos e rodas (a última correu bastante mal e desde aí andam algo medricas), e amam andar de fora da janela, no carro. São pés que sonham vaguear pelo mundo inteiro, mesmo que a maioria das vezes apenas o façam directamente do sofá. São pés que hesitam entre o buraco e a poça, e que, às vezes, quando ninguém está a olhar, saltam como bailarinas entre as pedras da calçada, com risinhos de desafio à ordem estabelecida. Gostam de se descalçar, sentir o frio, o quente, o áspero, o suave, o nivelado, o desiquilíbrio, a relva, a areia, o mar, a estrada que ferve no verão.
O meus pés sonham tão alto quanto a minha cabeça e por isso, quando tudo o resto falha, basta-me fechar os olhos e deixar que eles me levem até onde a terra é mais fértil.
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