Thursday, November 29, 2007

Lolly-Hulk

Eu já sabia que fico nervosa antes de apresentar um trabalho ou defender uma nota. Não sabia, porém, que uma entrevista de estágio podia saber a um murro no estômago daqueles que nos deixam sem respirar.
A antecipação da minha primeiríssima entrevista para fazer alguma coisa (acho que o trabalho no cabeleireiro durante um mês não conta) foi vivida com a intensidade de quem aguarda um furacão capaz de arrancar o telhado à casa. Nervos, ansiedade, uma mistura de pura adrenalina e algum receio de bloquear, tudo isto misturado na minha "cabecinha pensadora" ou, como gosto de lhe chamar, o meu "passe-vite" de ideias.
Procurar na internet formas de relaxar não ajudou em nada, com um site onde referiam os erros mais estúpidos e frequentes que os candidatos a um emprego cometiam quando estão nervosos: entre eles, trocar o singular com o plural, errar na conjugação de verbos e, não estava lá mas quase podia decifrá-lo entre linhas, babar-se como se estivesse em coma. Ora, só isto? Bah, tranquilo!
Foi então que achei que precisava de um calmante. E barafustei cá em casa até o Doutor me dar um comprimido à base de valeriana que, sinceramente, bem podia ser um smartie que devia fazer mais ou menos o mesmo efeito.
O mais incrível foi que, à medida que a hora se aproximava, os nervos iam-se dissipando. E não, não era do calmante que continuo a achar que o doutor substituiu por smarties. Era porque as poucas pessoas com quem tinha partilhado o meu estado de nervos me mandavam mensagens a dizer como acreditavam em mim, e como tudo ia correr bem. E assim, mensagem a mensagem, o coraçãozinho abrandou o seu ritmo, os nervos voaram para longe, e ficou só a vontade de chegar lá e ser capaz.
Cheguei, sorriso no rosto, fui capaz. E voltei com a certeza de que enquanto tiver as mesmas pessoas à minha volta, pode vir o Hulk, o Homem Aranha ou até mesmo o Super Homem, que eu hei de estar sempre à altura ;)

Tuesday, November 27, 2007

O dia das boas acções

Ontem foi o meu dia das boas acções. O dia em que acordei decidida a espalhar o bem pelo mundo como se fossem confetis coloridos.

Tudo começou com a resolução de cortar um bocado de cabelo que me incomodava. Isso mesmo, um pedaço de cabelo que me atormentava as manhãs, sempre espetado para os lados, com que fazia malabarismos com ganchos, fitas e elásticos. "Mas onde está a boa acção?", perguntam vocês. É que, para poupar dinheirinho aos pais, decidi cortar... em casa. Chamei então a irmã mais nova, que por acaso é a única que tenho, e pedi-lhe que me cortasse a franja com a tesoura da cozinha. A irmã mais nova é também, curiosamente, a mais sensata, e não estava muito disposta a arriscar cortar-me o cabelo para eu depois ter um ataque de pânico por não gostar. Tive então de recorrer ao seu ponto fraco: a poupança. É que a irmã mais nova e mais sensata é também a mais poupada, e com o argumento de poupar dinheiro cortou-me logo a franja de uma tesourada apenas. ZÁS! Nem tive tempo de repensar a minha decisão.

OH NÃO! O QUE É QUE EU FUI FAZER?! foi a primeira coisa que me saiu da boca. Quem me conhece sabe que eu sou uma activista pelo movimento NÃO À FRANJA, que agora está na moda e portanto toda a gente usa. E ali estava, na mão da minha irmã, o meu grito de guerra, o meu estandarte caído no campo de batalha, todos os meus argumentos para não ter franja... E assim se acabou o movimento que afinal era só constituído por mim mesma...
Depois desta boa acção que beneficiou não só os pais, como o meu cabelo, as meninas da franja que lá venceram o combate e ainda a minha irmã que teve oportunidade de treinar os seus dotes de "chef de cuidados capilares", eu ainda não estava satisfeita.

Sim, tinha feito algo pelo mundo, mas não me bastava. Uma franja assimétrica caseira não era suficiente para mudar o meu dia.

Foi então que, ao chegar a casa, fui visitada por uma amiga asiática (ela não é bem asiática, é especial, digamos...) que tinha encontrado as chaves da minha vizinha penduradas na fechadura da porta da rua. Tomada de todo o meu espírito de bondade, lá me dirigi, depois de 40 minutos de conversa com a minha amiga, ao apartamento da vizinha de idade avançada. E porque é que eu refiro a idade da senhora? Já vão perceber. Toquei à campainha duas vezes, e conseguia ouvir a novela do lado de dentro, aos altos berros... Finalmente a senhora lá se apercebeu que estava alguém à porta.

"Quem é?"

"É a vizinha de cima.."

"Quem éééé?"

"É a vizinha de cima..."

"Quem éééé?"

"É A VIZINHA DE CIMAAAA!"

e ficámos nisto durante alguns 5 minutos até que a senhora lá conseguiu ouvir que era a VIZINHA DE CIMA. Só que havia outro problema: como comprovar que era mesmo a VIZINHA DE CIMA?

"Aiii a luz do patamar não funciona... Não a vejo.."

"A senhora perdeu umas chaves?"

"A luz do patamar não funciona... Não a vejo!"

"A SENHORA PERDEU UMAS CHAVES?"

"Olha, não sei quem é... a luz não funciona..." (isto dizia ela para ela mesma, em voz alta, depois de já termos chegado à conclusão que era a VIZINHA DE CIMA)

Convém dizer que todas as casas têm uma lâmpada do lado de fora que ela podia acender, mas só passada meia hora é que a senhora se lembrou disso.

Finalmente, lá abriu a porta a medo, não fosse eu um ladrão mascarado de VIZINHA DE CIMA. Fiquei a saber que durante esses 40 minutos a senhora fez uma jornada a pé até casa de uma amiga para ir buscar as chaves suplentes (ups! claro que não mencionei o facto de ter as chaves há 40 minutos mas ter estado ocupada com a minha amiga). Descobri que ela e a vizinha da frente vão alternando na mudança das lâmpadas do patamar mas que agora está atarrachada com muita força e portanto não conseguem, que a vizinha do rés-do-chão deixa a porta da rua aberta para o cão ir passear sozinho, possibilitando, assim, a entrada de ladrões, que uma antiga vizinha da senhora foi assaltada por uma brasileira quando ela ainda vivia "lá em cima" (seja lá isso onde for), e, claro, que a minha vizinha é ligeiramente surda...

De regresso a casa, passada meia hora, estava cansada, mas cheia daquele espírito das boas acções. Mas não, não era suficiente.

Cozinhei simples postas de pescada de uma maneira nova e original para os meus pais que não sei se gostaram ou não mas fizeram "nhami nhami". E depois de adormecer a minha filha e ser tempo de partir para o café onde as minhas amiguinhas me aguardavam, pensei: e que tal uma última boa acção? Assim, fiz um balde de pipoquinhas salgadas, a garrafa de água de litro e meio, e o trivial no carro e passámos uma daquelas nossas noites simples mas sempre especiais em que o Joaquín Cortez é o homem da noite (quando não sabemos mesmo a resposta arriscamos o Joaquin Cortez.. ideias daquela minha amiga "especial" a quem a gente diz que é chinesinha, não é mais nada...).

Na hora de adormecer, embalada pelo "Il mio viaggio in Italia" do Scorsese, senti uma luzinha especial a pairar por cima da minha cabeça. Até podia ser o candeeiro da mesinha de cabeceira, diriam os mais cépticos, mas eu senti que era uma pequenina auréola que, por momentos, estava a pairar sobre mim.

Friday, November 23, 2007

Matrioskas

Poucas foram as vezes em que deixei que o raciocínio inerente à escrita me embalasse os dedos ao ponto de deixar aqui mais do que queria. Algumas vezes, desejei fazê-lo. Escrever duas ou três frases que estão entaladas naquele espacinho milimétrico entre as teclas, despejá-las de uma vez.

Mas eu não sou assim. Não fiz do meu blog diário íntimo, poço de desejos, fim do arco-íris repleto de promessas. Não, eu não sou assim. Por vezes deixei que as emoções flutuassem no ecrã um pouco acima da superfície do que não digo, mas nunca as ensinei a nadar por entre estas linhas.

E compreendo quem o faz. Quem sente esse impulso, essa vontade, e cede à sedução de um espaço só seu que aguarda, pulsando, intermitente, as próximas letras.

Pergunto-me porque não o faço. Sou boa a brincar de escrever. Sou boa a arranjar parvoíces para dizer, a ocupar espaços com arabescos sem sentido que raramente conduzem ao caminho certo para me descobrir. Preservo-me e guardo-me. Cubro-me e tapo-me. Talvez assim "os maus" nunca me possam achar. Pesa um silêncio absoluto do eu em muito do que digo. Não é que não esteja lá, mas tapo a boca com as mãos, constantemente.

Sobrevalorizo as palavras, contemplo-as como a criança que tem de "ver com as mãos", a boca aberta de espanto, os olhos fixos nos pormenores dourados duma porta antiga. Onde leva? Remexo nessa caixa de puzzles de letras que monto e desmonto, mas nunca monto o meu.

O meu é meu. As coisas verdadeiramente nossas podem ser eternas se as soubermos preservar. Acho que é nisso que acredito, quando recorro ao "back space": há riscos demasiado grandes.

Gosto de segredos. Gosto das matrioskas cujo fim não se descobre nunca: e se aquela última boneca, ínfima na minha mão, se pudesse abrir, o que encontraria dentro dela? Se se pudesse abrir e deixasse à vista apenas o vazio, então talvez abandonasse o seu corpo oco e desarticulado num canto e seguisse para a janela, para descobrir as feridas que os relâmpagos abrem no céu. Feridas efémeras, mais rápidas que o olhar, porque quando tento compreendê-las, já não as vejo. Para sempre, nelas, um segredo que os livros de ciência não podem descodificar com fórmulas: há coisas que não se explicam, sentem-se.

Há coisas que não se dizem, vivem-se. E há palavras que gosto de guardar só para mim, como a boneca que não se abre nunca.

Tuesday, November 20, 2007

Quem disse que a ópera era coisa de velhos? (a música dos arrepios)



Una furtiva lagrima
Negli occhi suoi spuntò... quelle festose giovani invidiar sembrò...
Che più cercando io vo?
M'ama, lo vedo.
Un solo istante i palpiti
Del suo bel cor sentir!..
Co' suoi sospir confondere per poco i miei sospir!...
Cielo, si può morir;
Di più non chiedo.

Inglês
A sullen and secretive tear
That started there in her eye...
Those socialising bright young things
Seemed to provoke its envy...
What more searching need i do?
She loves me, that i see.
For just one moment the beating
Of her hot pulse could be felt!..
With her sighing confounding
Momentarily my sighs!...
Oh god, i shall expire;
I can't ask for more.


(Já percebem a última parte do título, não?)

Monday, November 19, 2007

Já chove

Acordei com as Cataratas do Nicarágua do outro lado da janela e pensei: "Ora bolas, viemos fazer uma viagem e os meus pais nem me avisaram!"

Até que se dissipou o sono, os olhos acostumaram-se ao dia (cinzento, cinzento) e percebi que estava SÓ a chover. A chover como quem usa um eufemismo para "estava a haver um dilúvio". Havia gente na rua praticando as famosas danças tribais do "agarra o chapéu de chuva" e "salta a pocinha" e quase jurava que se olhasse bem ia ver peixinhos a nadar na estrada graças às sarjetas entupidas.

O Natal de mangas curtas não tem piada. Natal é neve (na televisão, claro!), lareira acesa, marshmallows assados (outra coisa que só acontece na televisão), cachecóis branquinhos e peludos (a uma distância segura da lareira), as janelas embaciadas e as luzinhas a brilhar até se fundirem, uma a uma, e não restar mais nada a não ser um fio feio com pendentes estranhos colado aos vidros com fita-cola. (O facto de faltar mais de um mês para o Natal é um pormenor sem qualquer importância no contexto deste post).

Este tempo inspira-me sentimentos contraditórios: uma espécie de alegria caseira, uma vontade de rir sentada no sofá, de olhar para os outros lá fora e agradecer o cobertor por cima das pernas. Calço as galochas floridas e domino o mundo! Eu, aquela que não molha os pés e pode saltar à vontade! Que tem o impermeável e por isso pode dançar à chuva! Que já está constipada de qualquer forma e por isso pode apanhar frio sem medo!

A chuva não me deixa melancólica. Faz-me rir. Faz-me rebolar na cama meia hora antes de me levantar enquanto penso em músicas que envolvam chuva e as canto baixinho, debaixo dos lençóis.

"Este tempo, hum?"

"Estava na altura"

"Ah também é preciso não é?"

"Pois, pois é"

Mas o que eu queria mesmo mesmo era dizer-lhe (ele, o motorista de 60 anos da escola da minha filha): "Let's sing in the rain!", talvez acompanhado da devida tradução caso ele não me entendesse, com os chapéus de chuva a servirem de bengala para fazer os truques dos clássicos do cinema americano tal Gene Kelly.

Friday, November 16, 2007

Pó de talco

Ora aí está um belo produto cuja utilidade me passa ao lado.
Sempre associei o pó de talco a rabinhos de bebés. Isto, claro, antes de ter um bebé e descobrir o Halibut (sem querer fazer publicidade, e por isso refiro também o Mustela vá...).
A verdade é que ser mãe me despertou para algumas questões totalmente novas: para além de me tornar uma pessoa mais consciente dos outros, mais pieguinhas nalguns sentidos e mais forte em tantos outros, também me mostrou que os rabos de bebés representam todo um mercado milionário, uma indústria poderosa que envolve cremes, loções, toalhetes, fraldas e mil e um produtos prontos a fazer do rabinho do nosso bebé pura seda.
(Talvez esteja a conseguir um resultado histórico, com o post em que mais vezes se refere a expressão "rabinho de bebé" em todo o mundo!)
Chega de rabinhos de bebés (pronto, esta foi propositada para ver se o Guiness repara em mim) e voltemos ao assunto que me traz aqui: o pó de talco.
Lá ia eu, atravessando esses labirintos subterrâneos a que chamam metro de Lisboa, quando, ao meu lado, sinto o cheiro inconfundível do pó de talco. E pensei: "mas ainda há gente a usar pó de talco?". Sim, parece que há. Não percebo bem para quê e espero, sinceramente, que não envolva rabinhos.
Com toda a evolução no mercado dos desodorizantes (pérola: axilas perfeitas; invisivel: sem manchas brancas; 24h: secura maxima; flores do campo: pétalas sob o sovaco, e tantos outros!), não acredito que ainda alguém use pó de talco para esses efeitos. E mesmo os pés já têm desodorizantes próprios para eles!
Mas quem sou eu para subvalorizar o pó de talco? Eu, que não sou desse tempo em que o fiel e branco amigo acalmava irritações e se deitava, sem queixumes, junto com a meia fedorenta?!
Assim, numa tentativa de reconciliação com o pó de talco decidi-me a inventariar alguns dos seus usos:
- Cabelo falso de velhinha
- Neve na árvore de natal
- Farinha de brincar (para as crianças)
- ...
e já me parecem motivos suficientes para impedir que este grande dinossauro, o PÓ DE TALCO, entre em extinção.
Salvemos o pó de talco porque, em tempos, ele salvou-nos a nós... e aos nossos rabinhos de bebés!
(tinha de acabar assim. Ganhei?)

Thursday, November 15, 2007

Ok, Stephen, aceito-te de volta :P

Li Stephen King pela primeira vez devia ter 11 ou 12 anos. Um livro com contos de terror que não me impressionaram: não eram suficientemente aterradores para uma miúda que gostava de passar as tardes, depois das aulas, a ver os "Pesadelo em Elm Street" com os amigos, numa sala escura.
Voltei a pegar no "rei" depois de longos anos de divórcio. Depois de ver um filme inspirado numa obra dele. Já não era o terror, era a imaginação que me atraía. Não queria ter medo, não queria ser incapaz de dormir durante a noite. Queria, só e apenas, alguém que fosse capaz de imaginar na mesma proporção que eu. Alguém que me fizesse abrir a boca de espanto e bater palmas no fim.
"A História de Lisey", que acabei hoje de ler, foi o meu reatar com ele. Foi um "desculpa lá aquilo dos contos" e ao mesmo tempo um desafio "vê lá se fazes valer a pena". E ele assim fez. Calou-me as dúvidas e os preconceitos, devolveu-me o desafio com a ponta afiada da caneta: touchè!
Do lago onde todos vamos pescar as palavras, ficou a vontade de pescar sempre a perfeição, doce a infiltrar-se na garganta, e de caminhar um dia pelas praias da minha própria Moo' Ya Moon.

Saturday, November 10, 2007

Menina Rainha


Menina rainha,
tão segura de ti caminhas
sem olhar a quem pisas nem a quem magoas!

O teu manto dourado com que cobres os outros,
com que negas a existência para além de ti,
está roto e sujo por baixo.

O seu brilho é manchado pelas lágrimas alheias,
de sal e água, gotejar de sereias
que são condenadas a uma vida menor.

Menina rainha,
olha em teu redor:

quantas vítimas do teu desprezo?

quantas vidas que ignoras?

quantos rostos que não olhas?

quantas almas que devoras?

Desce do teu trono de cristal,
descalça os sapatos, rasga o brasão
e sente, como todo o mortal,
a terra quente que palpita no chão.

É vida! Estremece,
contorce-se, geme e grita!
É o suor e o sangue dos antepassados
que nela revive e se multiplica.

E do teu pedestal, talvez não se veja.
Daí, onde estás, talvez o mundo não pareça importante.
Com o teu universo artificial de brilhos e luzes
talvez tudo te seja demasiado distante.

Segues caminhando a estrada dourada
sem nunca saberes, de facto, quem és,
porque nunca pisaste a terra que rebaixas
com a pele descalça dos teus pés.

Menina Rainha, és só menina.
Deita fora a tiara, esquece a nobreza.
Porque no mundo real os nobres são outros
e as rainhas de facto também conhecem pobreza.

São aquelas que limpam com as costas das mãos
as lágrimas dos filhos, amparam as quedas,
abraçam amigos, consolam irmãos
e abrem o peito ao mundo que vedas.

São aquelas que se erguem, mesmo que feridas,
e trazem no coração o mundo inteiro,
e têm na cabeça a coroa perfeita,
porque é feita de tudo o que é verdadeiro.

Thursday, November 08, 2007

Karma



Foi levada pela série " My name is Earl" que pesquisei a entrada "karma" no google. Hoje em dia, tudo fala de karma: a já mencionada série, a Alicia Keys na sua música "Karma" (what goes around, comes around, what goes up must come down), e os muitos metafísicos que julgam (melhor, AFIRMAM) perceber todas as linhas deste grande novelo com que se entrelaça o mundo. Depois de muita discussão, incompreensão e acesos debates, decidi informar-me à minha conta, no fabuloso mundo da internet.


O karma é a lógica segundo a qual todos os acontecimentos têm uma justificação que advém das acções do passado, sejam elas desta vida ou de uma vida anterior (eles acreditam na reencarnação). Assim, uma criança aparentemente inocente que seja assassinada por um psicopata estará apenas a pagar por um mal cometido numa vida anterior. Da mesma forma, o psicopata poderá não sofrer nada nesta vida mas sofrerá, de certeza, numa vida futura.


Ao ler isto, tive a imediata sensação de que o homem procura desesperadamente uma noção de justiça que, tantas vezes, não passa de um conceito bonito, ideal e irreal. Alegar que a injustiça nesta vida será compensada numa vida futura não será, só e apenas, uma forma, totalmente disprovida de bom senso, de tranquilizar o espírito?


Não sou uma pessoa religiosa, mas acredito em muitas coisas e tenho aquele tipo de fé em "alguma coisa para além de nós", mas obrigo-me a ser prática e reconhecer que, às vezes, existem de facto injustiças. Sim, há maldade pura. Sim, há coisas que não deviam acontecer. Há acidentes, incidentes, acasos, azares, INJUSTIÇAS. O karma estará mais ou menos na mesma categoria que o julgamento final: não acredito neles. Acredito em ser boa pessoa hoje para ser feliz hoje. Não espero recompensas divinas: sei que se agir bem com os outros isso me deixa melhor comigo mesma e basta-me. Erro, como toda a gente, tento corrigir os meus erros, outros nem me dou ao trabalho de os rever... mas se pagar por eles, acredito que será nesta vida, com aquela coisinha a que se chama CONSCIÊNCIA. Talvez esse karma, esse julgamento final se proceda nos últimos segundos de vida, quando pesamos o que fomos e o que nunca pudémos ser, e nos medimos como pessoas, sabendo que esta foi a única oportunidade que tivémos de nos tornarmos imortais nos outros... ou não.

Wednesday, November 07, 2007

Marktest e RTP2: uma combinação....

Para além das velhinhas solitárias, só conheço duas pessoas que gostam de responder aos questionários da "Marktest" via telefone: eu e uma amiga que fala com personagens de séries como se estivessem ao lado dela.
É interessante ter alguém que nos liga, pura e simplesmente, para ouvir. No fundo, são uma espécie de muro das lamentações que nos contacta, quinzenalmente: "Então e de que anúncios se lembra?" "Ah, lembro-me daquele da coca-cola, mas sabe, eu nem gosto de coca-cola ahahah! Que engraçado, não é?" "Hum hum muito engraçado... E do slogan recorda-se?". Isto sim, uma boa conversa à moda antiga, em que nós falamos e eles ouvem e, ainda para mais, dão-se ao trabalho de ESCREVER a nossa resposta (ouvem-se as teclas do pc lá atrás, e eles a soletrarem baixinho o que acabámos de dizer), deixando bem claro que o que dissemos foi IMPORTANTE.
Ontem tive uma dessas conversas simpáticas. A senhora não era tão atenciosa como de costume, mas pensei "ora bolas, mesmo o muro das lamentações tem direito a um dia mau" e fiz por animá-la não obtendo, no entanto, resultados muito satisfatórios.
Mas o que me trouxe aqui, de facto, foi o espanto que perpassou numa destas conversas. Falávamos de televisão, e depois de me perguntarem pela SIC, RTP1e TVI lá me perguntaram pela RTP2, quase como por favor, e sem esperar a resposta.
"Sim, todos os dias."
"Como? A RTP2"
"Sim, vejo todos os dias"
"..... E quanto tempo por dia?"
"Hummm uma hora por dia, talvez"
"22 anos?"
"Sim, sim"
"Hum hum", disse ele com algum cepticismo na voz.
Ora, o que eu não expliquei foi que só tenho 4 canais no quarto. Que à noite a SIC e a TVI (esta, por acaso, nunca vejo, nem 5 minutos por dia o que muito surpreendeu o meu interlocutor) só dão novelas e que a RTP1 passa filmes estranhos que me põem a dormir em 3 minutos.
E a RTP2 passa documentários muito giros. Sim, giros mesmo. Não se limita à vida animal (o meu grande trauma, não suporto ver), mas estuda constantemente o comportamento humano! Psicologia, biologia, está lá tudo, de forma divertida e leve, com experiências live para comprovar o que se diz.
Gosto e recomendo. Sinto-me sempre mais culta quando finalmente adormeço e sonho com tubos de ensaio e pessoas com sacos com tubos presos ao rabo O DIA INTEIRO para medir os gases de acordo com a alimentação (sim, isto passou, de facto, na rtp2!). Ou uma experiência em que embebedaram homens e mulheres (saudáveis, com hábitos de bebida considerados normais) com a mesma quantidade de alcoól para verem quem evidenciaria maior nível de alcoolémia no teste do balão (as mulheres ganharam, claro... HIP HIP URRA!). Vejam, é ciência de tu para tu, permite umas quantas gargalhadas ao estilo Jackass e ainda saem com umas frases óptimas para quebrar o gelo: "sabias que uma alimentação rica em vegetais aumenta os níveis de gases produzidos?". Nada mais cativante!

Monday, November 05, 2007

Des-ilusão

A palavra desilusão sugere a negação da ilusão. Talvez, pensei vezes sem conta, a solução resida aí, na análise da palavra, no evitar da ilusão que se tornará desilusão. "A palavra cão não morde" disse algum linguista, desses muitos que estudei ao longo dos 3 anos que já tenho de faculdade. E a palavra desilusão? Desilude. Entristece. Faz-me sempre sentir um bocadinho mais pequena, quando a leio, um bocadinho mais nova, encolhida debaixo dos lençóis, tentando afastá-la com as pontas dos dedos que os apertam com força.
Hoje mudo. Olho ao espelho, digo a palavra em voz alta, fixo os lábios que a soletram, devagar: de-si-lu-são. Não me assustas. Não me encolho, não me escondo. Não procuro o interruptor para a encobrir com a escuridão.
A desilusão, essa palavra feia de negação, há-de estar sempre presente na minha vida. Os lençóis serão roídos por traças muito antes que ela desapareça. O segredo não está na não ilusão, não para mim, mas na aceitação: ao longo da vida, a desilusão há-de bater a esta porta muitas vezes, e eu escutarei a sua mão mirrada na maçaneta, forçando a entrada no meu mundo perfeito.
Recusar a ilusão não será um risco bem maior do que o de nos virmos a desiludir? Que ser, tão forte, tão não humano, se poderá recusar a iludir-se durante toda uma vida? E quantos momentos serão perdido em nome dessa segurança idílica? Como num salto de pára-quedas, confio, salto: por momentos, o céu e só ele sob mim, sob a minha barriga, o sorriso deformado pela força do ar que me empurra os músculos para cima. Confio, porque viver sem confiar em ninguém é viver eternamente sozinho. Salto, porque viver eternamente com os pés na terra é renegar o sonho mais antigo do homem. Confiar, é ganhar asas de papel e cruzar os dedos no momento do vôo, pedir que não se desfaçam em pedaços quando estiver mais alta.
Não podemos confiar sempre e em toda a gente, mas, de vez em quando, é bom confiar. É bom dizer a nós mesmos, no mais profundo dos silêncios que é o pensamento, "confio em ti" e fechar os olhos quando nos dizem: vá, tenho uma surpresa, fecha os olhos e abre a mão.
A vida é demasiado curta para fugir da ilusão. Imagino que isso consuma mais energia e esforço do que recuperar da eventual desilusão. Porque, mais cedo ou mais tarde, ela há-de chegar, e, por mais que tentemos, nunca seremos capazes de a evitar sempre..
Salta.
Confia.
Fecha os olhos.
Vale a pena.

Thursday, November 01, 2007

"Crónica de um Halloween"


Se isto fosse um filme, a sua análise iniciar-se-ia pelo título e o Prof. J.M.Grilo diria que o facto de ser uma crónica indiciava uma ruptura com o modo habitual de narrativa cinematográfica e demonstrava uma ausência de controlo sobre os acontecimentos.

Controlo? Pois bem...

Exactamente que porção de controlo existirá numa casa perdida no reino da fantasia, onde músicas mórbidas, um menu repleto de nomes de pratos grotescos, teias de aranha, fantasmas e múmias penduradas de candeeiros coexistem com 10 miúdas mascaradas de tudo o que pode ser mais horrível? Posso garantir-vos, então, que controlo não foi a palavra da noite, mas em contrapartida animação não faltou!

A animação, para falar a verdade, já tinha nascido muito antes dessa noite. Há quase uma semana que se desenrolavam preparativos secretos, com direito a sms trocadas à volta de uma mesa de café para não deixar escapar nenhum pormenor! "Como é que vamos fazer AQUILO?" ou "Já trataste DAQUELA COISA?" tornaram-se expressões quotidianas e agravaram a afasia que por vezes nos assola. Nada de grave, há que fazer sacrifícios em nome da perfeição, e nem mesmo uma tarde de trabalhos manuais extremamente agressivos, deixando sérias mazelas nuns dedos arroxeados, nos deitaram abaixo!

Às 11 da manhã lá estávamos nós, ora nos tachos ora na tesoura e na fita-cola: agrafadores, açúcar, papel e tomates conviviam na mesma mesa, lado a lado, prometendo uma noite recompensadora.

E assim foi: dez monstros invadiram a minha sala, que já não era a minha sala, era uma sala saída dum filme de terror, com teias que se agarravam constantemente à faca que tinha espetada na cabeça (calma, era uma bandolete que dava esse efeito... não levei o espírito ASSIM tão longe!), e sons de mochos, fantasmas e lobos a abafarem os risos incontroláveis.

Mímica, o jogo dos papéis de personagens na testa, e o famoso "Murder Mistery Game" deram um toque de convívio especial a esta noite que acabou com a Samara, o bebé cadáver e duas diabas amontoadas no meu quarto, enquanto me fui deitar na cama dos meus pais aproveitando ter TV CABO para ver antes de dormir (sim, que no meu quarto, tendo apenas 4 canais, a noite acaba quase sempre com a RTP2 a embalar-me os sonhos).

Por isso, controlo?... Não.

Foi uma noite de sustos, berros, risos, gargalhadas maquivélicas a ecoarem pelos cantos. Uma noite de convívio puro, de pura fantasia, de interpretação de personagens até cairmos para o lado. E eu adorei cada segundinho desta falta de controlo que a vida de uma crónica me proporcionou.


*Na foto: (da esquerda para a direita, em cima) Diaba Gótica (Rachel, minha companheira Chef e co-organizadora desta noite fantástica!), Golden Witch (a minha Niky que pela primeira vez jogou como minha opositora no jogo da mímica e me irritou por pensar exactamente da mesma forma que eu!! Acho que 12 anos fazem destas coisas...:P), Diabinha Trapalhona (Dee, que garantiu que não era nada desastrada mas conseguiu deitar tudo abaixo lol... não faz mal,estás perdoadíssima ;)), Bebé Cadáver (Gui, a minha filha assassinada com o saca-rolhas que lhe espetei na cabeça antes de eu mesma ser assassinada pelo meu noivo... e acham o guião confuso? não reclamem comigo, não fui eu que escrevi!), Samara (Drinha, também conhecida como Samantha nesta noite, que se andava a contorcer pelos cantos e a pedir Sagres com vozes esquisitas), Bruxa pálida (Raquel, sempre com o seu ar matador nas fotos... ;) chegaram tarde mas marcaram presença!), Bruxa da Coca-Cola (Sonya, a única pessoa que conheço que consegue fazer um bolo delicioso juntando coca-cola, que detesto, côco e leite condensado! Nota 21!);
(em baixo) Noiva Cadáver (por acaso nunca vi aquela gaja na vida... :P eu, com a faca espetada na cabeça e o sangue que ao fim da noite já se colava aos cabelos e começava a irritar ligeiramente), Bruxa morta ou um bocadinho para o podre (Mana Jo, brilhantemente maquilhada, tava lindaaaa mesmo!) e Noivo AKA Morte AKA bruxa da branca de neve com bigode (Mary Jane, sempre animada e interventiva, uma habitué destes serões).
No fundo, bastava dizer que na foto estão as minhas AMIGAS, umas de anos, outras de meses, mas todas muito importantes para mim. É porque acredito que são as pessoas que fazem os sítios que sei que a festa não poderia ter corrido melhor ;)