Sunday, April 08, 2007

O regresso da filha pródiga!!!





Digo eu triunfante, atirando as malas para o chão. "Apanha já as malas!", responde a minha mãe, interrompendo o momento em que ergo os braços ao céu, e me preparo para ouvir salvas de palmas.
O regresso a casa é sempre uma mistura de emoções contraditórias: temos saudades daquilo e daqueles que ficaram para trás mas ao mesmo tempo sentimo-nos contentes por estar de volta ao lar. Encontramos os mesmos papéis amarrotados no mesmo canto em que os deixámos, a roupa ainda amarrotada no armário da última vez que nos vestimos e trocámos de roupa 300 vezes, as mesmas vozes familiares e os passos na escada que sabemos reconhecer antes de chegarem.
As férias da Páscoa não seriam passadas em casa - decisão tomada sem direito a revogação. Uns dias em Sesimbra e depois a velhinha Nave Redonda, à nossa espera.
A Nave Redonda é uma aldeia na Guarda, que até há bem pouco tempo nem aparecia nos mapas. Entre a placa que indica o início e a que marca o fim da Nave Redonda, conseguimos conduzir durante 2 minutos, isto se apanharmos algum trânsito, o que na Nave Redonda significa sermos interpelados por um rebanho ou um tractor. Quis a sorte que, desta vez, fosse um rebanho:





A Nave Redonda é "aquele pedacinho de mundo onde não há tempo", gosto de dizer, porque parece que, de facto, a chamada evolução não passou por ali. Continua de pé o mesmo café, os moradores são cada vez menos, todos ligados por algum laço familiar, as velhinhas de preto, sentadas nos bancos de pedra à sombra, viram a cabeça para ver os carros que passam nos caminhos mal alcatroados...



Mas, apesar de tudo isto, ir à Nave Redonda foi sempre o momento alto das férias. Primeiro, porque, regra geral, é onde se junta a família toda, contabilizando, esta última vez, um total de 26 pessoas, sendo que dessas 26, 22 estavam alojadas na mesma casa... que há 3 anos só tinha uma casa de banho! Sim, era o pânico. Agarrar a roupa, correr para a porta, marcar o lugar para não sermos ultrapassados... Tomar banho ao som dos berros desesperados lá fora, que insistem para que sejamos rápidos, e tentar não acabar a bilha de gás, são coisas naturais quando se está na Nave Redonda.



Para terem uma ideia de como se trata de uma aldeia pacata, posso confessar-vos que um dos pontos altos da estadia, quando éramos mais novas, era visitar o cemitério, o que ilustra bastante bem a ausência de coisas para visitar ali... Mal chegávamos íamos a correr para o cemitério, ver a campa de uma prima que morreu intoxicada com gás ao tomar banho. Este é um do aspectos que choca as pessoas da cidade: o cemitério fica a 5 passos de nossa casa e está aberto 24h por dia.






(Esta foto foi tirada da porta de casa e aquelas grades tortas que ali vêem são do cemitério...)


Mesmo assim, muito mudou na Nave Redonda. Já não jogamos à bola na estrada, porque agora os carros já surgem com mais frequência... Sim, dantes a estrada era o sítio onde brincávamos. E, no Verão, o alcatrão colava-se às nossas solas, tal era o calor e a qualidade das estradas!



Um outro aspecto interessante da Nave Redonda é o seu cheiro natural característico a bosta de vaca. Mas uma pessoa habitua-se, tal como se habitua a nadar no rio com os peixes, a fugir dos cães raivosos que andam por ali com os rebanhos e a cumprimentar toda a gente, seja quem for. Será que as pessoas da cidade imaginam o que isso é?



Garanto-vos que estar lá, é estar mais perto daquilo a que chamam o paraíso. E, para finalizar, deixo aqui uma foto da famelga, que entre ais e uis, chouriços assados e peixinhos do rio, jogos de volley e idas a Espanha, lá conseguiu sobreviver, mais uma vez ;)



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