Ele tinha um sonho simples: tornar-se o primeiro homem a aprender a falar a língua dos peixes. Desejava-o, não pelo dinheiro que poderia ganhar, não pela fama, mas porque todos os seus peixinhos de aquário morriam depressa e ele vivia intrigado com aquilo.
Começou por observar a interacção no seu casal de peixinhos dourados, ignorando o sexo de casa um e as suas tendências sexuais, sem saber mesmo se haveria ali romance ou não. Anotava num caderno cada gesto, cada abrir e fechar da boca (excepto quando comiam pois partia do princípio que eram peixes da mais fina educação), cada atirar da barbatana mais sedutor.
Passados 2 anos já era capaz de travar com eles (não com os primeiros que esses, claro, já tinham morrido) uma conversa básica, sem ser capaz, no entanto, de perguntar o porquê da sua morte precipitada.
Até que chegou ao seu aquário o mais belo espécime que alguma vez vira: um peixe dourado que falava brilhantemente o russo e o francês e que usava um bigodinho chiquérrimo a condizer. Em desespero, confirmou que nem mesmo o mais brilhante dos peixes lhe sabia responder.
Jorge morreu pouco tempo depois. O peixe russo-francês sobreviveu por muitos e longos anos, e decidiu aprender a língua dos homens de modo a perceber o que tinha sucedido ao seu dono.
Nenhum dos dois foi capaz de compreender. É que o peixe não possuía a consciência de finitude e mortalidade: para o peixe, todos os dias eram iguais e quando morreu engasgado com um bocado de ração nem se apercebeu do seu fim eminente, recusando-se a gritar ou algo do género, porque, bem, ele era educado e não falava de boca cheia. Já o Jorge não compreendia que o conceito da morte era inexplicável para o Jean-Poisson-Vodka (o nome do peixe educado!), que por isso, por mais educado e poliglota que fosse, nunca seria capaz de explicar ao seu dono o porquê da sua curta vida, até porque ele não sabia o que era curto ou longo, visto que não tinha a noção do tempo.
E então, perguntam vocês, como podia um peixe tão limitado falar duas línguas e saber regras de etiqueta? Também eu me indaguei, noites e dias, sobre tão estranha possibilidade. Não sei, julgo que, se quiserem mesmo descobrir, terão de aprender a língua dos peixes.
2 comments:
Palmas para este post! =)
Gostava de ter aprendido essa língua para saber porque morreu o querido Ivan (na verdade desconfio que foi porque o Pedro nunca limpava o aquário...)
vamos acusar o pedro de homícidio em primeiro grau!!!
este é p o livrinho das crinaças né?
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