Monday, March 31, 2008

E no entanto...

Eles não sabem nada de mim, e no entanto gritam o meu nome, as sílabas enroladas nas consoantes como se me diluísse na própria palavra que me nomeia. Eles não sabem nada de mim, porque nunca souberam ver-me. Olharam e acharam que isso era suficiente. Eles nunca me souberam ler e por isso nunca me tiveram, nunca me entenderam. Eu nunca fui desse mundo porque esse mundo nunca soube ser meu. Eles falam em meu nome, do meu nome, pelo meu nome, e no entanto não compreendem que eu sou muito mais que um nome. Sou muito mais que um corpo, uma cara, um estado de espírito. Eu sou um turbilhão vivo, uma noite cerrada em que os segredos se escondem por detrás de cortinas fechadas e estores corridos. Nunca soubeste abrir a janela e deixar entrar a luz da noite, a única luz em que tudo é verdade pura, sólida negridão que se entranha nas veias. Nunca me tiveste. Nunca me conheceste. Nunca soubeste nada de mim...

e no entanto...

Thursday, March 06, 2008

bom dia bom dia

Afinal há sol. Sol e flores e uma brisa que de tão meiga chega a doer. Há estradas que não dão a lado nenhum, que existem para serem percorridas com pés de lã e saltinhos infantis. Há músicos sentados no passeio, sem chapéus onde deitar moedas, com notas de março que fazem lembrar o chilrear dos pássaros e os copos de cristal no segundo antes de se quebrarem. Há pedras partidas em pedaços, com formas que conheço dos sonhos que de vez em quando regressam quando já estavam, há muito, esquecidos. Há tempo de menos para coisas a mais. Há dezenas, centenas de sons que ecoam sem que os consiga isolar e dar-lhes um nome. E se eu pudesse... multiplicar o meu eu, desdobrar-me, desmontar-me, partir para diferentes destinos daqueles que não surgem nas revistas porque, na verdade, não têm mesmo nada para ver. E vê-los assim, no seu nada que é um todo ofegante, um todo que rasura a alma que não está habituada ao nada que se estende à vista. Sem óculos de sol, sem saltos altos. Os pés descalços e a relva macia que desperta para dizer bom dia. Bom dia mundo. Bom dia vida.

avião de papel

Um avião de papel voa baixinho, rente aos telhados vermelhos, sem rota definida nem hora de chegada. Ele nunca chega, aliás. Ele simplesmente vai. Longe, cada vez mais longe, até onde as asas de papel suportarem o vento. Desliza e abana, plana sem motivos. Só porque sim.

Apelo

Dia 14 de Março, sexta-feira, pelas 21 horas no largo 5 de Outubro em Oeiras (frente à igreja, na vila) vamos fazer uma vigília em memória/homenagem ao (Moko) Diogo Ferreira. Também será um protesto pela insegurança que sentimos actualmente no nosso concelho e no nosso país. Passa esta mensagem aos teus contactos pelos meios que dispões. Cabe-nos a nós mudar o mundo e temos de acreditar que é com pequenos gestos como estes, mas cheios de força, que ele avança.

A iniciativa não é minha, mas lá estarei. Não só pelo Moko mas por todos nós. Apelo, sinceramente, a todos aqueles que, mesmo não conhecendo o Moko, possam ir, que se desloquem até lá. Afinal, somos nós os homens e mulheres do amanhã não é? Vamos tentar fazer a diferença e criar um mundo melhor para nós. Por mais inútil que possa parecer é mudando uma pessoa de cada vez que se muda a humanidade... certo? Como diziam numa música "Eles têm as armas mas nós temos a voz"...

Por favor não deixem de aparecer. Pelo Moko, por todas as vítimas de violência, por todos aqueles que amam, para que não sejam eles, um dia, e por vocês mesmos. Obrigada

Wednesday, March 05, 2008

Até um dia

Não é adeus. Não se diz adeus a quem já mora dentro de nós. Não nos despedimos dos sorrisos que sobrevivem mesmo depois de se extinguirem.
Haja o que houver aí onde estás, espero que estejas em paz. Que a tua alma se encha de alegria quando vês as centenas de pessoas que tocaste e cuja vida revolucionaste com os teus gestos e palavras. Que a vida nem sempre é justa já todos o sabíamos. Como dói a injustiça, isso, vamos descobrindo aos poucos. Perguntam porque acontecem coisas más às melhores pessoas. Há quem diga que só essas vão ainda a tempo de ser salvas.
Não quero chorar: quero sorrir e gritar ao mundo que tive o privilégio de ter alguém assim na minha vida. E abaná-los pelos ombros e dizer: Chega! Chega de correr de um lado para o outro, discutir, cansar a cabeça com coisas sem importância. Aproveitem o dia, beijem quem amam, abracem quem querem, dancem à chuva se assim vos apetecer. Chega de violência, de intolerância, de rancores. Chega de ódios sem sentido, a vida é demasiado curta para isso. Curta mas grande, enorme, brilhante. Vivam cada dia como se fosse uma viagem única no mundo. Foi assim que fizeste. E, dessa forma, conquistaste a imortalidade dentro de cada um de nós.

Isto não é um adeus Moko. É até um dia. Vou sentir a tua falta**************