Saturday, December 15, 2007

A eternidade em globo de neve

Tenho a eternidade escrita na palma da mão. Disse-me a velha que passava na praia, pés descalços na areia, toda vestida de negro. Do meu futuro não quero senão o amanhã sempre incerto. Não quero as previsões amarrotadas a um canto do pensamento nem os desígnios que me conduzem cega pelos caminhos. Quero a eternidade presa ao seu globo de neve. Agitá-la, desmembrá-la, dar-lhe o tempo que precisa até que assente. Ela só funciona enquanto está presa. Uma vez quebrado o globo, a neve deixa de voar.

A ontologia do Natal


Fazer da vida uma festa. Haverá algo melhor que celebrar cada momentinho, aproveitar cada desculpa para nos juntarmos com aqueles que são mais importantes? No fundinho, um Carpe Diem exaltado em que nos perdemos entre chapéus de bruxas, perucas de carnaval ou gorros natalícios.

Penso que qualquer introdução ao meu ciclo de festas temáticas é já desnecessária. Quem lê este blog sabe bem que, mês sim mês não, há festa temática marcada no calendário. O que pouca gente sabe é o trabalho que implica preparar uma festa destas: arranjar uma data, um sítio, a comida, a decoração, entretenimento... Mas quem corre por gosto não cansa e por mais que eu me queixe das dores de cabeça acabo sempre deliciada nos preparativos de uma nova festa.

Combinar o habitual jantar de Natal, este ano, revelou-se uma missão impossível até para o próprio papai noel. Datas sempre ocupadas, exames, trabalhos, jantares que se sobrepunham, uma ginástica de números que quase me levou à loucura. Mas, como é cliché de Natal, o que conta é a intenção, e portanto o nosso jantar viu-se "reduzido" a um cházinho tardio. Onde? Numa garagem. Porquê? Porque sim. Porque não havia outro espaço, porque não havia outro dia, e porque o que importava era estarmos todas juntas.

Daquele chá que parecia condenado pela pobreza resultou uma reunião surpreendentemente natalícia. Natalícia porque desta vez não havia pratos elaborados nem outras coisas que pudessem encobrir aquilo que realmente é importante: estarmos juntas. E com uns bolinhos, bolachinhas, pipocas e chá (abençoadas chaleiras eléctricas!) fez-se um encontro de Natal perfeito. A troca de prendas, que agora tanta gente critica porque "ah e tal é o problema do consumismo", foi acima de tudo uma troca de carinho. Prendas simbólicas, a puxar à gargalhada ou à lágrima, repletas dessa tal intenção que preencheu cada cantinho daquela garagem.

É nisso que reside a ONTOLOGIA do Natal (efeitos secundários duma frequência feita às 10h da manhã...). É nessa troca de mimos que vão para além dos brilhos, das luzes, das mesas perfeitas, do papel de embrulho, dos laçarotes de mil cores espalhados pelo chão.

E se vocês tiverem a sorte de, como eu, poderem partilhar cházinhos de natal deste género, então têm o mundo nas vossas mãos ;)


Feliz Natal para todos porque, para mim, a época de Natal foi hoje oficialmente iniciada!!

Wednesday, December 12, 2007

Man VS Machine

Ou Lolly VS o computador, a impressora, o secador do cabelo, o leitor de dvd...

Quando era mais novinha acreditava que havia sinais por todo o lado. Se chovesse era um sinal de que me ia acontecer alguma desgraça, se fizesse sol era um sinal de que me ia acontecer alguma desgraça... Na minha fase primitiva de mulher das cavernas, em que tudo era sinal de alguma coisa, travava longos diálogos com a minha impressora. Na altura, tinha uma impressora muito sensível, de feitio bem vincado, que só imprimia quando estava para aí virada. Por isso, quando ela se recusava a imprimir, eu dava-lhe festinhas, falava com ela e se fosse preciso até lhe faria sacrifícios mas, felizmente, ainda não conhecia a cultura Maia e não ia tão longe...

Ainda hoje detecto certos vestígios (Peirce, desanda, estás a atormentar-me o pensamento!) desse meu lado mais buga-buga. (Buga era o nome do peixe da minha filha, porque tinha os olhos estranhamente esbugalhados!... passemos à frente...) Quando uma coisa se recusa a funcionar tenho vontade de lhe chamar todos os nomes à face da terra. Como quando o secador inteligente decide que está demasiado quente e precisa de um intervalo, ou quando o pc acha por bem bloquear e apagar qualquer vestígio de um trabalho em andamento.
Nesses momentos imagino-me munida de uma lança (demasiado moderno?) ou de uma simples pedra, vestida com as minhas peles de mamute a destruir essas máquinas com vontade própria que parecem filhas do demónio. Assim numa versão mix de Flinstones com o boneco Chucky (ver abaixo para visualização mais pormenorizada)

Neste momento tenho 14 páginas de apontamentos para imprimir e a impressora queixa-se que não tem tinta... Respirei fundo. Deitei a mão a um objecto afiado mas algo me sussurrou: "ci-vi-li-za-çãoooo".
A resposta era simples, vinda de alguém com uma psyché aparentemente mais preparada para os contratempos dos tempos modernos que eu: "imprime a azul!". Isto com uma descontracção sem vestígios de raiva ante a máquina demoníaca.

Por isso, hoje, neste Lolly vs a máquina, venço eu! MUAHAHAH!
Ps- se o tinteiro de cor também estiver vazio então aí, sim, recorrerei à força!



Tuesday, December 11, 2007

Há quem ache que vivo com a cabeça na lua...

...eu acho que a lua insiste em dar-me cabeçadas! Porque se o mundo é feito de forças conjuntas, então o facto de por vezes parecer aluada não pode ser só culpa minha...certo?

Hoje, para não ter uma surpresa que me pudesse dar um ataque de coração, vi o comboio partir à minha frente. Tudo bem, tinha 20 minutos para relaxar enquanto esperava pelo próximo. Podia ter-me dedicado ao estudo, não fosse o facto de, sem surpresas, me ter esquecido do referido estudo em casa. Ora bem, toca de abanar as pernas debaixo do banco durante 20 looongos minutos.

Quando apanhei o comboio reparei que, comigo, viajava uma turma de jovens com os seus 13 anos que ia ao "museu das comunicações. TÉLÉ!!TÉLÉ COMUNICAÇÕES DUH!" (informação conseguida graças ao diálogo animado entre as cachopas sentadas no banco ao lado). Consegui ver, claramente, 10 anos atrás: eu e as minhas amigas, em puro êxtase por viajarmos de comboio (ahah ironia da vida) e os rapazes, claro, com umas bocas foleiras à action man, lá se iam metendo com as meninas e trocando cotoveladas entre si.

Chegada ao metro, já sem a minha turminha que partiu, a pé, para o museu das TÉLÉ TELÉ COMUNICAÇÕES! e sem material de leitura disponível entreguei-me a um dos meus hobbies: ver sapatos. Não sei se terá algo a ver com a minha estatura, assim com queda para o baixinho, mas distraio-me a ver os sapatos dos que passam e acredito que são muito bons para "ler" quem os calça. Foi assim que conheci a sra azul. Uma senhora com botas azuis, meias de vidro azuis, luvas azuis (atenção que tudo isto não era azul mas AZUL) e, claro está, óculos escuros com lentes... azuis! Tive tempo também para perceber que as luvas até ao cotovelo estão de volta (de volta como quem diz, saíram dos filmes das princesas disney e vieram para o mundo real) e que às 14h já muita gente tem um certo bafinho a álcoól indisfarçável.

E não posso deixar de mencionar o amigo do Paulinho, que sei que se chamava Paulinho porque ele não se cansava de dizer "Paulinhooo oh Paulinhoooo", que ignorando os pedidos da "voz do além" que se dirige aos utentes do metro, achou que devia fumar. Difícil, no entanto, estava acender o cigarro, porque o amigo do Paulinho não se conseguia aguentar em pé e o isqueiro devia estar ligeiramente desfocado aos seus olhos. Lá se sentaram, Paulinho e seu amigo que DE CERTEZA devia estar com febre ou coisa do género, coitadinho (drogas? claro que não que disparate!), nos banquinhos da estação do Campo Grande, em acesa conversa (ou monólogo porque o Paulinho quase não abria a boca, levando-me a questionar até que ponto o Paulinho conheceria de facto o amigo), até que uma senhora com casaco de peles até aos pés decidiu que também se ia sentar ali. Quer dizer, decidiu antes de os ver, porque quando os viu ficou tão horrorizada que fugiu para a outra ponta da estação, o que não pôde deixar de me fazer sorrir.

Agora digam-me, sinceramente, se eu fosse assim tão aluada conseguia reparar nisto tudo? Claro que a culpa é da lua, que às vezes gosta de me dar cabeçadas! E assim manifesto a minha indignação!

Thursday, November 29, 2007

Lolly-Hulk

Eu já sabia que fico nervosa antes de apresentar um trabalho ou defender uma nota. Não sabia, porém, que uma entrevista de estágio podia saber a um murro no estômago daqueles que nos deixam sem respirar.
A antecipação da minha primeiríssima entrevista para fazer alguma coisa (acho que o trabalho no cabeleireiro durante um mês não conta) foi vivida com a intensidade de quem aguarda um furacão capaz de arrancar o telhado à casa. Nervos, ansiedade, uma mistura de pura adrenalina e algum receio de bloquear, tudo isto misturado na minha "cabecinha pensadora" ou, como gosto de lhe chamar, o meu "passe-vite" de ideias.
Procurar na internet formas de relaxar não ajudou em nada, com um site onde referiam os erros mais estúpidos e frequentes que os candidatos a um emprego cometiam quando estão nervosos: entre eles, trocar o singular com o plural, errar na conjugação de verbos e, não estava lá mas quase podia decifrá-lo entre linhas, babar-se como se estivesse em coma. Ora, só isto? Bah, tranquilo!
Foi então que achei que precisava de um calmante. E barafustei cá em casa até o Doutor me dar um comprimido à base de valeriana que, sinceramente, bem podia ser um smartie que devia fazer mais ou menos o mesmo efeito.
O mais incrível foi que, à medida que a hora se aproximava, os nervos iam-se dissipando. E não, não era do calmante que continuo a achar que o doutor substituiu por smarties. Era porque as poucas pessoas com quem tinha partilhado o meu estado de nervos me mandavam mensagens a dizer como acreditavam em mim, e como tudo ia correr bem. E assim, mensagem a mensagem, o coraçãozinho abrandou o seu ritmo, os nervos voaram para longe, e ficou só a vontade de chegar lá e ser capaz.
Cheguei, sorriso no rosto, fui capaz. E voltei com a certeza de que enquanto tiver as mesmas pessoas à minha volta, pode vir o Hulk, o Homem Aranha ou até mesmo o Super Homem, que eu hei de estar sempre à altura ;)

Tuesday, November 27, 2007

O dia das boas acções

Ontem foi o meu dia das boas acções. O dia em que acordei decidida a espalhar o bem pelo mundo como se fossem confetis coloridos.

Tudo começou com a resolução de cortar um bocado de cabelo que me incomodava. Isso mesmo, um pedaço de cabelo que me atormentava as manhãs, sempre espetado para os lados, com que fazia malabarismos com ganchos, fitas e elásticos. "Mas onde está a boa acção?", perguntam vocês. É que, para poupar dinheirinho aos pais, decidi cortar... em casa. Chamei então a irmã mais nova, que por acaso é a única que tenho, e pedi-lhe que me cortasse a franja com a tesoura da cozinha. A irmã mais nova é também, curiosamente, a mais sensata, e não estava muito disposta a arriscar cortar-me o cabelo para eu depois ter um ataque de pânico por não gostar. Tive então de recorrer ao seu ponto fraco: a poupança. É que a irmã mais nova e mais sensata é também a mais poupada, e com o argumento de poupar dinheiro cortou-me logo a franja de uma tesourada apenas. ZÁS! Nem tive tempo de repensar a minha decisão.

OH NÃO! O QUE É QUE EU FUI FAZER?! foi a primeira coisa que me saiu da boca. Quem me conhece sabe que eu sou uma activista pelo movimento NÃO À FRANJA, que agora está na moda e portanto toda a gente usa. E ali estava, na mão da minha irmã, o meu grito de guerra, o meu estandarte caído no campo de batalha, todos os meus argumentos para não ter franja... E assim se acabou o movimento que afinal era só constituído por mim mesma...
Depois desta boa acção que beneficiou não só os pais, como o meu cabelo, as meninas da franja que lá venceram o combate e ainda a minha irmã que teve oportunidade de treinar os seus dotes de "chef de cuidados capilares", eu ainda não estava satisfeita.

Sim, tinha feito algo pelo mundo, mas não me bastava. Uma franja assimétrica caseira não era suficiente para mudar o meu dia.

Foi então que, ao chegar a casa, fui visitada por uma amiga asiática (ela não é bem asiática, é especial, digamos...) que tinha encontrado as chaves da minha vizinha penduradas na fechadura da porta da rua. Tomada de todo o meu espírito de bondade, lá me dirigi, depois de 40 minutos de conversa com a minha amiga, ao apartamento da vizinha de idade avançada. E porque é que eu refiro a idade da senhora? Já vão perceber. Toquei à campainha duas vezes, e conseguia ouvir a novela do lado de dentro, aos altos berros... Finalmente a senhora lá se apercebeu que estava alguém à porta.

"Quem é?"

"É a vizinha de cima.."

"Quem éééé?"

"É a vizinha de cima..."

"Quem éééé?"

"É A VIZINHA DE CIMAAAA!"

e ficámos nisto durante alguns 5 minutos até que a senhora lá conseguiu ouvir que era a VIZINHA DE CIMA. Só que havia outro problema: como comprovar que era mesmo a VIZINHA DE CIMA?

"Aiii a luz do patamar não funciona... Não a vejo.."

"A senhora perdeu umas chaves?"

"A luz do patamar não funciona... Não a vejo!"

"A SENHORA PERDEU UMAS CHAVES?"

"Olha, não sei quem é... a luz não funciona..." (isto dizia ela para ela mesma, em voz alta, depois de já termos chegado à conclusão que era a VIZINHA DE CIMA)

Convém dizer que todas as casas têm uma lâmpada do lado de fora que ela podia acender, mas só passada meia hora é que a senhora se lembrou disso.

Finalmente, lá abriu a porta a medo, não fosse eu um ladrão mascarado de VIZINHA DE CIMA. Fiquei a saber que durante esses 40 minutos a senhora fez uma jornada a pé até casa de uma amiga para ir buscar as chaves suplentes (ups! claro que não mencionei o facto de ter as chaves há 40 minutos mas ter estado ocupada com a minha amiga). Descobri que ela e a vizinha da frente vão alternando na mudança das lâmpadas do patamar mas que agora está atarrachada com muita força e portanto não conseguem, que a vizinha do rés-do-chão deixa a porta da rua aberta para o cão ir passear sozinho, possibilitando, assim, a entrada de ladrões, que uma antiga vizinha da senhora foi assaltada por uma brasileira quando ela ainda vivia "lá em cima" (seja lá isso onde for), e, claro, que a minha vizinha é ligeiramente surda...

De regresso a casa, passada meia hora, estava cansada, mas cheia daquele espírito das boas acções. Mas não, não era suficiente.

Cozinhei simples postas de pescada de uma maneira nova e original para os meus pais que não sei se gostaram ou não mas fizeram "nhami nhami". E depois de adormecer a minha filha e ser tempo de partir para o café onde as minhas amiguinhas me aguardavam, pensei: e que tal uma última boa acção? Assim, fiz um balde de pipoquinhas salgadas, a garrafa de água de litro e meio, e o trivial no carro e passámos uma daquelas nossas noites simples mas sempre especiais em que o Joaquín Cortez é o homem da noite (quando não sabemos mesmo a resposta arriscamos o Joaquin Cortez.. ideias daquela minha amiga "especial" a quem a gente diz que é chinesinha, não é mais nada...).

Na hora de adormecer, embalada pelo "Il mio viaggio in Italia" do Scorsese, senti uma luzinha especial a pairar por cima da minha cabeça. Até podia ser o candeeiro da mesinha de cabeceira, diriam os mais cépticos, mas eu senti que era uma pequenina auréola que, por momentos, estava a pairar sobre mim.

Friday, November 23, 2007

Matrioskas

Poucas foram as vezes em que deixei que o raciocínio inerente à escrita me embalasse os dedos ao ponto de deixar aqui mais do que queria. Algumas vezes, desejei fazê-lo. Escrever duas ou três frases que estão entaladas naquele espacinho milimétrico entre as teclas, despejá-las de uma vez.

Mas eu não sou assim. Não fiz do meu blog diário íntimo, poço de desejos, fim do arco-íris repleto de promessas. Não, eu não sou assim. Por vezes deixei que as emoções flutuassem no ecrã um pouco acima da superfície do que não digo, mas nunca as ensinei a nadar por entre estas linhas.

E compreendo quem o faz. Quem sente esse impulso, essa vontade, e cede à sedução de um espaço só seu que aguarda, pulsando, intermitente, as próximas letras.

Pergunto-me porque não o faço. Sou boa a brincar de escrever. Sou boa a arranjar parvoíces para dizer, a ocupar espaços com arabescos sem sentido que raramente conduzem ao caminho certo para me descobrir. Preservo-me e guardo-me. Cubro-me e tapo-me. Talvez assim "os maus" nunca me possam achar. Pesa um silêncio absoluto do eu em muito do que digo. Não é que não esteja lá, mas tapo a boca com as mãos, constantemente.

Sobrevalorizo as palavras, contemplo-as como a criança que tem de "ver com as mãos", a boca aberta de espanto, os olhos fixos nos pormenores dourados duma porta antiga. Onde leva? Remexo nessa caixa de puzzles de letras que monto e desmonto, mas nunca monto o meu.

O meu é meu. As coisas verdadeiramente nossas podem ser eternas se as soubermos preservar. Acho que é nisso que acredito, quando recorro ao "back space": há riscos demasiado grandes.

Gosto de segredos. Gosto das matrioskas cujo fim não se descobre nunca: e se aquela última boneca, ínfima na minha mão, se pudesse abrir, o que encontraria dentro dela? Se se pudesse abrir e deixasse à vista apenas o vazio, então talvez abandonasse o seu corpo oco e desarticulado num canto e seguisse para a janela, para descobrir as feridas que os relâmpagos abrem no céu. Feridas efémeras, mais rápidas que o olhar, porque quando tento compreendê-las, já não as vejo. Para sempre, nelas, um segredo que os livros de ciência não podem descodificar com fórmulas: há coisas que não se explicam, sentem-se.

Há coisas que não se dizem, vivem-se. E há palavras que gosto de guardar só para mim, como a boneca que não se abre nunca.

Tuesday, November 20, 2007

Quem disse que a ópera era coisa de velhos? (a música dos arrepios)



Una furtiva lagrima
Negli occhi suoi spuntò... quelle festose giovani invidiar sembrò...
Che più cercando io vo?
M'ama, lo vedo.
Un solo istante i palpiti
Del suo bel cor sentir!..
Co' suoi sospir confondere per poco i miei sospir!...
Cielo, si può morir;
Di più non chiedo.

Inglês
A sullen and secretive tear
That started there in her eye...
Those socialising bright young things
Seemed to provoke its envy...
What more searching need i do?
She loves me, that i see.
For just one moment the beating
Of her hot pulse could be felt!..
With her sighing confounding
Momentarily my sighs!...
Oh god, i shall expire;
I can't ask for more.


(Já percebem a última parte do título, não?)

Monday, November 19, 2007

Já chove

Acordei com as Cataratas do Nicarágua do outro lado da janela e pensei: "Ora bolas, viemos fazer uma viagem e os meus pais nem me avisaram!"

Até que se dissipou o sono, os olhos acostumaram-se ao dia (cinzento, cinzento) e percebi que estava SÓ a chover. A chover como quem usa um eufemismo para "estava a haver um dilúvio". Havia gente na rua praticando as famosas danças tribais do "agarra o chapéu de chuva" e "salta a pocinha" e quase jurava que se olhasse bem ia ver peixinhos a nadar na estrada graças às sarjetas entupidas.

O Natal de mangas curtas não tem piada. Natal é neve (na televisão, claro!), lareira acesa, marshmallows assados (outra coisa que só acontece na televisão), cachecóis branquinhos e peludos (a uma distância segura da lareira), as janelas embaciadas e as luzinhas a brilhar até se fundirem, uma a uma, e não restar mais nada a não ser um fio feio com pendentes estranhos colado aos vidros com fita-cola. (O facto de faltar mais de um mês para o Natal é um pormenor sem qualquer importância no contexto deste post).

Este tempo inspira-me sentimentos contraditórios: uma espécie de alegria caseira, uma vontade de rir sentada no sofá, de olhar para os outros lá fora e agradecer o cobertor por cima das pernas. Calço as galochas floridas e domino o mundo! Eu, aquela que não molha os pés e pode saltar à vontade! Que tem o impermeável e por isso pode dançar à chuva! Que já está constipada de qualquer forma e por isso pode apanhar frio sem medo!

A chuva não me deixa melancólica. Faz-me rir. Faz-me rebolar na cama meia hora antes de me levantar enquanto penso em músicas que envolvam chuva e as canto baixinho, debaixo dos lençóis.

"Este tempo, hum?"

"Estava na altura"

"Ah também é preciso não é?"

"Pois, pois é"

Mas o que eu queria mesmo mesmo era dizer-lhe (ele, o motorista de 60 anos da escola da minha filha): "Let's sing in the rain!", talvez acompanhado da devida tradução caso ele não me entendesse, com os chapéus de chuva a servirem de bengala para fazer os truques dos clássicos do cinema americano tal Gene Kelly.

Friday, November 16, 2007

Pó de talco

Ora aí está um belo produto cuja utilidade me passa ao lado.
Sempre associei o pó de talco a rabinhos de bebés. Isto, claro, antes de ter um bebé e descobrir o Halibut (sem querer fazer publicidade, e por isso refiro também o Mustela vá...).
A verdade é que ser mãe me despertou para algumas questões totalmente novas: para além de me tornar uma pessoa mais consciente dos outros, mais pieguinhas nalguns sentidos e mais forte em tantos outros, também me mostrou que os rabos de bebés representam todo um mercado milionário, uma indústria poderosa que envolve cremes, loções, toalhetes, fraldas e mil e um produtos prontos a fazer do rabinho do nosso bebé pura seda.
(Talvez esteja a conseguir um resultado histórico, com o post em que mais vezes se refere a expressão "rabinho de bebé" em todo o mundo!)
Chega de rabinhos de bebés (pronto, esta foi propositada para ver se o Guiness repara em mim) e voltemos ao assunto que me traz aqui: o pó de talco.
Lá ia eu, atravessando esses labirintos subterrâneos a que chamam metro de Lisboa, quando, ao meu lado, sinto o cheiro inconfundível do pó de talco. E pensei: "mas ainda há gente a usar pó de talco?". Sim, parece que há. Não percebo bem para quê e espero, sinceramente, que não envolva rabinhos.
Com toda a evolução no mercado dos desodorizantes (pérola: axilas perfeitas; invisivel: sem manchas brancas; 24h: secura maxima; flores do campo: pétalas sob o sovaco, e tantos outros!), não acredito que ainda alguém use pó de talco para esses efeitos. E mesmo os pés já têm desodorizantes próprios para eles!
Mas quem sou eu para subvalorizar o pó de talco? Eu, que não sou desse tempo em que o fiel e branco amigo acalmava irritações e se deitava, sem queixumes, junto com a meia fedorenta?!
Assim, numa tentativa de reconciliação com o pó de talco decidi-me a inventariar alguns dos seus usos:
- Cabelo falso de velhinha
- Neve na árvore de natal
- Farinha de brincar (para as crianças)
- ...
e já me parecem motivos suficientes para impedir que este grande dinossauro, o PÓ DE TALCO, entre em extinção.
Salvemos o pó de talco porque, em tempos, ele salvou-nos a nós... e aos nossos rabinhos de bebés!
(tinha de acabar assim. Ganhei?)

Thursday, November 15, 2007

Ok, Stephen, aceito-te de volta :P

Li Stephen King pela primeira vez devia ter 11 ou 12 anos. Um livro com contos de terror que não me impressionaram: não eram suficientemente aterradores para uma miúda que gostava de passar as tardes, depois das aulas, a ver os "Pesadelo em Elm Street" com os amigos, numa sala escura.
Voltei a pegar no "rei" depois de longos anos de divórcio. Depois de ver um filme inspirado numa obra dele. Já não era o terror, era a imaginação que me atraía. Não queria ter medo, não queria ser incapaz de dormir durante a noite. Queria, só e apenas, alguém que fosse capaz de imaginar na mesma proporção que eu. Alguém que me fizesse abrir a boca de espanto e bater palmas no fim.
"A História de Lisey", que acabei hoje de ler, foi o meu reatar com ele. Foi um "desculpa lá aquilo dos contos" e ao mesmo tempo um desafio "vê lá se fazes valer a pena". E ele assim fez. Calou-me as dúvidas e os preconceitos, devolveu-me o desafio com a ponta afiada da caneta: touchè!
Do lago onde todos vamos pescar as palavras, ficou a vontade de pescar sempre a perfeição, doce a infiltrar-se na garganta, e de caminhar um dia pelas praias da minha própria Moo' Ya Moon.

Saturday, November 10, 2007

Menina Rainha


Menina rainha,
tão segura de ti caminhas
sem olhar a quem pisas nem a quem magoas!

O teu manto dourado com que cobres os outros,
com que negas a existência para além de ti,
está roto e sujo por baixo.

O seu brilho é manchado pelas lágrimas alheias,
de sal e água, gotejar de sereias
que são condenadas a uma vida menor.

Menina rainha,
olha em teu redor:

quantas vítimas do teu desprezo?

quantas vidas que ignoras?

quantos rostos que não olhas?

quantas almas que devoras?

Desce do teu trono de cristal,
descalça os sapatos, rasga o brasão
e sente, como todo o mortal,
a terra quente que palpita no chão.

É vida! Estremece,
contorce-se, geme e grita!
É o suor e o sangue dos antepassados
que nela revive e se multiplica.

E do teu pedestal, talvez não se veja.
Daí, onde estás, talvez o mundo não pareça importante.
Com o teu universo artificial de brilhos e luzes
talvez tudo te seja demasiado distante.

Segues caminhando a estrada dourada
sem nunca saberes, de facto, quem és,
porque nunca pisaste a terra que rebaixas
com a pele descalça dos teus pés.

Menina Rainha, és só menina.
Deita fora a tiara, esquece a nobreza.
Porque no mundo real os nobres são outros
e as rainhas de facto também conhecem pobreza.

São aquelas que limpam com as costas das mãos
as lágrimas dos filhos, amparam as quedas,
abraçam amigos, consolam irmãos
e abrem o peito ao mundo que vedas.

São aquelas que se erguem, mesmo que feridas,
e trazem no coração o mundo inteiro,
e têm na cabeça a coroa perfeita,
porque é feita de tudo o que é verdadeiro.

Thursday, November 08, 2007

Karma



Foi levada pela série " My name is Earl" que pesquisei a entrada "karma" no google. Hoje em dia, tudo fala de karma: a já mencionada série, a Alicia Keys na sua música "Karma" (what goes around, comes around, what goes up must come down), e os muitos metafísicos que julgam (melhor, AFIRMAM) perceber todas as linhas deste grande novelo com que se entrelaça o mundo. Depois de muita discussão, incompreensão e acesos debates, decidi informar-me à minha conta, no fabuloso mundo da internet.


O karma é a lógica segundo a qual todos os acontecimentos têm uma justificação que advém das acções do passado, sejam elas desta vida ou de uma vida anterior (eles acreditam na reencarnação). Assim, uma criança aparentemente inocente que seja assassinada por um psicopata estará apenas a pagar por um mal cometido numa vida anterior. Da mesma forma, o psicopata poderá não sofrer nada nesta vida mas sofrerá, de certeza, numa vida futura.


Ao ler isto, tive a imediata sensação de que o homem procura desesperadamente uma noção de justiça que, tantas vezes, não passa de um conceito bonito, ideal e irreal. Alegar que a injustiça nesta vida será compensada numa vida futura não será, só e apenas, uma forma, totalmente disprovida de bom senso, de tranquilizar o espírito?


Não sou uma pessoa religiosa, mas acredito em muitas coisas e tenho aquele tipo de fé em "alguma coisa para além de nós", mas obrigo-me a ser prática e reconhecer que, às vezes, existem de facto injustiças. Sim, há maldade pura. Sim, há coisas que não deviam acontecer. Há acidentes, incidentes, acasos, azares, INJUSTIÇAS. O karma estará mais ou menos na mesma categoria que o julgamento final: não acredito neles. Acredito em ser boa pessoa hoje para ser feliz hoje. Não espero recompensas divinas: sei que se agir bem com os outros isso me deixa melhor comigo mesma e basta-me. Erro, como toda a gente, tento corrigir os meus erros, outros nem me dou ao trabalho de os rever... mas se pagar por eles, acredito que será nesta vida, com aquela coisinha a que se chama CONSCIÊNCIA. Talvez esse karma, esse julgamento final se proceda nos últimos segundos de vida, quando pesamos o que fomos e o que nunca pudémos ser, e nos medimos como pessoas, sabendo que esta foi a única oportunidade que tivémos de nos tornarmos imortais nos outros... ou não.

Wednesday, November 07, 2007

Marktest e RTP2: uma combinação....

Para além das velhinhas solitárias, só conheço duas pessoas que gostam de responder aos questionários da "Marktest" via telefone: eu e uma amiga que fala com personagens de séries como se estivessem ao lado dela.
É interessante ter alguém que nos liga, pura e simplesmente, para ouvir. No fundo, são uma espécie de muro das lamentações que nos contacta, quinzenalmente: "Então e de que anúncios se lembra?" "Ah, lembro-me daquele da coca-cola, mas sabe, eu nem gosto de coca-cola ahahah! Que engraçado, não é?" "Hum hum muito engraçado... E do slogan recorda-se?". Isto sim, uma boa conversa à moda antiga, em que nós falamos e eles ouvem e, ainda para mais, dão-se ao trabalho de ESCREVER a nossa resposta (ouvem-se as teclas do pc lá atrás, e eles a soletrarem baixinho o que acabámos de dizer), deixando bem claro que o que dissemos foi IMPORTANTE.
Ontem tive uma dessas conversas simpáticas. A senhora não era tão atenciosa como de costume, mas pensei "ora bolas, mesmo o muro das lamentações tem direito a um dia mau" e fiz por animá-la não obtendo, no entanto, resultados muito satisfatórios.
Mas o que me trouxe aqui, de facto, foi o espanto que perpassou numa destas conversas. Falávamos de televisão, e depois de me perguntarem pela SIC, RTP1e TVI lá me perguntaram pela RTP2, quase como por favor, e sem esperar a resposta.
"Sim, todos os dias."
"Como? A RTP2"
"Sim, vejo todos os dias"
"..... E quanto tempo por dia?"
"Hummm uma hora por dia, talvez"
"22 anos?"
"Sim, sim"
"Hum hum", disse ele com algum cepticismo na voz.
Ora, o que eu não expliquei foi que só tenho 4 canais no quarto. Que à noite a SIC e a TVI (esta, por acaso, nunca vejo, nem 5 minutos por dia o que muito surpreendeu o meu interlocutor) só dão novelas e que a RTP1 passa filmes estranhos que me põem a dormir em 3 minutos.
E a RTP2 passa documentários muito giros. Sim, giros mesmo. Não se limita à vida animal (o meu grande trauma, não suporto ver), mas estuda constantemente o comportamento humano! Psicologia, biologia, está lá tudo, de forma divertida e leve, com experiências live para comprovar o que se diz.
Gosto e recomendo. Sinto-me sempre mais culta quando finalmente adormeço e sonho com tubos de ensaio e pessoas com sacos com tubos presos ao rabo O DIA INTEIRO para medir os gases de acordo com a alimentação (sim, isto passou, de facto, na rtp2!). Ou uma experiência em que embebedaram homens e mulheres (saudáveis, com hábitos de bebida considerados normais) com a mesma quantidade de alcoól para verem quem evidenciaria maior nível de alcoolémia no teste do balão (as mulheres ganharam, claro... HIP HIP URRA!). Vejam, é ciência de tu para tu, permite umas quantas gargalhadas ao estilo Jackass e ainda saem com umas frases óptimas para quebrar o gelo: "sabias que uma alimentação rica em vegetais aumenta os níveis de gases produzidos?". Nada mais cativante!

Monday, November 05, 2007

Des-ilusão

A palavra desilusão sugere a negação da ilusão. Talvez, pensei vezes sem conta, a solução resida aí, na análise da palavra, no evitar da ilusão que se tornará desilusão. "A palavra cão não morde" disse algum linguista, desses muitos que estudei ao longo dos 3 anos que já tenho de faculdade. E a palavra desilusão? Desilude. Entristece. Faz-me sempre sentir um bocadinho mais pequena, quando a leio, um bocadinho mais nova, encolhida debaixo dos lençóis, tentando afastá-la com as pontas dos dedos que os apertam com força.
Hoje mudo. Olho ao espelho, digo a palavra em voz alta, fixo os lábios que a soletram, devagar: de-si-lu-são. Não me assustas. Não me encolho, não me escondo. Não procuro o interruptor para a encobrir com a escuridão.
A desilusão, essa palavra feia de negação, há-de estar sempre presente na minha vida. Os lençóis serão roídos por traças muito antes que ela desapareça. O segredo não está na não ilusão, não para mim, mas na aceitação: ao longo da vida, a desilusão há-de bater a esta porta muitas vezes, e eu escutarei a sua mão mirrada na maçaneta, forçando a entrada no meu mundo perfeito.
Recusar a ilusão não será um risco bem maior do que o de nos virmos a desiludir? Que ser, tão forte, tão não humano, se poderá recusar a iludir-se durante toda uma vida? E quantos momentos serão perdido em nome dessa segurança idílica? Como num salto de pára-quedas, confio, salto: por momentos, o céu e só ele sob mim, sob a minha barriga, o sorriso deformado pela força do ar que me empurra os músculos para cima. Confio, porque viver sem confiar em ninguém é viver eternamente sozinho. Salto, porque viver eternamente com os pés na terra é renegar o sonho mais antigo do homem. Confiar, é ganhar asas de papel e cruzar os dedos no momento do vôo, pedir que não se desfaçam em pedaços quando estiver mais alta.
Não podemos confiar sempre e em toda a gente, mas, de vez em quando, é bom confiar. É bom dizer a nós mesmos, no mais profundo dos silêncios que é o pensamento, "confio em ti" e fechar os olhos quando nos dizem: vá, tenho uma surpresa, fecha os olhos e abre a mão.
A vida é demasiado curta para fugir da ilusão. Imagino que isso consuma mais energia e esforço do que recuperar da eventual desilusão. Porque, mais cedo ou mais tarde, ela há-de chegar, e, por mais que tentemos, nunca seremos capazes de a evitar sempre..
Salta.
Confia.
Fecha os olhos.
Vale a pena.

Thursday, November 01, 2007

"Crónica de um Halloween"


Se isto fosse um filme, a sua análise iniciar-se-ia pelo título e o Prof. J.M.Grilo diria que o facto de ser uma crónica indiciava uma ruptura com o modo habitual de narrativa cinematográfica e demonstrava uma ausência de controlo sobre os acontecimentos.

Controlo? Pois bem...

Exactamente que porção de controlo existirá numa casa perdida no reino da fantasia, onde músicas mórbidas, um menu repleto de nomes de pratos grotescos, teias de aranha, fantasmas e múmias penduradas de candeeiros coexistem com 10 miúdas mascaradas de tudo o que pode ser mais horrível? Posso garantir-vos, então, que controlo não foi a palavra da noite, mas em contrapartida animação não faltou!

A animação, para falar a verdade, já tinha nascido muito antes dessa noite. Há quase uma semana que se desenrolavam preparativos secretos, com direito a sms trocadas à volta de uma mesa de café para não deixar escapar nenhum pormenor! "Como é que vamos fazer AQUILO?" ou "Já trataste DAQUELA COISA?" tornaram-se expressões quotidianas e agravaram a afasia que por vezes nos assola. Nada de grave, há que fazer sacrifícios em nome da perfeição, e nem mesmo uma tarde de trabalhos manuais extremamente agressivos, deixando sérias mazelas nuns dedos arroxeados, nos deitaram abaixo!

Às 11 da manhã lá estávamos nós, ora nos tachos ora na tesoura e na fita-cola: agrafadores, açúcar, papel e tomates conviviam na mesma mesa, lado a lado, prometendo uma noite recompensadora.

E assim foi: dez monstros invadiram a minha sala, que já não era a minha sala, era uma sala saída dum filme de terror, com teias que se agarravam constantemente à faca que tinha espetada na cabeça (calma, era uma bandolete que dava esse efeito... não levei o espírito ASSIM tão longe!), e sons de mochos, fantasmas e lobos a abafarem os risos incontroláveis.

Mímica, o jogo dos papéis de personagens na testa, e o famoso "Murder Mistery Game" deram um toque de convívio especial a esta noite que acabou com a Samara, o bebé cadáver e duas diabas amontoadas no meu quarto, enquanto me fui deitar na cama dos meus pais aproveitando ter TV CABO para ver antes de dormir (sim, que no meu quarto, tendo apenas 4 canais, a noite acaba quase sempre com a RTP2 a embalar-me os sonhos).

Por isso, controlo?... Não.

Foi uma noite de sustos, berros, risos, gargalhadas maquivélicas a ecoarem pelos cantos. Uma noite de convívio puro, de pura fantasia, de interpretação de personagens até cairmos para o lado. E eu adorei cada segundinho desta falta de controlo que a vida de uma crónica me proporcionou.


*Na foto: (da esquerda para a direita, em cima) Diaba Gótica (Rachel, minha companheira Chef e co-organizadora desta noite fantástica!), Golden Witch (a minha Niky que pela primeira vez jogou como minha opositora no jogo da mímica e me irritou por pensar exactamente da mesma forma que eu!! Acho que 12 anos fazem destas coisas...:P), Diabinha Trapalhona (Dee, que garantiu que não era nada desastrada mas conseguiu deitar tudo abaixo lol... não faz mal,estás perdoadíssima ;)), Bebé Cadáver (Gui, a minha filha assassinada com o saca-rolhas que lhe espetei na cabeça antes de eu mesma ser assassinada pelo meu noivo... e acham o guião confuso? não reclamem comigo, não fui eu que escrevi!), Samara (Drinha, também conhecida como Samantha nesta noite, que se andava a contorcer pelos cantos e a pedir Sagres com vozes esquisitas), Bruxa pálida (Raquel, sempre com o seu ar matador nas fotos... ;) chegaram tarde mas marcaram presença!), Bruxa da Coca-Cola (Sonya, a única pessoa que conheço que consegue fazer um bolo delicioso juntando coca-cola, que detesto, côco e leite condensado! Nota 21!);
(em baixo) Noiva Cadáver (por acaso nunca vi aquela gaja na vida... :P eu, com a faca espetada na cabeça e o sangue que ao fim da noite já se colava aos cabelos e começava a irritar ligeiramente), Bruxa morta ou um bocadinho para o podre (Mana Jo, brilhantemente maquilhada, tava lindaaaa mesmo!) e Noivo AKA Morte AKA bruxa da branca de neve com bigode (Mary Jane, sempre animada e interventiva, uma habitué destes serões).
No fundo, bastava dizer que na foto estão as minhas AMIGAS, umas de anos, outras de meses, mas todas muito importantes para mim. É porque acredito que são as pessoas que fazem os sítios que sei que a festa não poderia ter corrido melhor ;)

Thursday, October 25, 2007

Debaixo da cama

Debaixo da cama não há fantasmas. E, ainda assim, hesito antes de espreitar, uma fracção de segundo em que o coração pára de bombear vida e se cala para não perturbar o mundo dos mortos.
Debaixo da cama há o pó, as canetas que rebolaram, ligeiras, até à parede mais afastada, os arranhões que o aspirador não teve pudor em fazer na madeira brilhante.
Espreito. Devagar, não vão eles fugir. A mão que levanta a colcha como se abrisse a cortina para um outro mundo, púrpura e silencioso. Os olhos habituam-se à escuridão que reina ali, debaixo da cama, onde tudo é possível. Por momentos... Não.
Debaixo da cama há pó, canetas, arranhões, o bilhete de comboio que caiu do bolso das calças. Mas poderia jurar que, antes dos meus olhos se habituarem ao escuro, vi dezenas de formas, centenas de rostos, milhares de gestos. Antes dos meus olhos se habituarem à luz do nosso mundo, que nos cega e ampara, nos acalma o espírito e nos tranquiliza os medos com ciências exactas...

Wednesday, October 24, 2007

Partes de mim


Sei que parte de mim viverá eternamente insatisfeita. Parte de mim, a das asas que batem contra as grades da gaiola dourada, quererá sempre mais, ansiosa de ver para além do horizonte onde acaba o mundo plano e ele se torna redondo. Parte de mim lamentará, até ao fim dos meus dias, não ter visto cada estrada,cada pedra,cada rosto. Essa parte de mim chorará baixinho, frustrada nas suas expectativas de conhecer o mundo. Revoltar-se-à contra a pequenez do homem, a sua efemeridade, as limitações físicas que envolvem a sua alma gigante.
Mas também sei que a minha outra parte, a dos murmúrios dos dias simples, me levará mais longe do que alguma vez os pés mo permitirão. Dir-me-à, procurando um sorriso pleno, que tudo aquilo que um homem pode desejar se situa à sua volta, nas coisas mais simples, nas pessoas mais próximas. Que tudo aquilo que um homem pode, de facto, possuir, será para sempre seu, inviolável mas frágil, parte de si como o próprio sangue que lhe corre nas veias e lhe dá vida. Que dos recortes do mundo, qual trabalho de colagem, levará apenas aqueles que lhe tocarem a alma e não os que lhe marcarem o corpo. E que a minha alma, essa, poderá sempre encher-se um pouco mais e beber das coisas quotidianas que nascem, todos os dias, diferentes.

Tuesday, October 23, 2007

Pé, pézinho, pézão!


Os dedos dos pés ficam para trás. Não sei o que se passa, mas dede pequenina que tenho o hábito de bater com os dedos pequeninos dos pés em todo o lado. Estão tortos e encurvados como o Corcunda de Notre Dame (que imagem tão sexy!).

Se calhar, eles andam depressa demais. Tal como o Gino de "Ossessione", os meus pés têm um formigueiro permanente que os faz "flanêurs" por aí, loucos embriagados que vão contra portas sem nunca, no entanto, pararem de avançar.

Eu vou e venho e mesmo quando fico estou em movimento. Os meus pés estão sempre a bater em algum lado, a sentir um ritmo que não se ouve, a balançar debaixo do assento de uma cadeira, a rodar nos tornozelos num gesto zen, a apanhar as coisas que caem quando não tenho paciência para me baixar.

Os meus pés hiper desenvolvidos calçam o 35/36 e passam despercebidos na grande metrópole dos pés. Não usam mata-baratas (vulgos sapatos bicudos) nem nada que os possa disfarçar. Eles gostam mesmo é do chinelo, dedos de fora a saborear o vento, a terra e as pisadelas de vez em quando.

Os meus pés são simples, humildes, trilham o seu caminho rés ao chão. Permitem-se, de vez em quando, delírios de pinos e rodas (a última correu bastante mal e desde aí andam algo medricas), e amam andar de fora da janela, no carro. São pés que sonham vaguear pelo mundo inteiro, mesmo que a maioria das vezes apenas o façam directamente do sofá. São pés que hesitam entre o buraco e a poça, e que, às vezes, quando ninguém está a olhar, saltam como bailarinas entre as pedras da calçada, com risinhos de desafio à ordem estabelecida. Gostam de se descalçar, sentir o frio, o quente, o áspero, o suave, o nivelado, o desiquilíbrio, a relva, a areia, o mar, a estrada que ferve no verão.

O meus pés sonham tão alto quanto a minha cabeça e por isso, quando tudo o resto falha, basta-me fechar os olhos e deixar que eles me levem até onde a terra é mais fértil.


Monday, October 22, 2007

Jean-Poisson-Vodka e seu fiel amigo Jorge

Ele tinha um sonho simples: tornar-se o primeiro homem a aprender a falar a língua dos peixes. Desejava-o, não pelo dinheiro que poderia ganhar, não pela fama, mas porque todos os seus peixinhos de aquário morriam depressa e ele vivia intrigado com aquilo.
Começou por observar a interacção no seu casal de peixinhos dourados, ignorando o sexo de casa um e as suas tendências sexuais, sem saber mesmo se haveria ali romance ou não. Anotava num caderno cada gesto, cada abrir e fechar da boca (excepto quando comiam pois partia do princípio que eram peixes da mais fina educação), cada atirar da barbatana mais sedutor.
Passados 2 anos já era capaz de travar com eles (não com os primeiros que esses, claro, já tinham morrido) uma conversa básica, sem ser capaz, no entanto, de perguntar o porquê da sua morte precipitada.
Até que chegou ao seu aquário o mais belo espécime que alguma vez vira: um peixe dourado que falava brilhantemente o russo e o francês e que usava um bigodinho chiquérrimo a condizer. Em desespero, confirmou que nem mesmo o mais brilhante dos peixes lhe sabia responder.
Jorge morreu pouco tempo depois. O peixe russo-francês sobreviveu por muitos e longos anos, e decidiu aprender a língua dos homens de modo a perceber o que tinha sucedido ao seu dono.
Nenhum dos dois foi capaz de compreender. É que o peixe não possuía a consciência de finitude e mortalidade: para o peixe, todos os dias eram iguais e quando morreu engasgado com um bocado de ração nem se apercebeu do seu fim eminente, recusando-se a gritar ou algo do género, porque, bem, ele era educado e não falava de boca cheia. Já o Jorge não compreendia que o conceito da morte era inexplicável para o Jean-Poisson-Vodka (o nome do peixe educado!), que por isso, por mais educado e poliglota que fosse, nunca seria capaz de explicar ao seu dono o porquê da sua curta vida, até porque ele não sabia o que era curto ou longo, visto que não tinha a noção do tempo.
E então, perguntam vocês, como podia um peixe tão limitado falar duas línguas e saber regras de etiqueta? Também eu me indaguei, noites e dias, sobre tão estranha possibilidade. Não sei, julgo que, se quiserem mesmo descobrir, terão de aprender a língua dos peixes.

Wednesday, October 17, 2007

RIP monstro das bolachas


Andava eu pelo youtube, perdida entre os vídeos da Rua Sésamo, num regresso ao passado inocente e descontraído, quando me deparei com uma notícia terrível: a morte anunciada do senhor Monstro das Bolachas.

Aparentemente, era este monstrinho azul o culpado pela obesidade nos EUA. Claro, como é que ninguém se apercebeu disso antes? Resta saber como vai ele morrer: engasgado com uma bolacha gigante? Gordo e redondo, começa a rebolar pela estrada até ser atropelado? Qualquer uma destas mortes parece demasiado piedosa para este produto do demo, que continua a incentivar as pequenas crianças, inocentes meninos que passam as tardes a jogar jogos de tiros e sangue espalhado pelo ecrã, a comerem bolachas. BOLACHAS! Ainda se fosse uma cervejinha ou duas, ainda se perdoava, mas bolachas é demais!

Assim sendo, o monstro das bolachas será simbolicamente executado, transformando-se em monstro... dos legumes. Ahahah nada mais divertido: "bem, que fomeca! Vou ali comer uma folhinha de alface! Não querem uma também, meninos?".

É importante mudar os hábitos alimentares das crianças, cada vez mais gordas, mas será que esses hábitos foram adquiridos do monstro das bolachas ou dos pais?

Monstro das Bolachas, CULPADO! Metam-no na prisão, dêem o exemplo, comecem também a pôr o Poupas a fazer uns assaltos e a acabar na choça e o sapo Cocas devia apanhar uma cirrose para as crianças saberem que não se deve beber álcool em demasia.

Realmente, às vezes parece-me que o meu tempo de criança já foi mesmo há muuuuito tempo. E tendo em conta tudo isto, ainda bem.

Orgulho

É uma questão de auto-estima, amor próprio. Ama-te a ti mesmo, orgulha-te de ti. Tenho orgulho da pessoa que sou, mesmo com as minhas falhas e limitações, mesmo com os meus erros. Poderia ter sido qualquer outra pessoa mas tenho orgulho, orgulho em ser eu, em ser a criatura que sou. Obrigada vaquinha por me teres recordado isso!! Ouçam e depois digam lá se não estão orgulhosos de vós mesmos!
E obrigado ao maluco que ainda conspira comigo ao ponto de me mostrar estas coisas.
Somos TÃO grandes assim :D



eu poderia ser tanta coisa... mas não sou! E então? lol ela lá sabe ;)

Tuesday, October 16, 2007

A minha doce arrogância

"Só os parvos não mudam nunca de ideias, mas só os fracos mudam à primeira". É uma espécie de lema de vida, para quando as pessoas se revoltam contra a minha "teimosia" (perseverança?).
Quando acredito, acredito. Mas reconheço a minha ignorância, os meus limites, e estou disposta a mudar. Se me conseguirem convencer, claro. Chamem-lhe o que quiserem, mas atiro-vos o meu lema para cima.O meu lema já me valeu discussões, pequenos inimigos, insultos, tachos a voarem pelos ares (talvez esta parte seja imaginada, mas achei que ficava aqui bem!), gotinhas de veneno espalhadas aqui e ali, pelos muitos sítios em que passei.
Entendam como arrogância o facto de não me dobrar às vossas vontades. Entendam como insolência a minha incapacidade de me calar quando acho que tenho razão. "Se calhar, devias calar-te. Não vale a pena". Vale a pena lutar pelo acredito, gritar que o mar não é azul (porra, não é mesmo!!), esbracejar e suar pelos meus ideais.
"Posso não concordar com o que dizes, mas lutarei até à morte pelo direito que tens de o dizer", disse Voltaire. Outro lema que procuro seguir, e manter sempre em mente quando me debruço sobre uma nova discussão (são algo frequentes, fazem parte do quotidiano dos teimosos que insistem em ter ideias próprias! Raios partam esta gente...).
Respeito que haja pessoal que goste de comer peixe crú, mas não o vou comer só porque me dizem que é bom, não é? E se isso chatear alguém, paciência. Posso até provar, mastigar uns segundos, e depois se for preciso vou cuspir no guardanapo, "obrigada mas acho que não".
Sou arrogante por milhões de motivos, e tenho de confessar que gosto de pessoas arrogantes: gosto dos que não vendem a alma para serem amados, dos que se mantêm fiéis a si próprios acima de tudo, dos que fazem t-shirts com lemas e saem com elas à rua. Gosto de ideais, mesmo que sejam o oposto dos meus. Gosto de crenças, mesmo que não tenham nada a ver com as minhas. Gosto de idiotas, no sentido da ideia pura, porque são eles que criam aquilo que depois, os simpáticos, amáveis e educados, vão escolher para defender.
Estou sempre pronta para receber novas ideias e perspectivas. Acima de tudo, cativa-me isso: o processo de "idear", de criar a ideia, de montá-la a partir de milhões de pedacinhos de ideias recebidos de milhões de fontes diferentes e dizer: eu ACREDITO que...
E se estou errada, convence-me. Dá-me uns dias. E, quem sabe, não te ligo de volta?

Dramaaa

Os mais próximos saberão que, para cada momento, tenho uma música. As mais recorrentes são o "Eye of the Tiger", do Rocky Balboa, cantada vezes sem conta nos momentos mais desafiantes, e, claro, o "Fur Elise" quando há drama.
E porque um amigo se lembrou do drama que é a nossa vida repleta de desencontros (parece que nos vamos encontrar por acaso no sábado), fica aqui o vídeo que ele procurou, afincadamente, noite e dia, só para mim.



(Não faças dramaaaaa Mikastrompsky!! A nossa seita há-de governar o mundo lol Seita da ALEGRIA DISPARATADA SEM MOTIVO APARENTE!)

SOS fui raptada!

"Vou-te raptar". Posso dizer que não, visto que até reconheço a voz da raptora, que abdicou dum daqueles aparelhos modernos que distorcem a voz, e ela nem usa meia de vidro na cabeça, o que me permite ver perfeitamente a cara dela. Por motivos de segurança, permanecerá identificada apenas como "a raptora", não vá eu sofrer represálias depois de ter sido resgatada por ninguém, a não ser pela própria raptora que, como a minha mãe sentenciou há vários anos atrás: "eu não tenho medo que te raptem. Devolviam-te logo a seguir!".
Eu tenho aulas, mas o rapto é extremamente bem organizado, envolvendo um carro azul, matrícula portuguesa, e a Beyoncé aos berros no rádio. Como resistir a tamanha violência? Sou forçada a entrar no carro da raptora, que me "convida" ( com extrema violência, é claro) a partir com ela para sítio incerto (embora eu tenha ouvido a palavra "Cascais" por acaso).
Primeiro sou levada para aquilo a que as pessoas chamam de "café", uma cava escura e fria onde me forçam a beber água, embora o sabor não me engane: era um calmante, de certeza, para me forçar a ser mais obediente! Eu nem estou com medo, porque, lá está, conheço a raptora, mas estou desolada por faltar às aulas! Oh pai, estava mesmo triste, a sério, eu bem lutei contra ela, mas ela tinha mais força, e eu não quis ficar sem dentes!
Para minha surpresa, voltamos ao carro, onde está um pacote de Fritos que tenho de comer (talvez para ter algum ataque de excesso de sal no sangue e desmaiar), mas como quando era pequenina me auto-intitulava "A rainha dos fritos" (facto verídico, eu era a rainha dos fritos e do esparregado, e a minha irmã era a rainha da pizza e do chocolate, títulos oficiais reconhecidos pela união europeia!) fingi apenas um leve desmaio e tive oportunidade de ver a segunda raptora, cujo nome será igualmente protegido, e que será referida como "a segunda raptora".
Enquanto me babava para o banco, numa estratégia de simulação perfeita, as minhas raptoras revelaram o seu ponto fraco, ao delirarem com um certo carro com certas pessoas lá dentro, cujo sexo não irei revelar mas posso dizer que não era o nosso (sem revelar nada, claro!). Estava clara qual seria a minha oportunidade de fuga, mas elas tinham trancado as portas e eu estava "desmaiada" e portanto não pude fugir e apanhar o comboio para a faculdade (Bolas!!! Que azar dos diabos!!).
Chegamos a Cascais onde vamos ter com uma advogada (com certeza encarregue de as safar da prisão para onde iriam parar por me terem raptado!), e sou levada para um quiosque onde elas bebem café. É aí que aparece o seu comparsa, um homem só com um dente na boca, que obviamente tinha um affaire com ambas, mas eu fingi que não percebia e que acreditava na cara de nojo que elas fizeram.
Passei o dia em Cascais, forçada a tirar fotos e a fingir-me contente, sempre maldizendo a minha sorte porque tinha tanta vontade de ir às aulas!...
De repente, lembrei-me: e se usasse o meu grito aprendido no Discovery Channel, para comunicar com os animais tipo Tarzan, e pedir-lhes socorro? Aproveitei a distracção das minhas raptoras e comecei a grasnar insistentemente ("ai que tosse horrível ah ah ah") até que uma pequena gaivota (para elas uma gaivota, para mim uma companheira de armas!), começou a atacar as minhas raptoras, fazendo com que elas caissem no chão, ferindo, inclusivamente, um cotovelo que deitou para aí meia gota de sangue!
Ao fim da tarde libertaram-me, depois, claro, de me enfiarem Mac pela goela abaixo apesar dos meus pedidos desesperados: "ai nãããããoooo eu tenho peixinho cozido em casa, não me façam issooooo!".
A verdade, queridas raptoras, é que foi dos melhores raptos de sempre. Perdoo-vos a afasia, as figuras tristes, a violência que ainda hoje me assombra, durante a noite, em pesadelos a preto e branco. Adorei ser vossa refém! Adorei as "lontras", os "cre-pes", as luvas foleiras até aos cotovelos, as poses pirosas no "Paraíso", os fãs histéricos a pedir autógrafos na passadeira vermelha, a manifestação a que não fomos porque não podíamos aparecer na RTP porque senão acabava-se o rapto...
São raptos assim que nos fazem sorrir, rir às gargalhadas, mesmo amordaçadas!

PS - claro que não ir à faculdade me traumatizou e fiquei muito triste!!! (caso estejas a ler, pai!)

Wednesday, October 10, 2007

O vento do Norte

Estranhei a indiferença com que o mundo acordou. Como se já não houvesse luas para onde olhar, nem estrelas para desejar, nem horizontes a alcançar.
Olhei para os lados, e procurei o norte com a ponta do dedo. É lá que o vento é mais frio, porque no Pólo Norte vive o pai Natal, numa fábrica de brinquedos coberta de neve. E se seguisse em frente, para lá onde o vento é frio, sem nunca parar? E se arriscasse, nem curvas nem nada, sempre em frente, atravessar estradas, mares, campos, florestas, icebergues, montanhas imensas? E as solas já gastas, os pés a doer, e o vento do norte a chamar: por aqui.
Deixa-te de sonhos e levanta-te, é dia! Pega no casaco e enfrenta as coisas de cimento e alcatrão, e não percas tempo a olhar para os lados.
O vento do Norte... tens cada coisa!

ResponIACKA!

Responsabilidade.
Só a palavra arrepia-me. É uma palavra feia, a língua bate na parte de trás dos dentes e depois estica-se cá para fora, toda enrolada "RES-PON-SA-BI-LI-DA-DE".
Gostava de encontrar os senhores inventores da língua portuguesa e dar-lhes dois calduços para ver se se deixavam de ideias destas.
"Procura-se pessoa RESPONSÁVEL", dizem todos os anúncios de emprego. Se eu fosse honesta, ficava desempregada para o resto da vida e sobrevivia como assaltante de bancos. Mas é preciso ganhar a vida, e, envergonhando-me da minha desonestidade, lá vou fazendo um esforcinho no sentido de me tornar uma adulta responsável, consciente das suas obrigações, plena de sentido de dever.
Tenho amigos responsáveis que entraram no responsável mundo do trabalho fazendo estágios responsáveis. Eu fiquei na faculdade. Mais umas especializações, que é para ver se me valorizo enquanto profissional. Ou, por outras palavras, POR FAVOR NÃO ME PONHAM JÁ NUM LUGAR RESPONSÁVEL!
Um dia, quando for velhinha, vou ser responsável. Vou tomar sempre os comprimidos a horas, e lembrar-me do sítio onde moro. Vou usar xailes no inverno para não me constipar e vou ter atenção para não dar detergente da roupa aos passarinhos.
Mas por agora, enquanto o mundo é tão grande e eu ainda sou pequena, enquanto as pernas têm formigueiro e me querem levar a todo o lado, deixem-me ser assim, plena de rebeldia e com os olhos abertos e espantados para o mundo, com a cabeça nas nuvens e os pés em algum lado que não vejo. Deixem-me beber a água da chuva e chapinhar os vossos sapatos profissionais com as minhas galochas amarelas.
Sim, em breve tem de ser. Em breve vou ter de deixar a menina e abraçar a senhora. Vou ter de sorrir sem mostrar muito os dentes que fica mal, e usar tons pastéis que são delicados.
Mas prometo a mim mesma que até lá vou fazer tremer o mundo debaixo dos meus pés!!

Saturday, October 06, 2007

E esta, hein?



Façam a vossa experiência de reconhecimento facial e vejam com que celebridades de assemelham... eu nunca tinha dado por ela. E continuo algo confusa..
Mas que tem piada, tem! Quem diria que sou parecida com a Woranuch Wongsawan?? :P

http://www.myheritage.com/

Thursday, October 04, 2007

SINAIS DE MUDANÇA ou O TEXTO SOBRE O CUSPE/CUSPO/SALIVA/... E PODIA FICAR AQUI ATÉ AMANHÃ MAS NÃO SÃO HORAS DE TAL COISA

Uma das minhas grandes metas, depois de ver o Titanic, era aprender a cuspir a sério. À homem mesmo, com barulho e tudo, para bem longe, sem pingar o queixo de baba e parecer uma velhinha inválida incapaz de comer a sopa.
Agora que penso bem nisso, aquela cena tinha muito de simbolismo e muito pouco mesmo de romantismo. Era a libertação da Rose do seu mundo da etiqueta e dos protocolos: "Jack, ensinas-me a mandar uma escarreta?", pergunta com os seus olhos brilhantes, repletos de uma esperança inocente e bela. Para mim, aquele pedaço de cuspe lançado para longe significaria a possibilidade de encontrar um Jack. Hoje percebo que se tivesse andado por aí a cuspir provavelmente nem Jack nem Jaquim. Não sei, é um feeling que tenho...
Não aprendi a cuspir. Durante uns tempos, oh vergonha, quando cuspiam para o chão mesmo à minha frente e eu não era capaz de retribuir o cumprimento na mesma moeda. Passavam os velhos, mandavam a escarra, e eu ali, uma menina da cidade que nem sequer sabia mandar uma cuspidela valente!
Não aprendi a cuspir mas aprendi a evitar as cuspidelas no chão que também é coisa que dá trabalho. Mas a verdade é que, cada vez menos, se vê (e ouve! que aquilo se ouve bem!) gente a cuspir para o chão. Chamem-lhe boa educação, civilização, o que quiserem, mas o Sô Tónio diria, com o seu ar pachorrento "bah! modernices!" seguido de uma bela cuspidela... no chão!
São pequenos sinais, evidentes porém, de que o mundo está mesmo a mudar. Nalguns aspectos para melhor, noutros para... um diferente não tão positivo. Como os miúdos de 6 anos na escola primária a gritarem asneiras que, no meu tempo, eu nem sabia que existiam! E o azeite e o vinagre em pacotinhos individuais (que, por acaso ainda só vi no MacDonald's... bom povo lusitano!). E as portas automáticas no metro que nos podem cortar em dois.
"Bah! Modernices! RRRRROOOOOOONC CUSP!"

Wednesday, October 03, 2007

Escrever a brincar

"Às vezes não compreendo nada do que escreves!"
Ele queria dizer "a maioria das vezes" mas controla-se. Não sabe se é ele que não entende ou se é ela que não escreve como deve ser. Ela tem a mania de escrever frases que violam a gramática, palavras que não existem fora da sua cabeça, ideias que são impossíveis no mundo dos homens.
"Eu escrevo o que me apetece. Mesmo que não faça muito sentido", responde, encolhendo os ombros, num misto de tristeza por ser incompreendida e um sentimento de individualidade que a seduz como é normal nos jovens.
"Então nunca vais poder escrever a sério. Assim como os escritores, que escrevem para os outros". Ficou ferido de morte pela aparente indiferença que relevou face à sua incompreensão. Quer feri-la também.
"Então vou escrever a brincar."

Hi5 ou Época de Saldos (dá cá mais 5!)



Quando apareceu o Hi5, criei a minha conta. Uma página com fotos e umas quantas parvoíces acerca de mim: o meu perfil. Tem graça, como de repente nos resumimos a um grande catálogo de gente. Se quisermos conhecer alguém, vamos ao Hi5, procuramos por zona, por grupos de interesse, por idades, por aspecto físico. Enfim, tornámo-nos meros objectos de decoração, com umas quantas frases profundas que visam mostrar como somos pessoas sensíveis, inteligentes, espirituosas.


Uma coisa que nunca percebi, que continuo sem perceber, é a ideia de adicionarmos pessoas que nunca vimos na vida à nossa lista de amigos. Qual é o objectivo da coisa? Trocar e-mails e falar pelo msn? Ou é só para termos mais uma cara numa lista de 500 pessoas em que, como é óbvio, temos uma sorte do caraças se estiverem lá enfiados mais de dez amigos de verdade?


Não aceito "friend requests" de estranhos. Mas, mesmo assim, custa-me sempre carregar no botãozinho do "No Thanks". Fico a sentir-me presunçosa, "metida à besta" no topo dos meus saltos altos e do batôn vermelho (tudo coisas que não uso mas que enfim, nesta cena imaginada são indipensáveis) com um olharzinho de desprezo: não, obrigadinha, mas não estou interessada em ter-te como amigo.

Gosto de visitar as páginas dos meus AMIGOS, ver as fotos mais recentes, deixar uns comentários engraçados, cuscuvilhar um bocadinho sobre as relações que se vão trançando entre os perfis da maria e do manel... Coisas de gaja!

Mas existem muitos aspectos na instituição Hi5iana me fazem confusão. As fotos de meninas com mãos a tapar as maminhas "ui fui apanhada de surpresa.... mas vou pôr no hi5 na mesma, sem sequer me aperceber!", homens que insistem em mostrar músculos quase sem respirar, roxos do esforço, "oh sim vê como são definidos os meus bíceps e tríceps... e o cérebro também é músculo? ehpah, tenho já de ir tomar umas vitaminas para isso também!"...



Não entendo. Não entendo mesmo. Dizem que todos têm o seu preço, mas estas pessoas estão em saldos, dão-se de graça assim, a qualquer um que visite a sua página na internet. Donde vem esta vontade de se exibir? Se calhar, onde eu uso palavras eles usam imagens. No fim, expomo-nos relativamente da mesma forma. Será que isso me torna objecto de saldos também?Huuummm...

La vita è bella!

Acordei.
- Mãe, já está a ficar de noite? - pergunta-me uma filha que exige nestum de mel o mais depressa possível.
- Não, está mau tempo, só...
O humor começa assim, cinzento como o tempo. Os pés vão-se arrastando pelas divisões enquanto faço, mais uma vez, todas as operações mecânicas que cada manhã exige.
Dada minha cabeça, treinada no tempo em que Outono era Outono, Inverno era Inverno, e por aí em diante, sem mistos de 4 estações num dia só, pensei que o melhor seria mesmo levar as minhas botas de pêlo, também conhecidas como "Os Mamutes"...
Mas esqueci-me que a minha cabeça de 22 anos já está mais que ultrapassada, que o meu senso comum começa a passar do prazo, e que mais dia menos dia vou ser surpreendida pela palavra "cota" na boca de alguma amiguinha da minha piquena quando lhe perguntar pelo Noddy.
Chego à estação mesmo a tempo de ver partir o meu comboio. Que saía ás 13h08. Onde cheguei às 13h09. E o próximo comboio? Às 13h24. Quero atirar um caixote do lixo às malditas carruagens que se afastam mas o sr polícia está a olhar para mim com uma cara estranha e só depois percebo porquê. É que do escuro fez-se luz, do frio nasceu calor, e estou debaixo de um sol abrasador com botas de pêlo. E assim fico durante 16 minutos, sentada num banquinho, a amaldiçoar cada pêlo daquelas botas que decidi calçar e que agora queria atirar para a linha de comboio e vê-las serem esborrachadas pelo pouca-terra em fúria.
Finalmente, novo comboio, lugar sentado, está mais fresco lá dentro, tudo parece compôr-se. Levanto os olhos do livro que estou a ler, pronta a olhar o céu azul e sorrir-lhe em resposta, quando... sim, há um dilúvio.
Porque eu reclamei das botas. Porque não tenho guarda-chuva nem casaco nem porra nenhuma, mas tenho botas e por isso devia estar feliz porque calcei os meus mamutes portáteis e o sr lá das nuvens quis fazer-me sentir mais apropriada. Obrigadinha pah!
Tudo bem, enfio-me no metro a correr, estações que não acabam.
Lá está, "The postman always rings twice": sim, a Giovanna USA engravida e sim morre... num acidente de carro! E claro, os filmes eram baseados na mesma obra. Bem me pareciam coincidências a mais! Mas eu sou uma miúda que até acredita em coincidências..
Saio da faculdade e regresso ao metro onde começo a ser atacada ferozmente por uma velhinha. Mas eu quero dizer FEROZMENTE mesmo, com cotoveladas mesmo nas costelas, capazes de parar a respiração a um homem dos grandes. Sou atirada quase pelos ares para cima dum banco e olho para trás, onde a senhora de cabelos brancos me sorri "desculpe"... Eu rio-me, incrédula, mas passar-lhe ali uma rasteira não ficava bem e decido esperar até à próxima paragem. Mas antes que possa tomar qualquer medida surge a velhinha ninja número dois, desta vez empurrando-me para a saída, com as suas peles pendentes dos braços a girarem à minha volta como hélices devastadoras. Desisto. Elas são muitas.
Finalmente chego ao comboio. Depois de cargas de porrada, chuva intensa, calor abrasador, esperas intermináveis e mais uma hora de dramas a preto e branco, estou viva! Sim, estou viva!
Às vezes não são os dias melhores que nos deixam mais alegres. Às vezes são estes dias, em que tudo corre mal, em que tudo parece planeado ao milímetro para nos lixar a vida, que nos fazem sentir vivos, que nos dão vontade de atirar a cabeça para trás e rir às gargalhadas até nos doer a barriga e nos arderem os olhos das lágrimas do riso.
Nestes dias, em que o mundo me prega partidas e eu me molho com a chuva que cai dos telhados, em que os sapatos exigem ficar desapertados e o senhor das lotarias nacionais que não sei quando andam à roda tem vontade de nos gritar aos ouvidos, quero gritar-lhe de volta: LA VITA È BELLAAAAAAAAA!

Tuesday, October 02, 2007

Adeus Codex, Olá Lisey!

As almas mais atentas hão de reparar que eu vou actualizando, ali naquele quadradinho à esquerda, as minhas leituras. Ainda há dias lia o Codex, do meu Sr. Professor José Rodrigues dos Santos, mas devo confessar que o deixei a meio, desiludida com as últimas linhas lidas por mim.
Muito na linha do Código Da Vinci, temos um professor de história, perito em códigos e cifras, que tem como missão recuperar as pesquisas feitas por um colega, entretanto morto.
Até aqui tudo bem. Uns enrolanços com uma sueca, uns talvez demasiados pormenores dos sítios que vai visitando (nós acreditamos que ele tenha lá estado, não é preciso mencionar quantos passos vão da porta do museu não sei quantos ao restaurante não sei que mais...), um casamento em crise e algum suspense na resolução dos mistérios. Bem, na resolução do primeiro. Se começou bem, introduzindo a história da escrita egípcia que é mesmo um dos meus ponto sensíveis (mas vai daí, quantas pessoas para além de mim estarão realmente interessadas em aprender a escrever e ler hieroglifos?), para mim enterrou-se na parte em que uma charada BÁSICA leva quase 10 páginas a ser resolvida. Juntem a palavra ECO, FOUCAULT e PENDENTE. Hummmm familiar? Demasiado familiar? Talvez nem todos tenhamos ouvido falar nisso, mas estamos a falar de um Sr. Professor, com um nível de cultura que será, ou deveria ser, mais elevado que o comum. Serão aceitáveis 10 páginas para descobrir que a charada se referia ao livro do Eco?
Então fechei o outro livro, o do Professor real, e abri uma das minha últimas aquisições, a Históiria de Lisey, do Sr. Stephen King. E tenho devorado cada palavra com a fome que o outro livro, aquele do professor, me deixou.
Não sou nenhuma crítica e o livro não está nada mal escrito. A história, porém, carece de acção, morre um bocado nas descrições exageradas e nas centenas de documentos que acreditamos que sim, que o sr leu, mas que se tornam aborrecidos.
Quem sabe se um dia não volto ao codex, já em paz com o professor fictício que não sabia o que era o pendente do foucault, e me disponho a "papar" os 3000 documentos que estão para lá enfiados? Mas por agora, vou abrindo os olhos de espanto e deixando a minha imaginação flutuar nesse universo do incrível que é o da mente do Stephen King. ..
PS- já agora, também baseado numa obra do Stephen King, está no cinema o "1408". Recomendo MESMO, com o aviso de que vão saltar da cadeira algumas vezes! E não é isso mesmo que queremos?

Ossessione VS The postman always rings twice


A sala está escura. "Estão a ver um filme", diz-me alguém que vem atrás de mim e entra, sem hesitar, na sala sem luz. Eu vou, pé ante pé, enquanto ouço o Gino e a Giovanna aos berros "Maledeta! Mia lasagna!". Sim, é só um filme. A preto e branco. Italiano. Com uma história que, se tivesse visto desde início, ameaçaria cunhar de ridícula. Mas enfim, é a magia do cinema, há para todos os gostos, e quem gosta de cenas tão "naturais" como um casal a dormir que, de repente, "ah, sim, estávamos a ser perseguidos não era?" e se levanta a correr e aos tropeções pela praia... sim, tudo bem. Tenho cá para mim que a Giovanna, que morre esticadinha depois de um acidente de carro, nem sequer estava grávida. Chamem-lhe o que quiserem, desconfiança, cepticismo, falta de romantismo, sei lá, mas uma mulher que confessa estar grávida logo quando ia levar uma carga de porrada do suposto pai da criança... humm eu não sei, mas a mim cheira-me a esturro.

E, enquanto na tela se vai projectando o Gino a gritar NOOOOOOOOOOOOON eu estou com uma fome danada e lembro-me que tenho um pacote de bolachinhas deliciosas na mala. O que é que eu fui fazer?!

O pacote faz rás-trás-splás, com o plástico a contorcer-se nas minhas mãos. Há uma menina que faz um ar incomodado. Desculpa, só tenho bolachinhas para mim! Olha, olha...

A partir do momento em que há o FINE e tenho o estômago mais aconchegadinho, aí sim, estou pronta para ver o Gino e a Giovanna em versão USA, also black and white, com morte certa no final que só conhecerei hoje, pelas 14h. Será que a Giovanna americana também vai engravidar? E o Gino americano, homem de fato macaco, também vai acabar a gritar NOOOOOOOOO?
Tudo questões importantíssimas que estou ansiosa por ver resolvidas! Por isso não percam o próximo episódio, porque eu não posso mesmo perdê-lo...

Thursday, September 27, 2007

Esquecida de mim

Será que posso ser eu só amanhã, e por hoje esquecer quem sou? Posso lavar os olhos das imagens guardadas, livrar o peito das dores acumuladas, estender as mãos ao alto na poética ignorância do saber imposível?
Será que só por hoje, umas horas, me posso esquecer dos dias, das noites, dos regressos intermináveis do sol no rendilhado dos estores? Posso fingir que não sei nada, nunca soube, que fui sempre uma folha de papel branca, uma tábua rasa, pronta a ser inscrita pela ponta dura da pedra da experiência?
Quem me dera nascer de novo, sentir-me inundada pela novidade das coisas mais simples, descobrir porque é que chove, porque é que o sol brilha, que o relâmpago e o trovão são simultâneos..
Será que, só por hoje, me posso fechar na concha mágica e perfeita da ingenuidade e dormir assim, esquecida de mim?

Sunday, September 23, 2007

É mentira.

A mentira tem perna curta. Curtinha, anda coxa, vai-se arrastando por aí. É por isso que, quando cai, cai com estrondo, não se levanta, fica suja da lama na estrada e é pisada por aqueles que passam.
Podes até fingir que não reparas, é de mau gosto ficar olhar assim, para quem passa, mas tu sabes. Reconhece-la pela hesitação com que se move, pelo engasgar dos seus passos, pela forma como tenta passar despercebida entre a multidão ruidosa.
Pelo seu jeito único de ferir os ouvidos quando ri, pelo seu gesto habitual de tentar desaparecer depressa depois de falar contigo...
Só porque não te chamo pelo nome, não quer dizer que não te conheça.

Friday, September 21, 2007

Que estranha forma de vida!

Eu existo da minha maneira estranha. Existo com o mau humor de manhã, com a pasta dos dentes que me enche a boca, com os ganchos que insistem em sair do lugar.
Existo no carro, na estrada fria, no fumo inquieto de motores em fúria. Existo com a mala ao lado, meia cheia, o optimismo congelado para usar na altura certa.
Existo na sala, calada e dormente, o espírito perdido em montanhas distantes, a mão que vagueia em apontamentos ouvidos mas não apreendidos.
Existo no regresso, doce regresso, na casa que me espera, familiar e minha, as minhas coisas nos cantos que conheço de cor, as pantufas à porta para me receber.
Existo na noite, na minha almofada, na forma na cama que tem o meu ser, no lençol de algodão dobrado à pressa, no cheiro do champô que passeia por ali.
E fora daqui, o que é feito de mim?

Vida num acto

Tornei-me mais alta. Construí pontes a partir da matéria dos meus obstáculos. Uni mundos sem pensar nas diferenças que os poderiam arrasar. Arrisquei. Levei a melhor, às vezes perdi. Outras vezes encontrei-me, sozinha, encontrando-me. Fiz a reunião do corpo e da alma e brilhei, permanente combustão estrelar que acaba numa explosão. Os meus destroços, viajando numa atomosfera sem pressão. A fita-cola à mão de uma mão amiga que me cola a mão de volta no lugar. Única união. Resplandecente conclusão. Um fim feito de pontos de interrogação. Não é término, é interrupção. São três pontos de exclamação sem necessidade, só pelo gosto. A necessidade de gostar, do prazer. Uma necessidade desnecessária que me faz viver. Um olho aberto, outro fechado. Viro a cara sem olhar para o lado. Frente, trás, diagonais transparentes. O meu corpo, feito de linhas, novelos de cores diferentes. Nós, laços, traços, abraços. Nós, miscelância de ritmos e de compassos, numa melodia perfeita, polifonia polivalente. Em frente, em frente... Um atraso de ponteiros que nos acalma a alma, a palma da mão virada para sul, pano de tule que cobre o tempo, frágil teia de aranha por cima do vento, rasga-se a norma, rasga-se o trato, é tudo espontâneo, vida num acto, baixa-se o pano, agradece o actor. O tic-tac que pára, só sobrevive o amor.

Thursday, September 20, 2007

O meu polinho

Quando fiz os meus 17 anos e meio (e há quanto tempo foi isso?!), pedi ao meu pai a carta de condução. Era fundamental, essencial, indispensável para a minha vida! Era o meu bilhete para o comboio da independência, para o mundo das meninas crescidas que pintam os lábios paradas no trânsito (apesar de nem sequer usar batôn), para os pés descalços fora do vidro (impossível quando se vai a conduzir), para a música aos berros e cantorias assustadoras ao volante (revelou-se, de facto, a essência da condução).
Tirei a carta, com a garantia de que o pai não me ofereceria o carro. Um dia, teria um carro. Um dia, tal como ele, acabaria a minha licenciatura e compraria o meu calhambeque (bip bip, quero buzinar meu calhambeque!). "Tudo bem, para que é que eu quero um carro?", dizia eu, imaginando-me por aí, no carro do papá, cheio de amigas em pleno estado de êxtase, atravessando as estradas de alcatrão fumegante de todo o país (filmes americanos a mais... eu sei!).
Acabei a carta em Abril. Em Junho tinha um carro na garagem. Ele não era novo, não era brilhante nem tinha o cheiro a pele que sai dos bancos quando nos sentamos num carro pela primeira vez. Mas era meu, só meu, e de mais ninguém. Estado de graça que durou até a minha irmã, um ano depois, tirar a sua carta de condução de veículos ligeiros e passar a dizer que era "nosso". Sacrifícios que se fazem, pelo menos tinha meio carro que era melhor que um banco inteiro no autocarro!
Eu e o meu (meio) Polo! O meu (meio) Polo e eu! Tem cicatrizes de guerra, mas não as temos todos? O volante está gasto, o tablier meio rachado, o porta-bagagens cheio de todas as tralhas possíveis, o cachecol do SCP sempre a postos, no banco de trás.
A verdade é que o meu Polo não me levou a lugares distantes e improváveis. Não, eu e o meu (meio) Polo não levantámos poeira em estradas de terra batida, percorrendo o mundo sem saber onde parar.
Tinha um sonho modesto. Queria encher o depósito e partir sem rumo, escolher ao acaso uma paragem no mapa, ou pura e simplesmente fazer pim-pam-pum nos cruzamentos e deixar-me levar. Mas ainda temos tempo Polinho...
E quando me perguntam pelo carro dos meus sonhos, falando de marcas de luxo, eu encolho os ombros. Não me preocupo muito com isso. O Polinho tem 4 rodas e leva-me a todo o lado. O Polinho não se queixa dos riscos nas portas, na traseira e na frente: de facto, ele está um bocado riscado, mas são como as rugas, sinais de experiência e vivência intensa. Mesmo quando, na auto-estrada, ele mostra o motor cansado e se arrasta nas subidas (em Monsanto subimos a 40 km/h), eu rio-me, na faixa da direita, com os velhinhos à minha frente a uns estonteantes 50km/h, até que consigamos atingir uma velocidade razoável (não há nada como uma bela descida).
Não me perguntem qual a marca do carro dos meus sonhos. Ou de que cor, a cilindrada, as polegadas das jantes. Olhem para o meu Polinho e lá está a resposta. :D

Wednesday, September 19, 2007

Matéria de sonho

Julgo que foi Shakespeare quem afirmou, um dia, que "o homem é feito da mesma matéria com que se entrelaçam os sonhos".
Ignorar, assim, tão ferozmente, a ciência da carne e dos ossos, do sangue e da pele, e fazer do Homem um ser tão alto quanto a sua imaginação é tornar-se, tão simplesmente, matéria de sonho. Porque, até certo ponto, ou talvez a partir dele, nós somos aquilo que julgamos ser, aquilo em que acreditamos acima de tudo, mesmo as nossas dúvidas.
Somos, tão claramente, a matéria dos nossos sonhos! E aquele que sonhar mais, tornar-se-á mais alto, mais forte, mais capaz.
Com o "Big Fish", de Tim Burton, aprendi uma daquelas lições que sabemos que nunca esqueceremos, ao contrário das datas e dos nomes empilhados em alguma aula de história. Aprendi que um peixinho dourado pode ultrapassar até 4 vezes o seu tamanho normal se não estiver num daqueles aquários pequeninos em que gostamos de os enfiar.
O significado era claro: aquele que sonhar mais alto, aquele que se permitir ir mais longe, crescerá. Os outros, estarão condenados ao seu tamanho vulgar de homens, com a certeza de que a comida chegará, por fim, e a água será mudada, os limos retirados, o oxigénio renovado.
Os filmes do Tim Burton são, quase sempre, sobre a diferença e sobre a magia. Não a magia das bruxas ou dos deuses, se bem que estejam repletos de personagens fantásticas, mas sobre a magia de acreditar, que se reflecte precisamente nessas personagens. Até que ponto és capaz de acreditar? Até que ponto és capaz de deixar que este filme, tão surreal, se embranhe nos teus laços de realidade e se torne tão táctil como a tua própria pele?
Ousar acreditar, permitir-se acreditar. Acreditar é arriscar, e uma das perguntas mais pessoais que se podem fazer a alguém é precisamente: acreditas? Haverá algo mais forte, mais poderoso que as nossas crenças?
A história é feita de guerras travadas em nome de crenças. E a história da nossa vida, acredito, é feita, não daquilo em que acreditamos, mas da nossa capacidade de acreditar, da própria essência da crença e, claro, do sonho.

Sunday, September 09, 2007

A estação parva

Está acabado. Já nem se digna a brilhar de forma igual, o sol. Sabe que está quase, quase no fim, e vai se deixando dormir, enquanto nós, quase a iniciar mais um ano lectivo, suplicamos por uns últimos dias de calor tórrido e banhos de mar.
E chega o Outono. O Outono é aquela estação que considero a mais parva de todas. Sim, é uma estação parva, em que não acontece nada de especial para além de cairem folhas das árvores. No Inverno sempre há chuva torrencial e ventos arrasadores, e na Primavera nascem os bichinhos e as flores... mas e no Outono? O Outono é melancolia e saudade, com os últimos vestígios do Verão que passou e os primeiros sinais do Inverno que aí vem. No Outono não há celebrações engraçadas, tirando o S. Martinho que já quase ninguém celebra. Não há roupa de Outono. Não há emoção no Outono. Não há gritos no Outono (tirando os dos vizinhos do outro lado da rua que se ouvem todo o ano).
Está bem, é sempre engraçado pisar as folhas secas nas ruas, a estalarem debaixo dos pés. E é verdade que o Outono tem cores bonitas, douradas e sagradas. E tem o cheirinho das castanhas assadas à entrada da estação de comboios, cada ano mais inflaccionadas e por isso cada vez menos procuradas.
Alguém diz que a sua estação preferida é o Outono? O Outono, tão impávido e sereno, tão quieto e calado, tão triste a lembrar-nos o fim de tudo com as árvores carecas que nos sussuram: "um dia vais ser tuuuuuuu!"
Talvez um dia encontre um estado de alma tão harmonioso que o Outono se tornará uma estação como a outras. Talvez este ano me surpreenda a admirar a quietude dos dias castanhos e me alegre pela calma à minha volta. Talvez este ano o Outono me deslumbre, com ventos mansos e chuvas miúdas. Talvez um dia se descubra que a Terra é mesmo plana. Talvez. Quem sabe?
Talvez esteja apenas desiludida com o fim do Verão e a despejar toda a minha revolta e tristeza contra o pobre Outono que não tem culpa de nada...

Friday, September 07, 2007

Ad.... ainda não te vou dizer Ad...Verão!

Estou a escrever a partir de um portátil que não é meu, usando uma rede sem fios que não é minha. Maravilha dos tempos modernos, a internet é a forma mais fácil de pedir emprestadado. Dezenas de redes desprotegidas convidam-me a ligar-me à internet a partir delas. Ora e como quem é bem educado não recusa assim convites, cá estou eu, graças a um vizinho qualquer, a escrever do meu quartinho para o mundo.
Tinha saudades de um portátil. O meu andava revoltado, cuspiu duas teclas, foi para a marca para aprender a ser mais subserviente. Mas, confesso, a sua atitude de menino rebelde conquistou-me. Olhei-o com severidade, arqueei a sobrancelha com ar zangado, mas por dentro alegrava-me saber que o meu portátil tem personalidade. Levava porrada nas teclas todos os dias, até que chegou a hora que se cansou, e, sem ai nem ui, cuspiu-me duas teclas para eu aprender.
E o que me traz aqui para escrever hoje senão o prazer de usufruir da net do vizinho? Pouco. Ando melancólica com o fim do Verão, sempre que começo a escrever sinto um apertozinho no coração, porque sei que está perto, tão perto, a hora de dizer adeus à minha estação mágica. Valeu por todos os momentos, pelo sol na barriga, pelos vidros abertos e o cabelo esvoaçante, pelo sabor a sal no regresso a casa, pelos chinelos à noite, pelo tereré feito num impulso nuns hippies demasiado novos para o poderem ser de facto, pelas noites em alerta à espera de estrelas, cometas e Marte, pela "Sangria da Alegria" que teve até direito a hino, pelos pés do lado de fora do carro, pelas canções que se tornaram promessas inocentes ("Jura que não vais ter uma...." :P), por todos os sítios e acima de tudo por todas as PESSOAS que tornaram este Verão um hino à vida, à alegria e à amizade.

Saturday, August 25, 2007

Catarse

A minha purificação. Caminhos tortuosos. Essências banhadas de experiências. Inscrevem-se nomes, datas, locais. Há marcas de dias tempestuosos, de vontades vergadas pela força do vento, de arranhões nas verdades inabaláveis.
Lavam-se as certezas adquiridas, e a sua cor tinge as pedras calcadas, como um tecido de má qualidade com que as certezas absolutas se cobrem sempre. Despertam vozes na cidade, gritos de incerto desespero com que assistem àquele que pode ser o seu último pôr-do-sol. Nada é certo, tudo é vago. Nada tenho, quem sou?
Percorrem-se estradas infinitas, poeira que se levanta, incansável, e tolda a vista.
"Tu és só o reflexo de uma miragem alucinada", diz um velho com corpo de árvore, cujas barbas chegam ao solo. "Tu vagueias, nunca chegas. Tu procuras, nunca encontras. Tu desejas, nunca possuis. Tu existes e por isso estás condenada à tua existência disforme, adornada de belas palavras e cores brilhantes, que nunca poderás compreender."

Friday, August 24, 2007

2 em 1!!

Tenho duas mãos. Dois pés. Dois olhos. Duas orelhas. Dois pulmões. Dois rins.
Sou um 2 em 1 melhor que o da Garnier!!!
Ah, e tenho uma boca que fala por duas.

Thursday, August 23, 2007

Vamos fazer a dança do sol?


Houve uma altura, depois de ter lido um livrinho qualquer do Tio Patinhas, em que os sobrinhos dos bonézinhos coloridos faziam a dança da chuva com imenso sucesso, em que acreditei piamente na possibilidade de fazer chover graças aos meus passos.

Na infância, é fácil acreditar. Dançávamos em roda, mãos a bater na boca como víamos os índios fazer, gritávamos um AIUAIE e umas quantas palavrinhas e lá ficávamos, crentes e inocentes, à espera das primeiras gotinhas de chuva.

Se alguma vez choveu, não me lembro. Se alguma gota caiu, miraculosamente, nas nossas cabecinhas, enquanto dançávamos, feitas malucas, já foi, imperdoavelmente, esquecida.

Mas neste Agosto triste, em que tão depressa faz sol como vem um vento demoníaco, lembrei-me dessas danças ingénuas em torno de fogueiras inexistentes. E pensei como era bom fazer a dança do sol. Não só do sol, mas do calor, do puro Verão, estação mágica e prometida o ano inteiro! Tudo o que precisava era de gente crente, gente com fé, com aquela fé inocente neles mesmos, que acreditam que podem mudar o mundo. Gente que não se importa de levantar a machadinha e bater na boca, soltar uns UHUHs e voltar uns aninhos atrás, em nome da magia. E acredito que, mesmo que não viesse o calor, o sol, mesmo que nada mudasse à nossa volta, mudávamos nós, e o Verão era outra vez a estação prometida ;)

Monday, August 20, 2007

Adoravel, vertiginosa e encantadoramente dolorosos saltos altos

Saltos altos. Todas as mulheres têm de ter pelo menos um par de saltos. Sejam elas altas ou baixas, os saltos altos marcam a diferença não só pelos centímetros a mais mas também pela forma como embelezam os nossos pés e pernas.
Os saltos são, por excelência, o expoente máximo do feminino. Na vida real e na arte, lá estão eles, numa montra, a piscar-nos o olho, sedutores e vertiginosamente altos. Agulhas, plataformas, cunhas... é salto e é bom.
Lembram-se de como as protagonistas de "Sexo e a Cidade" suspiravam pelos seus JimmyChoos? Sapatos, altos, altíssimos de preferência, faziam as delícias das amigas de Nova Iorque e espicaçavam-nos a vontade de comprar uns.
Muitas mulheres têm, como eu, uma relação de amor-ódio com os saltos. Adoro vê-los nos pés, mas detesto usá-los e suspiro de alívio de cada vez que os descalço.
No Inverno, os saltos são palavra estranha para mim. São as poças de água, a lama, o corre-corre para evitar uma chuvada. Saltos, no Inverno, só mesmo plataformas, confortáveis e invisíveis debaixo das calças compridas.
Mas no Verão, lá estão, os meus saltos, lindos e polidos, a fazer sobressair o pé castanhinho do sol. E aí, é difícil resistir. Eles num canto, as havaianas no outro, travam combates sangrentos pela minha atenção. Geralmente, ganham as havaianas (suponho que os saltos se desequilibrem mais facilmente) mas, principalmente à noite, os saltos dão um ar de sua graça e saltam-me para os pés, ficando eu embevecida, a olhar para os saltinhos de senhorinha nos meus pés de miúda (35/36...).
Resumindo, os saltos não são sapatos. São muito mais que isso. Como dizia a Helen Hunt em "Bobby", depois de comprar uns sapatos de salto alto pretos "It's not about how they feel, but how they look" e eles pareciam, de facto, fantásticos. Saltos são tortura até ao momento em que se cria calo. Felizmente, como não os uso muito, continuam a ser uma tortura para mim. Antes uma noite de sofrimento que uns calos nos pés. É que os calos são só um dos problemas dos fantásticos saltos: dores na coluna, problemas de coluna quando formos mais velhas, calos, joanetes e sei lá mais o quê. Argumentos fracos hoje em dia, em que as pessoas pagam para ser retalhadas em nome da beleza. O Dr House, num espisódio, recusou uma assistente por ela usar saltos altos "Uma mulher que prefere trabalhar de saltos a andar confortável é uma mulher insegura"(algo assim). Fiquei tão orgulhosa por nunca levar saltos para a faculdade!
Sou só uma mulher segura que, de vez em quando, gosta de ver o mundo do topo dos seus saltos altos.

Sunday, August 19, 2007

Oh ser ou não ser, eis a questão!

Tem piada, mas passadas umas horas já não me lembro da maioria das caras daqueles que estiveram sentados ao meu lado. Podia ser algum sintoma de problema grave, mas chama-se só falta de atenção. Se há pessoas que se me gravam na memória outras, enfim, lá vão, tão efémeras na minha vida como o almoço de ontem, com a diferença que não me adicionam calorias (e ainda bem!).
O que torna, então, algumas pessoas permanentes e outras, pura e simplesmente, descartáveis, na minha memória? Apresentem-se dois sujeitos, A e B, durante os mesmos 5 minutos, numa mesma situação. O que tornará A mais ou menos recordável que B?
1. O aspecto físico. Eu sou adepta ferrenha da beleza interior, mas os olhos também vêem. E neste ponto, conta não só a beleza mas também a originalidade. Meninas com franjinhas à moda, óculos à moda, brincos à moda e colares à moda parecem todas mascaradas de igual e torna-se quase impossível decorar as caras delas. Por outro lado, um maluquinho com aspecto de Einstein não me passará despercebido!
2. De A a Z. Alguém que fale será, é natural, mais facilmente reconhecível que alguém que se limite a dizer "passas-me o cinzeiro?". Se bem que algumas pessoas sabem criar uma aura misteriosa à volta delas, com o seu silêncio e olhar inquieto, que nos faz decorar a cara delas para a descrevermos à polícia caso rebente alguma bomba perto.

A verdade é que ter uma memória selectiva, como todos temos, pode ditar situações que preferíamos evitar. Como quando conversamos durante meia hora com alguém a quem só podemos tratar por "tu", "miúda/miúdo" e outros nomes estrategicamente usados nestas situações em que o nosso interlocutor desapareceu da nossa memória.
Um plano bom mesmo, mas mesmo, era tirar fotografias com o telemóvel (bem discreto) às pessoas que se vão sentando na minha mesa, e rotulá-las com o nome e árvore amizadeológica (uma árvore que estabelecia os nossos laços, através das pessoas que conhecíamos, para termos sempre um tema de conversa que seria, claro está, o amigo em comum).
É chato não saber o nome das pessoas. É pior ainda não lhes reconhecer a cara. Mas mau mau é não saberes se alguém te conhece mesmo ou se não passa de um psicopata e ficares ali a sorrir, com cara de parva, enquanto lhe chamas "tu".
Por isso, se me virem estranhamente inclinada na vossa direcção, com o telemóvel na mão, sorriam :)

Friday, August 10, 2007

Isn't that ironic sir?

Dormi. Às 5h da manhã, finalmente, o reino dos sonhos era meu. Depois de me virar na cama, pernas para o ar, barriga para baixo, cara esborrachada na almofada, estava, finalmente, a dormir.
Acordo com o telemóvel a tocar ainda não são 10 horas. Sabem como é quando o telemóvel toca de manhã? O toque é sempre mais irritante, mais estrindente, parece feito de propósito para nos garantir que o dia não vai correr bem.
Feitas as contas, não prevejo insónias para hoje. Até porque estarei no meu cantinho sagrado, no meio do silêncio e do escuro que ninguém pode perturbar. As malas ainda não estão feitas e ouço reclamações no andar de baixo.
Deus, o destino, o acaso, sei lá, deve ser comediante. Deve ser um gajo com aquele humor muito british, carregado de ironias. Porque quando decides deitar fora o teu "kispo", ele decide fazer chover... (e aqui fica uma bela metáfora para quem a perceber).

Ironic (Alanis Morissette)
"An old man turned ninety-eight
He won the lottery and died the next day
It's a black fly in your Chardonnay
It's a death row pardon two minutes too late
Isn't it ironic ... don't you think
Chorus

It's like rain on your wedding day
It's a free ride when you've already paid
It's the good advice that you just didn't take
Who would've thought ... it figures

Mr. Play It Safe was afraid to fly
He packed his suitcase and kissed his kids good-bye
He waited his whole damn life to take that flight
And as the plane crashed down he thought
'Well isn't this nice...'
And isn't it ironic ... don't you think
Repeat Chorus


Well life has a funny way of sneaking up on you
When you think everything's okay and everything's going right
And life has a funny way of helping you out when
You think everything's gone wrong and everything blows up
In your face

It's a traffic jam when you're already late
It's a no-smoking sign on your cigarette break
It's like ten thousand spoons when all you need is a knife
It's meeting the man of my dreams
And then meeting his beautiful wife
And isn't it ironic... don't you think
A little too ironic... and yeah I really do think...
Repeat Chorus


Life has a funny way of sneaking up on you
Life has a funny, funny way of helping you out
Helping you out "

"A vida tem uma forma estranha de te ajudar"... Eu acredito que sim ;)

PS- Já toda a gente sabe que eu gosto mesmo de me molhar na chuva.