Julgo que foi Shakespeare quem afirmou, um dia, que "o homem é feito da mesma matéria com que se entrelaçam os sonhos".
Ignorar, assim, tão ferozmente, a ciência da carne e dos ossos, do sangue e da pele, e fazer do Homem um ser tão alto quanto a sua imaginação é tornar-se, tão simplesmente, matéria de sonho. Porque, até certo ponto, ou talvez a partir dele, nós somos aquilo que julgamos ser, aquilo em que acreditamos acima de tudo, mesmo as nossas dúvidas.
Somos, tão claramente, a matéria dos nossos sonhos! E aquele que sonhar mais, tornar-se-á mais alto, mais forte, mais capaz.
Com o "Big Fish", de Tim Burton, aprendi uma daquelas lições que sabemos que nunca esqueceremos, ao contrário das datas e dos nomes empilhados em alguma aula de história. Aprendi que um peixinho dourado pode ultrapassar até 4 vezes o seu tamanho normal se não estiver num daqueles aquários pequeninos em que gostamos de os enfiar.
O significado era claro: aquele que sonhar mais alto, aquele que se permitir ir mais longe, crescerá. Os outros, estarão condenados ao seu tamanho vulgar de homens, com a certeza de que a comida chegará, por fim, e a água será mudada, os limos retirados, o oxigénio renovado.
Os filmes do Tim Burton são, quase sempre, sobre a diferença e sobre a magia. Não a magia das bruxas ou dos deuses, se bem que estejam repletos de personagens fantásticas, mas sobre a magia de acreditar, que se reflecte precisamente nessas personagens. Até que ponto és capaz de acreditar? Até que ponto és capaz de deixar que este filme, tão surreal, se embranhe nos teus laços de realidade e se torne tão táctil como a tua própria pele?
Ousar acreditar, permitir-se acreditar. Acreditar é arriscar, e uma das perguntas mais pessoais que se podem fazer a alguém é precisamente: acreditas? Haverá algo mais forte, mais poderoso que as nossas crenças?
A história é feita de guerras travadas em nome de crenças. E a história da nossa vida, acredito, é feita, não daquilo em que acreditamos, mas da nossa capacidade de acreditar, da própria essência da crença e, claro, do sonho.
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