Friday, September 21, 2007

Vida num acto

Tornei-me mais alta. Construí pontes a partir da matéria dos meus obstáculos. Uni mundos sem pensar nas diferenças que os poderiam arrasar. Arrisquei. Levei a melhor, às vezes perdi. Outras vezes encontrei-me, sozinha, encontrando-me. Fiz a reunião do corpo e da alma e brilhei, permanente combustão estrelar que acaba numa explosão. Os meus destroços, viajando numa atomosfera sem pressão. A fita-cola à mão de uma mão amiga que me cola a mão de volta no lugar. Única união. Resplandecente conclusão. Um fim feito de pontos de interrogação. Não é término, é interrupção. São três pontos de exclamação sem necessidade, só pelo gosto. A necessidade de gostar, do prazer. Uma necessidade desnecessária que me faz viver. Um olho aberto, outro fechado. Viro a cara sem olhar para o lado. Frente, trás, diagonais transparentes. O meu corpo, feito de linhas, novelos de cores diferentes. Nós, laços, traços, abraços. Nós, miscelância de ritmos e de compassos, numa melodia perfeita, polifonia polivalente. Em frente, em frente... Um atraso de ponteiros que nos acalma a alma, a palma da mão virada para sul, pano de tule que cobre o tempo, frágil teia de aranha por cima do vento, rasga-se a norma, rasga-se o trato, é tudo espontâneo, vida num acto, baixa-se o pano, agradece o actor. O tic-tac que pára, só sobrevive o amor.

1 comment:

Ale said...

Li o primerio segmento de frase e já não queria ler mais nada! Imaginava-te a chegar-me ao ombro!
Mas isso é irrelevante, e eu sou tua amiga na mesma se não tiveres crescido.. o que me preocupa é quando nem o amor sobrevive, se assim for, como é que se vive?