Sunday, September 09, 2007

A estação parva

Está acabado. Já nem se digna a brilhar de forma igual, o sol. Sabe que está quase, quase no fim, e vai se deixando dormir, enquanto nós, quase a iniciar mais um ano lectivo, suplicamos por uns últimos dias de calor tórrido e banhos de mar.
E chega o Outono. O Outono é aquela estação que considero a mais parva de todas. Sim, é uma estação parva, em que não acontece nada de especial para além de cairem folhas das árvores. No Inverno sempre há chuva torrencial e ventos arrasadores, e na Primavera nascem os bichinhos e as flores... mas e no Outono? O Outono é melancolia e saudade, com os últimos vestígios do Verão que passou e os primeiros sinais do Inverno que aí vem. No Outono não há celebrações engraçadas, tirando o S. Martinho que já quase ninguém celebra. Não há roupa de Outono. Não há emoção no Outono. Não há gritos no Outono (tirando os dos vizinhos do outro lado da rua que se ouvem todo o ano).
Está bem, é sempre engraçado pisar as folhas secas nas ruas, a estalarem debaixo dos pés. E é verdade que o Outono tem cores bonitas, douradas e sagradas. E tem o cheirinho das castanhas assadas à entrada da estação de comboios, cada ano mais inflaccionadas e por isso cada vez menos procuradas.
Alguém diz que a sua estação preferida é o Outono? O Outono, tão impávido e sereno, tão quieto e calado, tão triste a lembrar-nos o fim de tudo com as árvores carecas que nos sussuram: "um dia vais ser tuuuuuuu!"
Talvez um dia encontre um estado de alma tão harmonioso que o Outono se tornará uma estação como a outras. Talvez este ano me surpreenda a admirar a quietude dos dias castanhos e me alegre pela calma à minha volta. Talvez este ano o Outono me deslumbre, com ventos mansos e chuvas miúdas. Talvez um dia se descubra que a Terra é mesmo plana. Talvez. Quem sabe?
Talvez esteja apenas desiludida com o fim do Verão e a despejar toda a minha revolta e tristeza contra o pobre Outono que não tem culpa de nada...

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