Thursday, February 23, 2012

Eu sei que vou com uns 20 anos de atraso

mas estou tão viciada nisto...





Mentirinhas piedosas

"As adolescentes são assim. Num momento estão bem e no outro passam-se. Acham que ninguém as entende, que o mundo está contra elas, gritam, choram... São as hormonas... Até se chama à adolescência «idade do armário» porque os pais desejavam poder enfiar os filhos no armário e só voltar a abri-lo quando a adolescência tivesse passado."

"Que horror, mamã! Eu também vou ser assim?"

...

"Não...."

Thursday, February 09, 2012

Para consumir. Sem moderação.


Freelancer, 26, mãe


Não necessariamente por esta ordem de ideias. Mas a vida é bastante caótica por aqui. As nossas manhãs parecem saídas do Apocalypse Now, com pijamas atirados para o sofá, torradas que voam em direção à mesa, segundos cronometrados para fazer face ao relógio e momentos de puro desespero. Ser mãe – digo-o com toda a honestidade – é mesmo, provavelmente, a mais difícil profissão do mundo. Primeiro porque, quando o nosso “funcionário” não cumpre com os seus deveres, não podemos simplesmente despedi-lo. Se, todas as manhãs, o nosso funcionário insiste em agarrar-se aos lençóis e não sair da cama, ou se fica basicamente paralisado a olhar para o pequeno-almoço, não podemos dizer-lhe: “Olhe lá, isto assim não está a funcionar. Lamento muito. Tem até ao final do mês”. É complicado.

A mãe é uma espécie de super-heroína*. Verdade verdadinha. A minha, sobretudo, que parecia arranjar sempre tempo para brincar connosco, fazer jantares, limpar a casa, atender pacientes e ainda deixar uma mão vazia para o que desse e viesse. Não sei como – provavelmente, nunca vou saber.

Cada mãe tem os seus truques, um arsenal de armas secretas aperfeiçoadas ao longo dos anos para conseguir lidar com a loucura que é criar uma criança. Alguns passam de geração para geração – de repente, damos por nós a fazer o que as nossas mães faziam, a dizer o que as nossas mães diziam, e adivinhamos as nossas avós a fazerem o mesmo. Outros, criamo-los nós.

Quando se vive sozinha com uma criança, como eu, a arte de educar requer armas especialmente eficazes. Há contratos devidamente assinados entre ambas as partes onde nos comprometemos a “não gritar”, “ser sempre amigas”, “dar um abracinho apertado e dois beijinhos ao acordar e ao deitar” e “não chegar atrasadas à escola/trabalho” entre outras cláusulas. Há o quadro de multas que estipula que por cada minuto extra no banho, após os 15 permitidos, se devem pagar 5 cêntimos e que cada dia em que nos atrasamos a sair de casa significa uma multa de 10 cêntimos que deve ser paga pela responsável. Há as viagens de carro entre casa e a escola que ora são viagens de avião em que os passageiros podem escolher uma data de sandes e bebidas imaginárias, oferecidas pelo comandante, ora são fugas a catástrofes naturais como terramotos e tsunamis terríveis, ora são corridas de táxi guiadas por personagens sempre diferentes e com sotaques geralmente quase incompreensíveis. Há saltos altos, escada acima escada abaixo - e o que parecia uma excelente forma de fazer exercício torna-se uma espécie de travessia de campo minado - com duas mãos e meia carregadas com mochilas, malas do ballet, lancheiras, saco do ginásio, sacos do lixo, do papel, do plástico, dos vidros, sacos de roupa suja e sacos de roupa limpa, tudo a roçar de forma ameaçadora contra as paredes, organizadas como se se tratassem de incursões militares: AGORA! VAMOS, VAMOS, VAMOS!

E à noite, quando o silêncio relativo de quem mora entre paredes de papel se instala, e finalmente me afundo no sofá (cerca de 5 minutos antes de entrar em coma) há desenhos espalhados de meninas de mãos dadas a sorrir, com balões, arco-íris, cachorrinhos sem qualquer noção de perspectiva e com as quatro patas todas viradas para o mesmo lado, estrelas e confetis. E percebo que no meio do caos também nascem flores.




*o corre(c)tor automático do word não reconhece o termo super-heroína, apenas super-herói. Shame on you, Microsoft, shame on you...