Thursday, February 19, 2009

A "crise"

A crise é horrível. Lemo-la nos jornais, nas caras das pessoas quando contam os trocos para pagar as compras, na conversa do amigo do amigo que perdeu o emprego. Até aí, a crise é horrível, mas podemos com ela.

Depois, a crise chega até nós. Assim, quase sem aviso, uma estalada de realidade de que leva tempo até nos recompormos. Já não é só horrível: é chocante, difícil de acreditar. Olhas para ela de frente e, mesmo assim, não a reconheces: é como um furacão que torna tudo disforme e esbatido e que, num instante, destrói aquilo que davas como quase certo. Pela primeira vez, sentes medo a sério da "crise". Essa palavra escarrapachada em todos os jornais que já se tinha tornado tão parte do teu dia-a-dia que quase a esquecias. Pensas no que podes fazer e sabes que, em todo o mundo, milhares de pessoas estão a pensar exactamente o mesmo que tu: e agora?

Há uns meses ouvi, na rádio, um homem que falava de todas as crises pelas quais já tinha passado ao longo da vida - e sobrevivido. E, nessa altura, senti que havia esperança. Naquela voz tremida pela idade não havia medo, nem necessariamente coragem. Havia sabedoria. Aquele tipo de coisas que julgo que só se aprendem mesmo com a experiência e os anos. Aquelas coisas que, depois de as escutarmos pela primeira vez, são uma espécie de âncora que procuramos nos momentos difíceis. Palavras que vêm trazer à alma o aconchego que falta nas antigas certezas do dia-a-dia.

E eu acredito tanto em nós.