Saturday, November 17, 2012

A vida vai continuar. 


Monday, October 08, 2012

Percebes que precisas de um escritório quando tens por acessórios de secretária um cacho de bananas e um monte de molas da roupa...

Thursday, September 06, 2012

Coisas boas




Talvez um dia estas palavras ganhem asas e a gente possa pintar a lua de azul.



Saturday, June 30, 2012

Eternidade


Não foi por querer, mas morri. Sem doçura nem histerismos, assim como quem adormece sem se aperceber e, de repente, estava morto. Não escutei a música de harpas nem vi chegarem os anjos, de asas abertas e cabelos dourados. Simplesmente, morri. Que desilusão! Nem ninfas, nem estrelas, nem espetáculos cósmicos de luz, nem alguém conhecido para me estender a mão e dizer: por aqui, vem, esperei-te a vida inteira e eis que chegaste. Podia ao menos espreitar Deus, ter um vislumbre do mundo, ver a minha vida assim, a correr, um encadeado de fotografias e cheiros e sons – mas não. Limito-me a estar morto. Para mais, deixei a cama por fazer e a roupa suja espalhada pelo chão do quarto. Pobres dos que acharem o meu corpo: uma chatice ir pelo jardim, de mão dada, sonhando quimeras e de repente deparar-se com o espetáculo de um homem caído no lago, o corpo insuflado, talvez corroído já. Gostaria de lhes dizer que sigam, que não preciso de funeral e dispenso elogios fúnebres, talvez seja melhor assim, Deus não parece ter lugar para mim. Ouçam: sigam em frente. Poderá ser apenas uma partida dos vossos olhos, as pessoas não morrem em lagos bonitos junto de parques infantis, a cara a cobrir-se de nenúfares, as mãos estranhamente arqueadas como se buscassem agarrar-se a um fio de vida ainda por extinguir. Aqui, não há nada. E se for assim para toda a eternidade – que sabe-se lá quanto tempo dura, afinal, quanto tempo passou desde que morri? – que aborrecimento. Ficar assim, só com os pensamentos, destituído de movimento, sem nada que ler, uma revista do social, até, aceitava tudo. Espero que não me encontrem. Imagino as crianças horrorizadas ao assistirem ao meu corpo a ser puxado da água e as mães a correrem para lhes cobrirem os olhos com as mãos, os pesadelos que durarão por semanas e os miúdos a enfiarem-se na cama dos pais com medo do monstro que foi retirado do lago. Pois então foi assim que acabei? Um monstro? Um homem planeia a vida inteira e a vida retribui-lhe assim. Poupa, Francisco, poupa. Junta para uma casinha, junta para a família, junta para que nunca te falte nada. Mas que raio me pode faltar agora, aqui? Ah, sim, algo que ler, uma folha onde escrever, dava tudo o que tenho – perdão, o que tinha – por uma folha de papel em branco – bolas, nem tinha de estar em branco, aceitava tudo – e um pedaço de lápis. Quanto tempo terá passado? Um minuto? Um dia? Um ano? A eternidade? E ela? Ah, ela… Desculpa-me, vais odiar-me tanto. Trago no bolso o anel que tinha para ti. Que nunca o encontrem, não quero que vivas nesse sobressalto de aproveitar o segundo, essa coisa que se apodera dos vivos quando os deixamos e que os obriga a sorver o ar e bater os pés com força na terra para se certificarem de que não esquecem que ainda vivem. Quero que vivas a vida tranquila dos inocentes, a complacente ignorância, o riso fácil, até, diria, a rotina: não há nada de errado nisso, na repetição dos gestos que amamos, pôr a mesa para dois, partilhar o lavatório, lutar pelos lençóis, esconder o comando da televisão, fazer uma festa fácil sobre o cabelo enquanto se lê um livro. Sorve o dia-a-dia com a quietude de quem não tem pressa de viver. Aqui, a eternidade dura muito tempo.

Thursday, May 10, 2012

Deus nos livre

"Já pensou em desistir?"

E debitamos um monte de frases feitas acerca da força, do optimismo e do poder do hoje. Citações, provérbios, exemplos grandiosos de carpe diem e outros clichés absolutamente inúteis que só servem para deixar os outros tranquilos. Deus nos livre de verter uma lágrima.

Thursday, February 23, 2012

Eu sei que vou com uns 20 anos de atraso

mas estou tão viciada nisto...





Mentirinhas piedosas

"As adolescentes são assim. Num momento estão bem e no outro passam-se. Acham que ninguém as entende, que o mundo está contra elas, gritam, choram... São as hormonas... Até se chama à adolescência «idade do armário» porque os pais desejavam poder enfiar os filhos no armário e só voltar a abri-lo quando a adolescência tivesse passado."

"Que horror, mamã! Eu também vou ser assim?"

...

"Não...."

Thursday, February 09, 2012

Para consumir. Sem moderação.


Freelancer, 26, mãe


Não necessariamente por esta ordem de ideias. Mas a vida é bastante caótica por aqui. As nossas manhãs parecem saídas do Apocalypse Now, com pijamas atirados para o sofá, torradas que voam em direção à mesa, segundos cronometrados para fazer face ao relógio e momentos de puro desespero. Ser mãe – digo-o com toda a honestidade – é mesmo, provavelmente, a mais difícil profissão do mundo. Primeiro porque, quando o nosso “funcionário” não cumpre com os seus deveres, não podemos simplesmente despedi-lo. Se, todas as manhãs, o nosso funcionário insiste em agarrar-se aos lençóis e não sair da cama, ou se fica basicamente paralisado a olhar para o pequeno-almoço, não podemos dizer-lhe: “Olhe lá, isto assim não está a funcionar. Lamento muito. Tem até ao final do mês”. É complicado.

A mãe é uma espécie de super-heroína*. Verdade verdadinha. A minha, sobretudo, que parecia arranjar sempre tempo para brincar connosco, fazer jantares, limpar a casa, atender pacientes e ainda deixar uma mão vazia para o que desse e viesse. Não sei como – provavelmente, nunca vou saber.

Cada mãe tem os seus truques, um arsenal de armas secretas aperfeiçoadas ao longo dos anos para conseguir lidar com a loucura que é criar uma criança. Alguns passam de geração para geração – de repente, damos por nós a fazer o que as nossas mães faziam, a dizer o que as nossas mães diziam, e adivinhamos as nossas avós a fazerem o mesmo. Outros, criamo-los nós.

Quando se vive sozinha com uma criança, como eu, a arte de educar requer armas especialmente eficazes. Há contratos devidamente assinados entre ambas as partes onde nos comprometemos a “não gritar”, “ser sempre amigas”, “dar um abracinho apertado e dois beijinhos ao acordar e ao deitar” e “não chegar atrasadas à escola/trabalho” entre outras cláusulas. Há o quadro de multas que estipula que por cada minuto extra no banho, após os 15 permitidos, se devem pagar 5 cêntimos e que cada dia em que nos atrasamos a sair de casa significa uma multa de 10 cêntimos que deve ser paga pela responsável. Há as viagens de carro entre casa e a escola que ora são viagens de avião em que os passageiros podem escolher uma data de sandes e bebidas imaginárias, oferecidas pelo comandante, ora são fugas a catástrofes naturais como terramotos e tsunamis terríveis, ora são corridas de táxi guiadas por personagens sempre diferentes e com sotaques geralmente quase incompreensíveis. Há saltos altos, escada acima escada abaixo - e o que parecia uma excelente forma de fazer exercício torna-se uma espécie de travessia de campo minado - com duas mãos e meia carregadas com mochilas, malas do ballet, lancheiras, saco do ginásio, sacos do lixo, do papel, do plástico, dos vidros, sacos de roupa suja e sacos de roupa limpa, tudo a roçar de forma ameaçadora contra as paredes, organizadas como se se tratassem de incursões militares: AGORA! VAMOS, VAMOS, VAMOS!

E à noite, quando o silêncio relativo de quem mora entre paredes de papel se instala, e finalmente me afundo no sofá (cerca de 5 minutos antes de entrar em coma) há desenhos espalhados de meninas de mãos dadas a sorrir, com balões, arco-íris, cachorrinhos sem qualquer noção de perspectiva e com as quatro patas todas viradas para o mesmo lado, estrelas e confetis. E percebo que no meio do caos também nascem flores.




*o corre(c)tor automático do word não reconhece o termo super-heroína, apenas super-herói. Shame on you, Microsoft, shame on you...