Sunday, November 20, 2011

E eu gosto de viver aqui

Não sei bem por que critérios, Oeiras foi considerado o melhor concelho do país para se viver. E a vida, por aqui, é boa, de facto: temos jardins, parques infantis, boas escolas, centros de saúde que funcionam, estradas bastante aceitáveis, piscinas, ginásios, cinemas, teatros, bares, cafés, transportes públicos (até temos o SATU, que não serve para nada, é um facto, mas temos)...
E tudo isto é lindo e funcional e fofinho em dias de sol. O problema é aquela época do ano em que começa a chover - esta, portanto. Aí, Oeiras consegue transformar-se numa espécie de vila de um país de terceiro mundo: estradas cortadas, rios que transbordam, casas que sofrem inundações. E se nem mesmo o melhor concelho para viver em Portugal consegue controlar o tempo, o mesmo não se pode dizer sobre a limpeza das sarjetas. É que, como leiga que sou, me parece que bastaria isso para, por exemplo, não encerrarem o "sobe-e-desce" (é, Oeiras tem destas coisas) de cada vez que caem duas gotas de chuva. Mas sei lá eu!
Sexta-feira demorei duas horas de Paço de Arcos à estação de Oeiras - um percurso que, em dias normais, faria em 8 minutos. A única solução para conseguir chegar à escola da cria, onde já a imaginava com água pelo pescoço, foi abandonar o carro pelo caminho e, munida de um par de galochas e um guarda-chuva minúsculo da Barbie (o único que tinha), atravessar o rio feita Rambo, enquanto observava os carros com água pelos vidros num desvario de alarmes e luzes.
Senhor Isaltino, se me escuta: deixe lá as rotundas e invista num sistema de escoamento mais eficiente. Pelo andar da carruagem, ainda lhe vamos chamar Sr. Presidente durante mais uns 20 anos - tempo suficiente, portanto, para nos deixar uma vila tão bonita no Verão como no Inverno. O povo - os que votam e os que não votam em si - agradece.

Friday, October 28, 2011

Olhando lá para fora

ninguém diria que, há dois dias, um barco foi lançado do mar para o meio da marginal, o aeroporto de Faro foi esburacado por um mini furacão e as estradas de Oeiras se percorriam bem melhor a remos.

Mas é verdade.
Até há bem pouco tempo, eu não podia imaginar como é complexo o mundo das limpezas domésticas. Para mim, uma vassoura, uma pá, uma esfregona e um paninho amarelo eram a base desta ingrata actividade que, com grande alegria, deleguei na minha empregada, uma vez por semana. Ora, não podia estar mais enganada! Aparentemente, o papel de cozinha não pode ser o do continente porque deixa pelos! Pelos! Suja mais do que limpa, garante-me ela. Mas é o mais baratinho e, por isso, temos pena mas vamos ter de levar com pelos durante mais uns tempos... Ontem, fui comprar um espanador e um limpa-móveis (sim, existe mesmo um produto chamado limpa-móveis). O espanador foi rapidamente humilhado, enxovalhado e remetido para a categoria de "brinquedo": eu sei que um pauzinho com penas cor de rosa não inspira grande profissionalismo mas era o que por lá havia e, dada a manifesta urgência de possuir este instrumento, como podia não o trazer? O limpa-móveis, sob o meu olhar assustado e antecipando um "isto é veneno! derrete os móveis!!", lá passou a inspecção.

Uff! Para a semana há mais....

Thursday, October 27, 2011

Dona Teresa

Um dia qualquer cuja data certa não consigo recordar. Não dá nada de jeito na televisão - não, em nenhunzinho dos 30 e poucos canais que, vai-se lá saber como, eu recebo de graça em casa. Eu, enrolada na minha manta de pelinho que finalmente começa a deixar de cheirar a naftalina, com a chávena de chá ali ao lado, estou nas minhas sete quintas. E eis que, parando na Casa dos Segredos por uns meros 45 segundos, ele me diz logo, com um esgar de puro horror:

- Se deixas isso aí saio já de casa!

Se fosse um programa de maus-tratos a velhinhas, ainda vá... Uma reunião do Ku Klux Klan, pronto... Mas, aparentemente, a Casa dos Segredos marca aquele limite da moral, da decência e de mais qualquer coisa, abaixo do qual ele não consegue sobreviver.

Thursday, October 06, 2011

Este país não é para quem tem cartão de cidadão

Se calhar vocês não sabem, mas quando fazemos o Cartão de Cidadão recebemos uma carta em casa com uma data de números – os PINs – que nos permitem ir levantar o respectivo cartão à conservatória. O que eles não nos dizem é que aquilo não é “para guardar”, simplesmente. Não, aquilo tem de ser protegido com a vida, devemos usar o corpo para o proteger de chuva ou balas, se necessário, porque na verdade o que nos deviam dizer é: “Guarde isso no cofre do banco ou está bem fodida”. Pronto, a verdade é esta. É que, Deus vos livre de tal mal, mas se perdem os códigos, não há outra solução senão fazer um cartão novo. Recuperar PINs? Qual quê?! Faz muito mais sentido enviar-nos de novo para as filas, tirar fotos, descalçar, medir, preencher cada numerozinho outra vez. Faz, não faz? Nem por isso, mas é assim que se passa. Outra coisa engraçada é que quando temos Cartão de Cidadão, se quisermos utilizá-lo para alguma operação online não basta inserir o número e os PINs… Não, isso era demasiado simples e simples é coisa que não assiste a este país. Vai daí, toca tudo a comprar uma máquina de leitura do Cartão de Cidadão, que isso é que dá dinheiro – não a nós, claro, mas isso são pormenores que não interessam.

Se eu podia viver sem cartão de cidadão? Podia, e era bem mais feliz!

Tuesday, September 20, 2011

Lá por casa

Cria ontem, ao chegar ao quarto:
"Mamã, foste tu que fizeste a cama?! Está tão direitinha!!"

Wednesday, September 14, 2011

Fazem-me uma confusão tremenda aquelas pessoas que dizem que não reciclam porque o ecoponto é muiiiito longe de casa. E meter os saquinhos no carro e passar pelo ecoponto no caminho para o trabalho, não? Ai que fica o carro a cheirar mal, que dói nas mãozinhas carregar 3 ou 4 sacos diferentes, que ocupa muito espaço na cozinha... Eu tenho uma cozinha piquinina, piquinina e consegui lá enfiar um caixote de reciclagem. Por isso, se não têm paciência para reciclar, assumam-no. Chamemos as coisas pelos nomes. Em 2008 existiam mais de 25 mil ecopontos em Portugal - e o número, presume-se, está bem mais gordinho por estes dias. Ou seja: ou não reciclam e assumem que se estão a marimbar para a coisa ou comecem a reciclar e acabem com o choradinho de que não há ecopontos por perto, que, pelo menos em Lisboa, é coisa que não falta.

Arrrgh!

Thursday, September 08, 2011

Quem me dera que pudesses ficar, só mais um bocadinho. Ali, encostado à janela. Nem tinhas de falar, ser engraçado, fazer conversa de circunstância. Podias limitar-te a olhar os livros, como faço às vezes, sentada no tapete, enquanto penso. Fixo as lombadas e penso, rabisco decisões, aposto em sonhos. Se pudesses ficar acabavas por diluir, um pouco, este silêncio. É sempre diferente o silêncio a dois. Tem altos e baixos e cores e texturas e quase se consegue sentir o sabor na ponta da língua. Venho de uma casa cheia: de pessoas, gatos, peixes, televisores, revistas abertas sobre a mesa de centro. E o silêncio não é coisa que me caiba bem: quase como uma camisola demasiado grande, a sobrar nas mangas, a cobrir os joelhos. Se puderes, fica um bocadinho.

Monday, August 29, 2011

fim-de-semana

O que o Ikea não informa é que, uma vez chegados a casa, temos de prender 82 flores de papel, uma a uma, do topo do escadote, com o candeeiro já pendurado no tecto. Tirando isso, é fofinho e fica mesmo bem na minha sala.





Monday, August 22, 2011

Temos uma casa

Despedi-me dos meus pais como se estivesse a partir para a guerra. Sou uma menina dos papás, é verdade. Abracinhos, lágrimas, ai meu deus, ai meu deus... Agora, está feito. Não há volta a dar. Tenho o meu nome numa mão cheia de contratos que existem em duplicado. A mobília já está toda montada, a casa já cheira a casa e até já lá cozinhei arroz. Para tornar a coisa ainda mais oficial, o Douradinho e o Pintinhas já nadam alegremente no aquário, sinal de que esta é, definitivamente, uma casa habitada, com moradoras responsáveis que não deixam morrer os animais à fome (a ver vamos).
Faltam candeeiros, tapetes, cortinados. Faltam recordações àqueles cantos meios despidos. Vamos habitando e espetando pequenas bandeiras, aos poucos. Ali foi onde a cria espetou o pau de Mikado na mão. Olha, ali foi onde comemos o fondue com pedaços de sangue (não queiram saber). E ali foi onde o chuveiro entrou em colapso e desatou a atirar água num ângulo de 360º. É bonito. Temos uma casa.

Sunday, August 14, 2011

Who's your mommy?

Quando decidi sair de casa, achei que devia deixar a cria escolher o quarto. Seria uma forma de a entusiasmar com o projecto e minimizar o sofrimento de a afastar dos avós, da tia e do gato, com quem vivemos até agora.

Ideia estúpida, claro. Porque, ao contrário de mim, ela não é nada estúpida e escolheu o quarto maior, cheio de sol. Então, enquanto eu me encosto à parede do meu quarto, em desespero, a tentar perceber onde vou enfiar os móveis, ela brinca no meio do sol, os cabelos a refulgir com a luz, e deita-me a língua de fora.

- Amor, não queres trocar de quarto?
- Não!
- Mas tu não precisas de...
- Não, mamã! Disseste que eu podia escolher.
- Pois... Mas, sabes, a minha mobília é tão grande...
- Não.

Lembrem-me lá quem é que manda em casa?...


Friday, August 12, 2011

Inspecção ao gás OU como eu descobri que estive a um passo do fim

-Pois, está a ver, isto é como se se fechasse numa garagem com o carro ligado.
- Hum, hum...
- A ligação em T impede que o monóxido de carbono passe.
- Ah!
- E o esquentador também deve fazer pequenas explosões de vez em quando.
- Explosões?
- Sim, não vê aqui a porta queimada?
- .... Explosões?
- Não se preocupe. Diga ao proprietário que tem de chamar alguém para vir afinar isto.
- Ah, está bem, está bem, obrigada!

Conclusão: na próxima casa só se usa electricidade. Ponto.

Habemus lux!!


Thursday, August 11, 2011

Bad ideas

Tenho mais de uma centena de livros, à vontadinha. Estranhamente, sempre me pareceram poucos – houve sempre aquela ânsia de conseguir uma biblioteca sobre a cabeceira da cama, prateleiras e mais prateleiras cheias de folhas de papel a cheirar a tinta e a tempo – até hoje. Porque empacotar – que é como quem diz ensacar – uma centena de livros não é fácil. Menos ainda em Agosto, com trinta graus e uma brisa que, pura e simplesmente, não corre. Confesso: alguns daqueles livros poderiam bem ser deixados para trás. Nunca mais vou ler metade deles. Uns, nem me lembrava que os tinha. Outros, deixei-os a meio: nunca acabo os livros de que não gosto, por lição de uma professora de português que me garantiu que, ao fazê-lo, mataria a paixão pela leitura. Há ainda uns quantos que nunca li nem vou ler, é certo. Mas custa-me deixá-los assim, ao abandono, sozinhos nas estantes despidas… Por isso, vou ensacando. Já sei que me vou arrepender quando tiver de arcar com eles ao longo de dois andares sem elevador: parece pouco, mas experimentem fazê-lo com 20kg de livros em cada mão. E isto são só os meus, porque também há os da cria, dezenas deles, que precisam de ser carregados com o mínimo de dignidade e sem dar a entender aos vizinhos que estão a assassinar alguém nos degraus.

São os livros. Falta tudo o resto. Tudo. Tudo. E de cada vez que penso nisso apetece-me comprar uma passagem aérea para uma ilha tropical e esconder-me lá até que alguém se lembre de mim. Alguém como, por exemplo, as companhias do gás, água e luz, que cobram uma fortuna (exceptuando a EDP) para fazer um contrato e inspeccionar as instalações. Arrrrrgh! Afinal, porque é que alguém quer mudar de casa, explicam-me?


Ps- o momento alto do meu dia consistiu em girar a torneira e ver sair água. Pareceu-me algo digno de figurar num almanaque de milagres. Aplaudimos, gritámos, demos pulinhos de alegria. Sim, é neste estado que estamos.

Thursday, July 28, 2011

Dói, dói!

Isto de se ter um passado em revistas de design pode ser muito bom na altura de decorar uma casa nova, mas cria verdadeiros monstros. Fico encalhada entre o site da IKEA e o da Occa Home, a espreitar estantes de 25€ de um lado e de 2500€ no outro e a fazer contas - obviamente inúteis - à vida.


A solução? Arranjar um bom carpinteiro para reproduzir algumas das peças que nunca poderei comprar. Como, por exemplo, esta: foi amor à primeira vista e, pelos vistos, só está disponível por encomenda. Maldito sejas, Olivier Dolle!





Tuesday, July 05, 2011

ufffff

Andei a guardar isto aqui, só para mim, durante imenso tempo. Mas faz-me uma comichão brutal ver a página da Pepsi Portugal - e estamos a falar da Pepsi, não é a limonada da Dona Joaquina - a publicar posts no Facebook com constantes erros. Acentos que não deviam existir mas estão lá, alguns que deviam mas não estão, o hífen no lugar errado...

Eu respiro fundo. Respiroooo. E mudo de página. Posso ser snob das palavras, eu sei, mas rai's parta, mais ninguém se incomoda com isto?!

Thursday, June 30, 2011

As tragédias, quando estampadas nos jornais, revistas e televisões, têm este dom de nos acordar. De repente, com a morte de dois jovens, todos nos apressamos a sentir mais, a viver mais, a sorrir mais. Todos queremos aproveitar mais, não deixar passar um segundo em branco, sugar ao máximo o sumo que a vida nos dá.

O facto, no entanto, é que isto dura pouco. Dura pouco esta ânsia de vida, este correr atrás da felicidade, este viver como se não houvesse amanhã. Aos poucos, volta a rotina, voltam os hábitos, volta o “tem de ser, temos de fazer, é a vida”. Mas é? É isto que deve ser?

Que sociedade é esta em que tantos acordam quando ainda não amanheceu e voltam a casa quando já não há sol, porque há contas para pagar, filhos para alimentar, filhos que pouco vêem, casas de que pouco desfrutam? Que realidade é esta em que uns se passeiam de iate ou de jacto privado enquanto outros, ao mesmo tempo, morrem à fome? Que pessoas somos nós quando deixamos isto acontecer? É como se vivêssemos num delírio colectivo, esquecidos do que é viver. Um mundo em que as pessoas se deixam retalhar – e pagam para isso! – numa mesa de operações, em que a beleza é um sinónimo de sacrifício absoluto, em que aquilo que és capaz de comprar vale mais do que o que és capaz de dizer e sentir – o que é? O que é isto?

Como é que chegámos aqui? Seremos intrinsecamente estúpidos? Ou precisamos, só e tanto, de acordar?

Thursday, May 19, 2011

Home sweet home

Os tempos não estão para aventuras. E para quem tem uma cria às costas, menos ainda. Uma pessoa vai vagueando nos sites, em busca da casa perfeita, e quanto mais procura maior é o horror. Primeiro, o preço. Depois - dor, dor! - os azulejos cor de cócó que decoram todas as cozinhas: não, a sério, quem é que achou que aquele verde tom vomitado era apropriado para uma zona de refeições?
Uma pessoa vê 100, 200, 300 apartamentos e só tem vontade de ir cortar os pulsos. Ou de ir roubar um banco.
Ser independente é difícil. Ser independente e ter de assegurar que a nossa filha não vai ser comida por ratazanas mutantes durante a noite é épico. Passados dois dias de muitas fotos e descrições um bocadinho exageradas - "grande vista de mar" significa, geralmente, que se consegue observar meio centímetro de azul se se esticar muito o pescoço - estou de rastos. Todo o entusiasmo de encontrar o futuro lar se esvaiu e ficou apenas aquela frustração horrível de saber que, se quiser mesmo seguir em frente, vou ter de assumir os meus azulejos cor de cócó, o prédio em ruínas a dezenas de quilómetros da civilização e os cogumelos a nascer nas paredes. Posso chamar-lhes "rústicos" ou "tradicionais". E, quanto aos cogumelos.... vá, é como ter uma horta em casa e fome não passamos! (brincadeira... mais ou menos)

Se eu pensar nisto com muiiiita força pode ser que me convença. Daqui a uns dias. Umas semanas, se calhar. Ou uns meses, que eu sou uma pessoa que precisa de algum tempo para mudar de ideias. Mas, nesta altura, só me apetece desligar o computador, deitar a cabeça na almofada e esquecer que me meti nesta história toda...

Tuesday, April 19, 2011

vírgulas

Temos esta ideia romântica, ligeiramente estúpida e um bocado pretensiosa acerca de sermos incompreendidos. Como se fosse condição de algum tipo de espírito mais elevado, o não nos entenderem. Às vezes esquecemo-nos de considerar que, se calhar, só se calhar, estamos mesmo errados. Se calhar, só se calhar, aquilo nem faz sentido nenhum. E que quando não nos compreendem, às vezes, é porque não nos sabemos fazer compreender.

Mas, claro, isto, de romântico, não tem nada.

Só as vírgulas.

Saturday, March 12, 2011

Tira o rabinho do sofá

Esquecemo-nos que a democracia é de todos. Que o Estado, em última instância, somos todos. Que um país não são os senhores que estão sentados na assembleia.
Enfim, é fácil queixarmo-nos quando temos o rabinho bem assente no sofá. É confortável, é conversa de café, de jantar, de fazer horas antes de sair para beber uns copos. É fácil dizer "está tudo mal" seguido de "temos mesmo de sair do país".
Mas este país, que aprendemos a olhar com uma desilusão indisfarçável, é o nosso país. É a nossa democracia. É nosso. E podemos mudá-lo. A sério que sim.
Mesmo que o protesto de hoje não dê em nada. Mesmo que, ao fim da noite, tudo se mantenha igual no papel. Há qualquer coisa que muda. Nós mudamos. Nós dizemos "não". Dizemos "eu não quero ter de abandonar o meu país". Pedimos mais, exigimos mais - não do sofá. Exigimos que nos ouçam. Exigimos que nos vejam, que nos reconheçam como pessoas em vez de números. Eles não querem saber? Mas quem são "eles"? Isto somos nós! Este país somos nós. E só quando compreendermos isto é que podemos compreender o poder que detemos.
Vão para a praia, como dizem alguns. Mantenham o rabinho no sofá que é bonito e confortável e não têm de apanhar o metro que é chato a um sábado de sol. Bebam as vossas cervejas na esplanada enquanto se queixam dos ordenados miseráveis, do desemprego, da injustiça na distribuição das contribuições ao estado e dos gastos ridículos das contas públicas onde, em vez de se investir onde é preciso, se compram toneladas de flores e motoristas e frotas automóveis e jantaradas. Ah, sim, isso é que é bonito.
Eu, lamento, cansei-me do sofá. Cansei-me da esplanada. Cansei-me do rabo sentado, do dedo apontado a nada, das soluções atiradas para a mesa de café. Cansei-me dos que se queixam e não fazem nada. Dos que se lamuriam e nunca puseram os pés numa mesa de voto. Das filosofias atravessadas para justificar a inércia.
"Ah, não muda nada." Sair à rua é, em si, já uma mudança. A mudança numa geração comodista. Sim, somos uns comodistas. Somos uns privilegiados, é verdade. Tivemos carros comprados pelos papás e cursos superiores pagos pelos papás e roupas de marca pagas pelos papás. E então? É por isso que não nos podemos queixar? Isto significa que teremos de ficar eternamente dependentes dos nossos pais e da sua boa vontade? E aqueles cujos pais estão desempregados, de baixa médica, pobres, pobres, pobres? E aqueles que tiveram de vender as casas e os carros para comer? Não se iludam - isto existe. A minha geração pode ser uma geração privilegiada em muita coisa - mas é também uma geração de sonhos desfeitos. Uma geração a quem disseram "podes ser o que quiseres" e que, chegada a altura, depois de cursos superiores, pós-graduações, mestrados, anos e anos e anos de estudo e formação, se deparou com um mercado preparado para a dilacerar. Estágios sem vencimento, ajudas de custos de 150 euros, recibos verdes, uma incerteza constante que nos impede de andar para a frente. E o problema maior não reside na falta de dinheiro. O problema está na forma como é distribuído. Porque o estagiário que recebe 150 euros - e já é "bem bom" quando recebe alguma coisa - convive com o director que recebe 10 ou 15 mil euros por mês, se for preciso. E quando é preciso fazer cortes, onde é que se vai? É ao ordenado obsceno do director ou aos 600 ou 700 euros do trabalhador?
Não se enganem, senhores. Se nós não andarmos para a frente, o país não anda para a frente. Nós somos este país. Somos nós que, quando estiverem velhos e cansados, vos pagaremos as reformas. E com o quê? Que tipo de geração estão a criar? Que tipo de valores estão a incutir ao país? É este egoísmo brutal, esta exploração selvagem? Se não cuidam de nós agora, porque raio haveremos de cuidar de vocês no futuro? Pensem nisso quando estiverem a ver-nos na TV, a dizer "estes putos mimados que nem foram à guerra" (este comentário ridículo não me sai da cabeça). Pensem em que homens estão a construir e se são estes homens que querem a governar-vos. Nem que seja por isso, pensem. Quando pedimos uma mudança para esta geração, o que pedimos é, na verdade, uma mudança para o país. Para nós todos, incluindo os que ainda nem nasceram. Mais que tudo, eu peço é justiça. Sou uma idealista? Que seja. Mas as soluções fazem-se de ideais.
E ideais não se concretizam nos sofás.



Wednesday, February 09, 2011

Monday, February 07, 2011

A pesar, cá dentro

Perfeito. Perfeito. Perfeito.
Às vezes voltas a ter aqueles momentos à adolescente em que só queres ser igualzinha a toda a gente...

Thursday, February 03, 2011

Para si, X

Exma pessoa que me rogou a praga,

Venho por este meio tranquilizá-la e dizer que tudo parece estar a correr de acordo com o previsto. Primeiro achei que ia ficar paralisada mas, vai-se a ver, e afinal parece que é só uma gripezinha daquelas que atiram uma pessoa para a cama com febres de 39º, tremores inspirados nesse grande êxito que é o Exorcista e dores musculares. Muito eficaz também a coisa da Máxima Interiores. Não basta pôr uma pessoa a contorcer-se: há que garantir que o dano não se soluciona com uns simples comprimidos e, por isso, toca de fechar a revista. É preciso reconhecer que esteve bastante bem: por acaso foi um dos sítios onde mais gostei de trabalhar. Gostei mesmo – das pessoas, da linha editorial, do lugar e da revista, que era, pura e simplesmente, linda. E atribuir à minha filha um trabalho sobre a Islândia no dia em que eu tinha quase 40º de febre foi, muito basicamente, de génio! Não há nada como estarmos prestes a desmaiar enquanto pesquisamos a gastronomia tradicional de um país onde se apreciam iguarias como tubarão podre e salsicha de fígado de ovelha!

Ainda assim, caro/a X, temo que o seu plano esteja condenado a falhar, no fim. Uma das vantagens de sermos jovens é acharmos que temos o futuro inteiro pela frente. Somos estúpidos, sonhadores e esperançosos. Somos ingénuos, sim, e acreditamos que, mais tarde ou mais cedo, tudo vai ficar bem. O trabalho foi feito e apresentado e o Porramatur – o prato tradicional da Islândia, esclareça-se – fez um sucesso tremendo entre as crianças, que gritaram "porra! porra!" a aula inteira. A febre baixou e já me consigo aguentar de pé. Os contactos começaram a aparecer e as oportunidades vão chegando, devagarinho, mas com um brilhozinho de luz no fundo do túnel. Acho que hoje, num acto de profunda loucura, até vou voltar a vestir uma roupa decente e abandonar as sweatshirts XXL com que defini todo o meu guarda-roupa esta semana! Ainda me dão uns tremores, ainda me sinto mais para lá que para cá, mas a vida tem momentos destes. E, espreitando o lado menos negativo, isto teve mais ou menos o efeito de uma dieta caríssima: foram 3 dias quase sem comer, à base de sopas e chás, e de certeza que uns bons 2 ou 3kg já lá vão – adeuzinho, não voltem, não sentiremos a vossa falta. Nem a sua, estimado/a X. Arranje uma vida, plante umas árvores, escreva uns livros e, se não for um acto de profunda crueldade contra a humanidade, tenha um filho. Enfim, seja feliz. Eu, por cá, garanto-lhe que farei o mesmo.

Monday, January 24, 2011

Oh senhores....

procuram-se jornalistas e fotógrafos freelancer com carteira profissional



O 'site' jornalístico Cozido à Portuguesa vai estar no ar a partir de Fevereiro de 2011 e precisa de jornalistas com iniciativa, autonomia profissional e bons contactos, assim como fotojornalistas.

As colaborações não são pagas, pelo menos numa primeira fase.

Em troca dá-se liberdade editorial absoluta e espaço para publicar trabalhos que os média "mainstream" costumam rejeitar.

Empresa: Cozido à Portuguesa
Local: freelance
Tipo: Freelancer;



Wednesday, January 19, 2011

:)

Sabes, 2011, parece-me que nos vamos dar bem....

Sunday, January 16, 2011

it sucks

Fico sempre surpreendida quando alguém que acabo de conhecer usa exactamente as mesmas expressões que eu, nas mesmas ocasiões que eu, e com o mesmo nível de parvoíce. Surpreendida e, por vezes, chateada. Caramba, são as "minhas" expressões. Neste caso, ando a recalcar o feeling há tempo demais. Sim, que as expressões não são de ninguém, mas aquela coisa dos piquenos e dos póneis e idem era minha. Estupidamente, aliás, porque não percebo bem como duas pessoas se lembram de chamar aos outros "pequenos póneis"... Quantos mais haverão, assim sendo, espalhados pelo mundo? Quantos adoradores de séries dos anos 80 tratarão os seus amigos por "Ursinhos Carinhosos" ou "Tartarugas Ninjas"? O Mundo está cheio destas coisas, que nos fazem sentir menos únicos.

And it sucks.

Saturday, January 15, 2011

Ser jornalista numa revista mensal implica vivermos dois tempos diferentes: o verdadeiro, aquele dos calendários espalhados por todo o lado, e o da revista, programada com mês e meio de antecedência, mais coisa menos coisa. Quando as pessoas começam a pensar nas decorações de Natal já nós estamos intoxicadas de bolas brilhantes, papel de embrulho e sininhos dourados. Quando o pessoal avista os primeiros raios de sol, é certinho que já nós auscultámos as colecções de Verão praticamente todas, visitámos as melhores esplanadas e descobrimos aquela praia quase deserta ainda com os blusões vestidos.
Neste momento, o meu e-mail está a ser invadido por programas do dia dos namorados. Os melhores hotéis, os melhores restaurantes, todos eles fazem sugestões mais-que-românticas que prometem tornar um dia absolutamente banal - e estupidamente irritante, by the way - no supra-sumo dos momentos inesquecíveis. E mesmo que uma pessoa já não possa olhar para fotos de casalinhos apaixonados, tem de entrar no espírito e dar aos leitores uma ideia de todas as coisas maravilhosamente queridinhas e fofinhas que os aguardam caso optem por ir aqui ou ali. Por isso, se o comum dos solteiros só leva com um dia perfeito para se sentir a personificação da exclusão, já o jornalista da revista mensal tem um mês inteirinho para se afundar em auto-comiseração. Assim sendo, peço-vos paciência. Se nos próximos tempos virem que não ando muito entusiasmada com as vossas descrições pormenorizadas sobre aquela vez em que ele foi tããããão querido porque vos levou àquele sítio tããããão giro e depois falaram a noite inteira e foi tããããão fabuloso, perdoem-me. Prometo fazer qualquer coisa parecida com um sorriso - porque fico feliz por vocês, a sério que fico. Mas, ultimamente, ando mesmo sem paciência para o amor.

Friday, January 07, 2011

É isto. Quase que me vêm as lágrimas aos olhos...

TGIF

Desde segunda-feira que acordo às 06h40 (sim, da manhã), arranco a cria da cama, preparo pequenos-almoços e lanches e snacks, consigo não furar os olhos com o lápis, enfio a cria na escola, conduzo até Lisboa, escrevooooo, almoço a correr, corro para o metro, conduzo até Queluz, revejoooooo, e, às 18h30, mais coisa menos coisa, chego a casa.

Juro que poucas vezes isto foi tão sentido: Thanks God it's Friday!!!