Monday, June 29, 2009

Eu não estou aqui

Tenho saudades de quem sou. Ou de quem era. Tenho saudades da forma anárquica como organizava o mundo à minha volta. Como batia o pé e jurava que eu não ia ser assim. Não ia apanhar o metro a correr para picar o ponto. Não ia vestir-me de cinzento nos dias de chuva. Nunca. Queria encontrar-me, um dia destes. Lembrar-me como era sentir-me assim. Tão viva, tão certa, tão feliz.
Eu não pico o ponto. Eu não ando de metro. Eu não me visto de cinzento nos dias de chuva.
Mas, mesmo assim, não estou aqui.

Friday, June 19, 2009

Dia de fecho

Dia de fecho.
Oscila entre a loucura e a pasmaceira. Entre o corre-corre e o estar sentada durante horas, nas escadinhas, a apanhar sol, a fumar cigarros e a comer cerejas. Os dias de fecho têm cheiro. É o cheiro da tinta dos prints e plotters, dos marcadores fluorescentes a marcar notas e apontamentos nas margens, do dia que se vai transformando em noite e nós cá dentro, às vezes, no Verão quase nunca, a olhar para o ecrã, absortas das mudanças que se vão dando do outro lado da janela.
Dias de fecho são dias de cortar palavras aos textos. Às vezes parágrafos inteiros, outras vezes são textos dentro do texto que desaparecem, sem sequer deixarem vestígio de algum dia terem existido. Substituem-se palavras perfeitas por outras mais curtas. Sinónimos. Isso não existe. Isso não há.
São dias de corte e costura, de cansaço que traz olheiras, dores de costas, pescoços que estalam, olhos que ardem, zumbido nos ouvidos, roupa que cola e cadeiras que se moldam ao corpo. É a minha cadeira. E se não é confortável é porque o meu corpo não gosta do seu próprio molde. Culpa dele.
Dia de fecho é de “boa sorte”, de “escreveste tanto!”, de “não podemos aumentar um bocadinho a caixa de texto?” de bateres de pestanas suplicantes, vitórias às vezes, derrotas muitas mais, um “uffa” no fim antes da próxima guilhotina. São dias de isqueiros que flutuam entre nós, emprestados, perdidos, não tem dono? ah, é meu!, e o meu isqueiro? – is...quê? Viagens à máquina para ver os snacks que ainda estão dentro do prazo e depois esmurrá-la quando eles não caem, de ir à Maria Delícia comer uma fatia de bolo de bolacha, de arrumar a secretária que ficará novamente caótica na semana seguinte.
Dia de fecho – como é que alguém pode viver isto todos os dias?!

Thursday, June 18, 2009

A Morte Melancólica do Rapaz Ostra e outras estórias

Depois de mais de um ano de ausência "emprestada" ele voltou. Tão brutalmente imperfeito como antes :)

The Melancholy Death of Oyster Boy (de Tim Burton)



He proposed in the dunes,

they were wed by the sea,

Their nine-day-long honeymoonwas on the isle of Capri.

For their supper they had one specatular dish-a simmering stew of mollusks and fish.And while he savored the broth,her bride's heart made a wish.
That wish came true-she gave birth to a baby.

But was this little one human

Well, maybe.


Ten fingers, ten toes,

he had plumbing and sight.
He could hear, he could feel,but normal?

Not quite.

This unnatural birth, this canker, this blight,

was the start and the end and the sum of their plight.


She railed at the doctor:

"He cannot be mine.
He smells of the ocean, of seaweed and brine."


"You should count yourself lucky, for only last week,

I treated a girl with three ears and a beak.
That your son is half oyster
you cannot blame me.
... have you ever considered, by chance,
a small home by the sea?"


Not knowing what to name him,

they just called him Sam,
or sometimes,
"that thing that looks like a clam"


Everyone wondered, but no one could tell,
When would young Oyster Boy come out of his shell?


When the Thompson quadruplets espied him one day,

they called him a bivalve and ran quickly away.

One spring afternoon,
Sam was left in the rain.
At the southwestern corner of Seaview and Main,
he watched the rain water as it swirled
down the drain.


His mom on the freeway


in the breakdown lane
was pouding the dashboard

-she couldn't contain
the ever-rising grief,

frustration,
and pain.


"Really, sweetheart," she said



"I don't mean to make fun,


but something smells fishy


and I think it's our son.


I don't like to say this, but it must be said,


you're blaming our son for your problems in bed."


He tried salves, he tried ointments



that turned everything red.


He tried potions and lotions


and tincture of lead.


He ached and he itched and he twitched and he bled.


The doctor diagnosed,

"I can't quite be sure,

but the cause of the problem may also be the cure.

They say oysters improve your sexual powers.
Perhaps eating your son
would help you do it for hours!"


He came on tiptoe,

he came on the sly,
sweat on his forehead,
and on his lips-a lie.


"Son, are you happy? I don't mean to pry,
but do you dream of Heaven?
Have you ever wanted to die?


Sam blinked his eye twice.

but made no reply.

Dad fingered his knife and loosened his tie.


As he picked up his son,

Sam dripped on his coat.

With the shell to his lips,
Sam slipped down his throat.

They burried him quickly in the sand by the sea
-sighed a prayer, wept a tear-
and they were back home by three.

A cross of greay driftwood marked Oyster Boy's grave.
Words writ in the sand
promised Jesus would save.


But his memory was lost with one high-tide wave.

Wednesday, June 17, 2009

Condutores, juntem-se a mim num boicote aos piiiiii

Há um teste na internet que nos permite “descobrir” quando e de que morreremos. É um teste na internet – o que, desde logo, diz muito sobre a sua fiabilidade. E tem como objectivo prever o futuro – outra das suas características levemente dúbias. Mas, de qualquer forma, há quem o faça. Eu não. Nem a brincar quero saber quando e como vou morrer. Por mais estúpido que seja.
Eu sei aquelas coisas de que, eventualmente, me terei de separar se quiser viver mais uns anos – isto tendo em conta a simples lei das probabilidades. Dizer adeus ao LM Azul no fundo da mala, por exemplo. Não mandar sms enquanto conduzo também pode ser uma boa medida a tomar. Começar a baixar a cabeça quando passo debaixo dos sítios – cada vez mais me apercebo de que ser baixa não equivale a ser invisível e que bater com a cabeça dói. Mesmo. E, num dos primeiros lugares da lista, com direito a néons coloridos em redor: começar a controlar a hipertensão na estrada. Acho que é um dos melhores sítios para “medir” uma pessoa. Há os que esperam estoicamente na fila, debaixo de 30 graus, para avançar dois metros após meia hora de espera, segundo um princípio qualquer de justiça e respeito pelo próximo – como eu. E aqueles que avançam, felizes e contentes, pela faixa da esquerda, para se enfiarem novamente na direita como se tivessem alguma espécie de direito supremo a passar à frente. E há, claro, os que deixam, encolhem os ombros, lá dão espaço. E os outros que vão o caminho todo colados ao da frente, quase sempre a um milímetro de bater, a espreitar pelo espelho para ver se alguém vem aí a tentar enfiar-se num espacinho deixado ao acaso, que buzinam, reclamam e encolhem os ombros abanando a cabeça quando lhes pedem para passar e tremendo de raiva quando alguém (piiiii), os (piiiiii) deixa mesmo (piiiii) passar. Eu sou destes últimos. Do tipo que gostava de criar uma associação nacional contra os anormais na estrada. “Se ninguém os deixar meter-se eles desistem!”, argumento, de olhos sempre fixos no próximo carro que procura roubar o lugar que durante meia hora ou mais lutei para manter. O que me transforma na pior companhia de sempre para atravessar a ponte 25 de Abril, por exemplo. “Chega-te já à frente! Não! NÃO! Não o deixes passar! PORQUÊÊÊ?!” Mas eu acho que não sou eu que tenho o problema. Se calhar exagero, ainda admito isso. É que, repito, se nenhum de nós acedesse a colaborar com os condutores que consideram o seu tempo mais valioso que o nosso, e que ainda se gabam de nunca esperar nas filas, se calhar a coisa mudava um bocadinho. Mas não. Ficamos dentro do carro a suar, civilizadamente. Avançamos na fila, civilizadamente. E deixamo-nos ultrapassar, civilizadamente. Ninguém está para se chatear...