Monday, April 30, 2007

Dia de bola

Chegamos de cachecol verdinho ao pescoço, o café já a transbordar de gente. Uns aplaudem, outros nem por isso, mas o ambiente ainda está bom, o jogo não começou. Cervejas, muitas: na mesa, ao balcão, de pé, encostados à parede. Não bebo cerveja, limito-me a esfumaçar cigarros em fila indiana. KAMIKAZEEEE grita o próximo quando lhe faço explodir a cabeça. Ai, e o golo tão cedo e a alegria precoce... e o empate ali mesmo ao lado. Ouvem-se protestos de ambos os lados, verdes e vermelhos consideram-se roubados: só concordam quando se diz que o árbitro foi comprado. "Mais uma imperial" é a frase da tarde, talvez apenas equiparada pelos "Ai"s e "Ui"s que vão sendo gritados de mesa em mesa.
Final do jogo, abanamos a cabeça. "Podia ter sido melhor", comentam uns com os outros, que em caso de empate fica tudo entre amigos.
O café que abriu excepcionalmente para o derby começa a fechar as persianas. Sinal de que é hora de sairmos. Pagam-se contas, ri-se. Levo o meu cachecol na cabeça para me proteger da chuva.

"Paris, Paris...", comento, sentindo-me uma espécie de Grace Kelly.
Olho para trás e vejo um sorriso maléfico ao balcão: claro, o gajo do café é dragão....

Sunday, April 29, 2007

Para ti, que não és tu, nem sei quem és.

Não te escrevo. Perdemos tempo demais com palavras e esquecemos quem éramos. Jurámos, prometemos, sonhámos e não construímos nada suficientemente sólido para mostrar, agora. Andámos às voltas, espirais, infinitos, anéis que nunca têm fim nem começo algum. Acabámos onde começámos, mas ficámos iguais? Olha para mim: quem está aqui? Nem eu sei quem sou! Quanto mais quem fui, e se quem fui é quem sou! Confundo-te, suponho. Imagino que sim. Seria mais fácil mostrar-te os números, as datas, a fórmula de nós a dividir pelo tempo e o resultado escrito a carvão no fim da página. Odeio matemática, sou uma pessoa de letras. E se me disseres que as letras também se encontram na matemática, abano a cabeça perante a tua incompreensão. Falo de sons, de sentidos, não de símbolos traçados a químico em algum canto de papel!
Ah, e som das ondas lá fora. Uma noite que começa a cair. Esticaste-te, querias a lua, lembras-te? Dizia-te que podias guardá-la, dei-ta uma vez. Moldura de prata, uma luz desfocada num fundo negro. Não percebeste, como podias? Era a minha lua. Não podia ser tua. Estará nalgum gaveta, perdida, entre estrelas, cometas, e borboletas de asas brancas.
Vimos as estrelas, adivinhávamos constelações com nomes que brotavam da nossa imaginação. A ursa maior, a única que sabíamos localizar nesse bordado de luz. Já não sei onde fica a ursa maior. Lembro-me de um quadrado, três estrelas na ponta, uma cauda encantada de serpente. Sons de flautas no deserto que um dia seremos. Confusão, confusão, confusão. Queres saber tudo mas não posso desvendar o que não sei. Um dia vais ficar boa? Um dia vais renascer, Fénix das cinzas, coberta do cinzento do tempo, rasgado por lágrimas salgadas? Acredito....se acreditares. "Mostras-me a tua fada?" "Só se me mostrares a tua primeiro!" E as fadas escondidas, fechadas em prisões de carne e osso, segredando palavras incompreensíveis. Eu acreditava e acho que tu também. Mesmo quando abria as mãos e tudo o que via eram as linhas que me traçavam um futuro. A cigana na praia, a falar de maldições, amores, tragédias. Falava de nomes numa voz que despareceu e que se tornou eco do silêncio. Queria esses nomes, rir deles, sonhar com eles. Confusão, confusão. Não sabes quem és, suponho. Imagino que assim seja. Nem eu sei quem és. Vejo-te numa confusão de memórias. Suponho que sejas o infinito de gente que passou por aqui. Que decidiu espreitar quando passei. Que se dignou a olhar quando sorri. Que teve vontade de ler quando escrevi.

Thursday, April 26, 2007

A tua verdade

As pessoas medem-se nas situações difíceis. É nessas alturas que se provam os valores, os princípios e todas as ideologias aclamadas em mesas de café. É, então, nessas alturas, que se mede a verdadeira grandeza de cada pessoa.
Sempre optei por me centrar nos defeitos; não por algum pessimismo triste que habite dentro de mim, mas porque os defeitos, regra geral, não se fingem. Ninguém quer parecer pior que aquilo que é. Já as qualidades não me seduzem, voláteis e frágeis, prestes a partir a cada obstáculo.
Conheci-te, pela primeira vez, ontem. A desilusão de ti foi atenuada pela alegria de ver que ainda existem pessoas que conheço, verdadeiramente. Que ainda há pessoas que quando estão em situações difíceis não deixam para trás aquilo que defendem. Esse tipo de pessoas, que ficam contigo a noite toda, que abdicam de uns quantos risos para suportar umas quantas lágrimas, que te despertam para veres quão maravilhoso é viver.
Perguntaram-me ontem, curiosamente, se sou feliz. Do nada, de repente, sem imaginar a revolução que se passava dentro de mim. E tudo ficou mais claro:
"Sou feliz porque estou rodeada de pessoas que gosto e que gostam de mim"

Tuesday, April 24, 2007

Ding dong

Eu nunca me perco, simplesmente sigo um caminho diferente. Eu nunca me arrependo, só que às vezes desejo poder repetir as coisas de outra maneira. Eu nunca me zango, mas às vezes não me apetece falar contigo. Eu nunca minto, mas a verdade é relativa. Eu nunca tropeço nos meus pés, é o chão que me faz rasteiras. Eu nunca estou sozinha, estou só a disfrutar da minha companhia. Eu nunca choro, embora às vezes possa lacrimejar.

(Já repararam como nunca é uma palavra que soa tão ridícula? "Nunca!"... É quase tipo "pimbas" ou "ding dong"!")

Sunday, April 22, 2007

Há sempre o outro lado da questão


Estás

E se (os teus ses e reticências)

Encadeados de premissas: contrario Pessoa e sou do tamanho daquilo que sinto.
E se...? E se pudesse ser?E se pudesses ter aquilo que queres? E se a vida parasse, por segundos, para o teres?
E se...?
Ses que trazem consequências. Ses condenados a ser meros ses, até ao dia. Até ao dia em que tens coragem de transformar ses em acções e te dispões a aceitar as consequências do se.
Até lá, sonhas com ses. Esses ses que te atraem e amedrontam, inevitáveis como abismos.

E se um dia tiveres coragem de dar asas aos teus ses?

Saturday, April 21, 2007

Esse vício que é viver

Vou à bomba e peço o típico LM azul. Nota de cinco euros, dois euros de troco... Há alguma coisa errada neste panorama... dois euros de troco? Olho para o selo e vejo que, num dia, o tabaco aumentou 25 cêntimos! Isto assim, de repente, dá cá mais 50 escudos!!
Cambaleante, retorno ao veículo onde a minha amiga se exalta com a novidade. Planeamos uma manif frente ao Palácio de Belém, eu e ela, com a certeza de que seremos ouvidas: afinal, conseguimos fazer estragos por 6.
Desistimos pouco tempo depois, quando acendo o primeiro cigarro.

Vício

Vício de tabaco. Vício de rir. Vício de ouvir. Vício de falar. Vício de escrever. Vício de viver. Ando viciada nesta vida. Viciada nos que me fazem bem. Viciada numa filha a quem chamo alternadamente feijão verde ou rebento de soja. Ela diz que é uma menina, furiosa. Eu rio-me. Vício de dormir quando vejo Baby TV, que, na minha opinião, deve passar mensagens subliminares para adormecer os pais: é tiro e queda! Vício de água, sempre com a garrafinha atrás, às vezes a abrir-se na mala e a destruir os meus poucos pertences ("Não tenho nada, mas tenho tenho tudo!!!"). Vício de pastilha elástica e Lollypop de caramelo. Vício de verniz vermelho. Vício de canetas que me borram as mãos, ainda que não borrem as mãos dos outros. Vício de agenda com notinhas nunca lidas a tempo. Vício de telemóveis que interrompem o banho. Vício de banho de espuma com um livro na mão. Vício de tolhas fofinhas e cheirosas. Vício de sol e de chuva, de praia e de neve. Vício de fazer sku em sacos de plástico. Vício de cobrir a cabeça com algas e tirar fotografias. Vício de carioca de limão e conversa. Vício de abraço, de beijo, de aperto de mão segundo as regras de etiqueta. Vício de vícios, enfim.

Friday, April 20, 2007

Shall we sing in the rain?



Será só de mim, ou ouvem-se mesmo mais risos na rua nos dias de chuva? A início pensei que fosse impossível, ninguém é mais feliz quando chove... por alguma razão existe a famosa expressão "rainy days", para nos referirmos aos dias mais tristes.

Mas eu ouvia-os rir. Riam mesmo, de verdade, sem tapar a boca e sem medo que os ouvissem. Riam das calças encharcadas, as lutas com os guarda-chuvas, os cabelos despenteados. Faziam planos disparatados acerca de como caberiam 5 pessoas no mesmo chapéu, estabeleciam tempos limites para a partida, saltavam poças com gestos teatrais! Riam-se dos outros e, principalmente, riam-se deles mesmos. E sabe sempre tão bem rirmo-nos de nós!

As pessoas trocavam sorrisinhos à entrada dos edifícios, comentavam alegremente a reviravolta do tempo, diziam piadas acerca de S. Pedro e do benfica! Mesmo quando o metro fez uma paragem muito pouco suave (aliás, vi alguns olhares de pânico), uma senhora começou a rir e voltou a sentar-se, toda contente, e encharcada, no seu banquinho.


Detesto molhar-me, mas adoro andar à chuva.

Thursday, April 19, 2007

Obsessão Compulsão - HIP HIP HURRA!

E assim tive, finalmente, a prova de que havia uma parte neurótica em mim, e pude vir mais feliz para casa.
Toda a gente tinha neuroses menos eu, que chatice! E, de repente, voilá, tenho uma obsessão compulsão... nada mau, hein? ;)
Lia uma revista de medicina (o que por si só deveria chegar para provar que algo não estava bem nesta cabecinha), quando me deparei com uma lista de obsessões-compulsões frequentes. E lá estava ela, toda bonita, com letrinhas a itálico e tudo, a sorrir para mim. Senti logo uma ligação instantânea, como aqueles pudins que se preparam em 2 minutos, e abracei a revista em êxtase.

Diagnóstico: a minha obsessão prende-se com a exigência de perfeição nas palavras. Não aguento dar erros e muito dificilmente consigo suportar ver os outros a errarem no português. Tenho a mania de corrigir toda a gente, o que já me valeu alguns comentários menos agradáveis, mas também não faz mal, porque hoje sei que isso é uma neurose, ou uma psicose segundo a minha irmã psicóloga, que me disse que não me preocupasse: afinal, só se torna problemático quando afecta o nosso desempenho na vida social. Assim sendo, não há com o que me preocupar.... certo? E quando me chamarem chata já tenho desculpa: "É uma obsessão compulsão... sorry!"

Entre a Rosa e o Jaquim, um acordeão...

Sei que já muita tinta (virtualmente falando, claro está) correu neste blog acerca dos transportes públicos. Aceitem-na como uma obsessão de alguém que tem de levar com sovacos todos os dias; parece-me justo.
Só que nunca aqui me tinha debruçado sobre esse espécime que é o fantástico tocador de acordeão, que decide tocar nos nossos ouvidos quando estamos quase a dormir. Já repararam bem nas caras das pessoas à vossa volta quando o homem surge munido do seu instrumento? A frase até soa mal, mas factos são factos e devem ser ditos, portanto! A verdade é que aquele homem já faz parte do metro, como os bancos raquíticos e os varões cheios de dedadas pegajosas. E o pessoal já está mais ou menos habituado à sua presença... Lá vem ele, cheio de fé, a tocar e a cantarolar um folclore super animado, e toda a gente lhe vira a cara, reviram os olhos... Incrível como algumas pessoas até parecem nem dar por ele!
Nas minhas primeiras visitas ao metro de Lisboa ainda deixei a perninha saltitar ao som do acordeão: erro crasso. Mal o homem notou na minha perna decidiu tocar ao meu lado, cantar para mim, e passado um bocado já não me apetecia assim tanto abanar a perna, mas sim fugir, fugir, FUGIR!
Eles nem são assim tão maus, e até há por aí uma dupla que toca as bandas sonoras mais populares, como o Titanic. Na verdade, não sei se tocam mais alguma coisa para além do Titanic, e sendo ainda mais sincera, passada meia hora tive inveja do Jack, no meio do oceano, agarrado à madeirinha no mais profundo silêncio... Sim, ele estava morto, por isso acho que, mesmo com acordeão, permaneço em vantagem... Já a Rose talvez tenha tido uma noite mais agradável, excepto quando o Jack congelado foi ao fundo (Já repararam como, em português, o Titanic ia parecer algo saloio? A Rosa a gritar para o Jaquim: Jaquim! Jaquim! E o Jaquim a ir ao fundo, no Tejo....hummm).

Pensamento positivo: Onde há um homem a tocar acordeão, não há um homem a vender pensos! Juntos, seriam uma combinação ainda mais explosiva que a mistura homem-robot do Robocop!!!

Wednesday, April 18, 2007

Nas nossas mãos

"Um carro é uma arma", dizia-me, repetidamente, o meu instrutor de condução, o Sr. Pereira. Eu acenava com a cabeça, sem perceber como é que alguém conseguia agarrar o voltante e meter mudanças ao mesmo tempo sem se despistar, atrapalhada com os pedais que se confundiam. Aprendi a conduzir mas, acima de tudo, aprendi que um carro te pode atirar para uma cadeira de rodas, assim, numa fracção de segundo, mesmo quando atravessas na passadeira, mesmo quando olhas para os dois lados.

Mas, agora, se visse o Sr. Pereira, e me sentasse de novo ao volante, com ele ao lado, queria perguntar-lhe:
"Sr. Pereira, o que é que, na mão do homem, não pode ser usado como arma?"

Se calhar

http://216.70.117.172/me_portugues.htm

Se calhar, é tempo de mudar...

Veja o que me vai na mente!

Num dia de sol perfeito, perfeito, perfeito...tinham de marcar a porcaria de um exame!

PS - crianças, a escola é muito boa! Sim, sim, eu gosto muito!... (conversa típica para a minha filha)

Sunday, April 15, 2007

Confusão mental (piloto automático)

Detesto que assim seja. Bloqueio criativo, teclas que se suicidam e arrependem segundos antes da queda. Sim, li que, de acordo com um estudo feito a partir de pessoas que se tentaram suicidar atirando-se de um qualquer ponto alto, quase todos os suicidas se arrependem durante a queda. Quase todos os suicidas desejam voltar atrás, e percebem que todos aqueles problemas que os levaram ao suicídio não tinham, na realidade, importância nenhuma. Que tudo tem solução. Li isso, mas não me lembro onde... (é comum isso acontecer...a memória armazena a informação importante e descarta aquilo que julgamos menos útil... Dei isso em psicologia, lembro-me!)
Quero escrever e o botão de apagar sempre activo, as letras que enchem e desaparecem do ecrã. Antes a caneta, para deixar vestígios dessas palavras idas! Que nos resta senão a memória? Não sei se já escrevi sobre isso... não me lembro. Sei que já queria escrever sobre isso, talvez me repita então. O que nos resta, no fim da vida, senão a memória do que já foi? Senão a certeza do que vivemos? Não quero apagar estas palavras, pôr-lhes fim talvez, mas não exterminar qualquer vestígio da sua existência.
Existi, um dia! Fui, um dia. "Ego fui quod tu es, tu eris quod ego sum"- Fui o que és, serás o que sou, diziam os túmulos. Esquece a minha existência e condena a tua própria vida ao esquecimento.
Imortalidade, fotografias, filmes... Pedaços de vida guardados como tesouros. Eu, ontem. Eu, hoje, um agora que não se consegue agarrar nunca. Eu, carne, sangue, osso, Eu, espírito, alma, vontade. Um sorriso congelado numa fotografia. Mil lágrimas que nunca serão preservadas em álbum nenhum. Vidas perfeitas, registadas, recordadas, dizem-nos "Foste feliz. Vê quantas vezes sorriste, quantos momentos de pura felicidade viveste", manipulas a tua própria memória numa tentativa desesperada de achar que foste feliz sempre. Serás feliz para sempre. Arroz sobre os noivos que se separam meses depois. Fotos do casamento, fotos do segundo casamento... ausência de recortes do intervalo. Faz pose para a câmara, congela esse momento que te fotografa a alma, sorri sempre e engana o mundo, engana os outros, engana-te a ti mesma.

Mas só poderás ser verdadeiramente feliz se te lembrares que, um dia, não tiveste vontade de sorrir.

Nature Boy - Nat King Cole

There was a boy
A very strange enchanted boy
They say he wandered very far, very far
Over land and sea
A little shy and sad of eye
But very wise was he
And then one day
A magic day he passed my way
And while we spoke of many things
Fools and kings
This he said to me
"The greatest thing you'll ever learn
Is just to love and be loved in return"

"The greatest thing you'll ever learn
Is just to love and be loved in return"


O amor também se aprende...

Ready to go

Vou-te deixar partir. Vou-te deixar atravessar essa fronteira invisível feita de palavras. Rumas a esse novo continente, de sensações familiares. Mas nunca é igual.

Thursday, April 12, 2007

Nunca?


Nunca tens saudades dos dias eternos? Do tempo em que pensavas que ias viver para sempre?

De quando acreditavas em tesouros de piratas no jardim e em fadas que te levavam os dentes?

Desse tempo em que o dinheiro não queria dizer nada e tudo o que importava era subir o mais alto possível no baloiço?
Dessa altura em que tudo o que os nossos pais diziam era verdade, e em que o que não era bom era mau?
De quando, nos dias de sol, a chuva caía e as bruxas faziam pão de ló, e no fim do arco-íris havia um pote de ouro com um duende sentado à nossa espera?


Nunca tens saudades de acreditar?

Piquinhos nos pés

Manias todos as temos. Eu sofria de "piquinhos nos pés". Não, não se trata de qualquer deformação anatómica, doença nem parasitas. Hoje, a nível oficial, sofro de vertigens, mas, cá para mim, ninguém me tira os piquinhos nos pés. Descobri-os quando subi ao Cristo Rei pela primeira vez, olhando para baixo. E assim, nasceu o primeiro piquinho, de nome Anacleto.

Se bem que isto seja informação susceptível de ser usada contra mim pelos meus inimigos, vou partir do princípio que ninguém me quer mal...hummm...pois... (Caro inimigo: caso me estejas a ler, espero que tenhas em conta que seria um acto de extrema desonra usares a história dos piquinhos em teu proveito. Por favor, dirige-te à gaveta da cozinha e dá uma martelada na cabeça de imediato, de modo a esqueceres tudo o que leste. Beijinhos da tua inimiga!)

Ora, continuando... Deslocações frequentes ao outro lado do rio podem ser problemáticas quando se tem piquinhos nos pés. A solução? Conduzir com um olho aberto e o outro fechado, enquanto se berra a canção mais estúpida que se conhece (Mais uma vez, caro inimigo, se ainda cá estás, ignora a última parte, visto que tentar deitar-me abaixo da ponte, vindo do lado do olho fechado, não seria um acto de desonra apenas, mas de completa falta de civilização e compreensão para com o próximo!)


Hoje, convivo com os meus piquinhos de forma amena. Sim, piquinhos. Ninguém me convence das "vertigens", que isso é coisa de cinema, quando elas olham para baixo e vêem tudo a andar à roda, e começam a andar à roda também, e põem um pé de fora mas, de repente, aparece o Ben Affleck e salva o dia....

Pensando bem tenho imeeeeensas vertigens e vou agora pôr-me ali no Cristo Rei, está bem? Espalhem a mensagem!!



Brincadeirinha.... óbvio!

Wednesday, April 11, 2007

Combinando o pic-nic

Lolly: Bora fazer um picnic hoje?
Kris: Picnic? Para o almoço?
Lolly: Não, para o jantar. Eu já almocei, cachopa. O meu dia hoje começou logo às 8h da manhã quando me dirigi, contente e responsável, para a minha faculdade, sentindo uma felicidade imensa quando lá cheguei! É tão bom andar de transportes durante uma hora e depois ficar mais duas horas fechada no auditório a ouvir discursos!
Kris:Sim, eu também fico muito feliz! Mas sabes, à noite tem estado frescote!
Lolly: Ora bolas, levamos as mantas! E acendemos uma fogueira! Ou não...se calhar é melhor esquecer a parte da fogueira.
Kris: E vamos comer a nossa merenda onde? Ai, temos de nos despachar a decidir para ir já fazer os rissóis!
Lolly: Ai mulher, tens razão! Que tal a praia? Ou estará muito movimentada?
Kris: Deve estar lá uma amálgama de massa! Além de que é muito iluminado e depois querem comer os nossos rissóis!
Lolly: Tens razão. É melhor não. E na mata?
Kris: Mas que mata?
Lolly: Em Monsanto. Ou na Serra de Sintra. Ou nos bungalows de Alfragide?
Kris: Não. Não vou para esses sítios sem classe.
Lolly: Pois, tens razão. Gente como nós não vai a esses lugares. Vamos pensar. Põe-te na posição de lótus e faz zuuuummmmm
(..................)
Lolly: Então? Não conheces nenhum sítio?
Kris: Conhecer, até conheço. Mas parece-me perigoso ir lá de noite, a meio da semana.
Lolly: Ui! Isso não! Queremos um sítio ameno onde pequenas borboletas possam esvoaçar.
Kris: Borboletas de noite?
Lolly: Podem ser traças!
Kris: Geralmente esses sítios são criados para bonitos domingos solarengos e não para noites de quarta feira ventosas.
Lolly: Não, mas o meu dedo mindinho diz-me que hoje vai estar bom tempo!
Kris: Está bem, convenceste-me. Se há algo em que confio, é no teu dedo midinho! Então vou fritar os rissóis, e depois combinamos o sítio.
Lolly: E eu vou buscar a toalha de xadrez! Até logo!

(Qualquer semelhança com a realidade não se trata de coincidência. Qualquer pequena discrepância com a conversa que teve lugar na realidade, é mera coincidência!)

ATENÇÃO! NÃO ESQUECER! IMPORTANTE! URGENTE!


Tuesday, April 10, 2007

Saudades de ontem

Sete anos. E eu, espantada e revoltada, com um tempo que passa sem que o consiga agarrar, mais uma vez apanhada de surpresa pelo calendário que insiste em provar-me que estou errada. Quem me conhece sabe bem a aversão que tenho pelo tempo. Pelo contar do tempo. Pelo tempo que se conta pelos relógios, pelas agendas. Esse tempo que não tem misericórdia e avança a seu prazer, sem nunca se preocupar se estamos prontos ou não.
O tempo que te roubou de mim, quando, se calhar, ainda não era o teu tempo. Sei que o meu tempo não estava de acordo, mas o tempo dos homens não quis saber disso.
"Sete anos?!", pergunto, estupefacta, ao papel que me confronta, pendurado na parede. Faço as contas, refaço-as, e o resultado é inegável, porque eles dizem que os números não mentem nunca. Mostram-me as fórmulas, e os dados. Mostram-me fotografias em que o meu corpo era diferente, duma altura em que não me lembro de ser assim, onde tu (ainda) estavas presente. "Vês, o tempo passou". Mas eu não o senti. O sol nasceu e pôs-se 2555 vezes desde a última vez que te vi. 61320 horas separam o momento em que me despedi de ti e o agora em que escrevo. Mas eu não as senti passar.
E parece que ainda ontem corria para ti, para te abraçar... Por isso, tenho saudades, mas de ontem.

Sunday, April 08, 2007

O regresso da filha pródiga!!!





Digo eu triunfante, atirando as malas para o chão. "Apanha já as malas!", responde a minha mãe, interrompendo o momento em que ergo os braços ao céu, e me preparo para ouvir salvas de palmas.
O regresso a casa é sempre uma mistura de emoções contraditórias: temos saudades daquilo e daqueles que ficaram para trás mas ao mesmo tempo sentimo-nos contentes por estar de volta ao lar. Encontramos os mesmos papéis amarrotados no mesmo canto em que os deixámos, a roupa ainda amarrotada no armário da última vez que nos vestimos e trocámos de roupa 300 vezes, as mesmas vozes familiares e os passos na escada que sabemos reconhecer antes de chegarem.
As férias da Páscoa não seriam passadas em casa - decisão tomada sem direito a revogação. Uns dias em Sesimbra e depois a velhinha Nave Redonda, à nossa espera.
A Nave Redonda é uma aldeia na Guarda, que até há bem pouco tempo nem aparecia nos mapas. Entre a placa que indica o início e a que marca o fim da Nave Redonda, conseguimos conduzir durante 2 minutos, isto se apanharmos algum trânsito, o que na Nave Redonda significa sermos interpelados por um rebanho ou um tractor. Quis a sorte que, desta vez, fosse um rebanho:





A Nave Redonda é "aquele pedacinho de mundo onde não há tempo", gosto de dizer, porque parece que, de facto, a chamada evolução não passou por ali. Continua de pé o mesmo café, os moradores são cada vez menos, todos ligados por algum laço familiar, as velhinhas de preto, sentadas nos bancos de pedra à sombra, viram a cabeça para ver os carros que passam nos caminhos mal alcatroados...



Mas, apesar de tudo isto, ir à Nave Redonda foi sempre o momento alto das férias. Primeiro, porque, regra geral, é onde se junta a família toda, contabilizando, esta última vez, um total de 26 pessoas, sendo que dessas 26, 22 estavam alojadas na mesma casa... que há 3 anos só tinha uma casa de banho! Sim, era o pânico. Agarrar a roupa, correr para a porta, marcar o lugar para não sermos ultrapassados... Tomar banho ao som dos berros desesperados lá fora, que insistem para que sejamos rápidos, e tentar não acabar a bilha de gás, são coisas naturais quando se está na Nave Redonda.



Para terem uma ideia de como se trata de uma aldeia pacata, posso confessar-vos que um dos pontos altos da estadia, quando éramos mais novas, era visitar o cemitério, o que ilustra bastante bem a ausência de coisas para visitar ali... Mal chegávamos íamos a correr para o cemitério, ver a campa de uma prima que morreu intoxicada com gás ao tomar banho. Este é um do aspectos que choca as pessoas da cidade: o cemitério fica a 5 passos de nossa casa e está aberto 24h por dia.






(Esta foto foi tirada da porta de casa e aquelas grades tortas que ali vêem são do cemitério...)


Mesmo assim, muito mudou na Nave Redonda. Já não jogamos à bola na estrada, porque agora os carros já surgem com mais frequência... Sim, dantes a estrada era o sítio onde brincávamos. E, no Verão, o alcatrão colava-se às nossas solas, tal era o calor e a qualidade das estradas!



Um outro aspecto interessante da Nave Redonda é o seu cheiro natural característico a bosta de vaca. Mas uma pessoa habitua-se, tal como se habitua a nadar no rio com os peixes, a fugir dos cães raivosos que andam por ali com os rebanhos e a cumprimentar toda a gente, seja quem for. Será que as pessoas da cidade imaginam o que isso é?



Garanto-vos que estar lá, é estar mais perto daquilo a que chamam o paraíso. E, para finalizar, deixo aqui uma foto da famelga, que entre ais e uis, chouriços assados e peixinhos do rio, jogos de volley e idas a Espanha, lá conseguiu sobreviver, mais uma vez ;)



Sunday, April 01, 2007

Recordações

Esta imagem lembrou-me as noites em que, quando a minha mãe estava a trabalhar, o meu pai nos penteava e punha uns elásticos no cabelo na tentativa de criar umas tranças... O resultado era surpreendentemente semelhante ao da imagem!
Ah, os bons velhos tempos...

Nikita, as malas!

Estabeleçamos a regra: para cada dia fora, 3 mudas de roupa. Isto dará um total de 15 conjuntos para 5 dias, algo inconcebível para muitas mentes masculinas mas pura lógica para a maioria das mulheres.
Eu levo sempre bagagem suficiente; digo suficiente porque nunca levo tudo o que queria (o meu armário inteiro), mas a minha medida ultrapassa sempre aquilo que seria desejável aos olhos do meu pai, mestre de arrumação que consegue sempre encaixar 15 malas onde eu conseguiria enfiar 5. "São só 3 dias!", frase mais que típica saída da boca masculina, seja na versão pai, namorado ou amigo. Reviramos os olhos, eles não percebem nada disto, enquanto atiramos o necéssaire, saco dos sapatos, mala especialmente reservada a casacos, pasta armada de todo o material eléctrico necessário (carregadores, adaptadores, máquina fotográfica, portátil..), malão de viagem com os trapinhos e ainda um saquinho pequeno com todo o tipo de bolachinhas, água, sumos, petiscos que são fundamentais numa viagem, ainda que essa possa ter a duração de apenas 45 minutos (nunca se sabe o que pode acontecer se falharmos uma saída!).
A pior parte de viajar é, sem dúvida, o momento de refazer as malas para regressar. Roupa espalhada pelo quarto, procurar se não ficou nenhuma meia perdida debaixo da cama, explorar todas as gavetas e cantinhos recônditos onde possa haver alguma peça esquecida. E é quando estamos quase a chegar a casa que nos lembramos: "esqueci-me da única coisa que não podia esquecer!!! OH NÃO!", seja que coisa for, porque nesse momento torna-se, automaticamente, a coisa mais importante da nossa bagagem.

O facto é que estou a 2 parágrafos de ir fazer as malas para 4 noites. A lista do NÃO ESQUECER tornou-se quase ilegível, com palavras que vão surgindo de minuto a minuto, e o material eléctrico está, obviamente, desarrumado, com o portátil ainda a uso.
Felizmente, temos uma bagageira inteirinha para duas meninas, incluindo os bancos de trás que vão vazios, e ainda a bagageira de um carro masculino, o que significa imenso espaço livre para uma eventual mala que sobre. Esperam-se olhos revirantes, queixas e resmungos, porque, no fundo, eles não gostam de pensar que somos mais prevenidas que eles.
Mas eles bem gostam de comer uma bolachinha pelo caminho, mesmo que a início se mostrem desinteressados. Basta mastigar vigorosamente e fazer "Ah!" no fim.

Até ao meu regresso :)*******

PS - foto do porta-bagagens brevemente disponível