Sunday, April 29, 2007

Para ti, que não és tu, nem sei quem és.

Não te escrevo. Perdemos tempo demais com palavras e esquecemos quem éramos. Jurámos, prometemos, sonhámos e não construímos nada suficientemente sólido para mostrar, agora. Andámos às voltas, espirais, infinitos, anéis que nunca têm fim nem começo algum. Acabámos onde começámos, mas ficámos iguais? Olha para mim: quem está aqui? Nem eu sei quem sou! Quanto mais quem fui, e se quem fui é quem sou! Confundo-te, suponho. Imagino que sim. Seria mais fácil mostrar-te os números, as datas, a fórmula de nós a dividir pelo tempo e o resultado escrito a carvão no fim da página. Odeio matemática, sou uma pessoa de letras. E se me disseres que as letras também se encontram na matemática, abano a cabeça perante a tua incompreensão. Falo de sons, de sentidos, não de símbolos traçados a químico em algum canto de papel!
Ah, e som das ondas lá fora. Uma noite que começa a cair. Esticaste-te, querias a lua, lembras-te? Dizia-te que podias guardá-la, dei-ta uma vez. Moldura de prata, uma luz desfocada num fundo negro. Não percebeste, como podias? Era a minha lua. Não podia ser tua. Estará nalgum gaveta, perdida, entre estrelas, cometas, e borboletas de asas brancas.
Vimos as estrelas, adivinhávamos constelações com nomes que brotavam da nossa imaginação. A ursa maior, a única que sabíamos localizar nesse bordado de luz. Já não sei onde fica a ursa maior. Lembro-me de um quadrado, três estrelas na ponta, uma cauda encantada de serpente. Sons de flautas no deserto que um dia seremos. Confusão, confusão, confusão. Queres saber tudo mas não posso desvendar o que não sei. Um dia vais ficar boa? Um dia vais renascer, Fénix das cinzas, coberta do cinzento do tempo, rasgado por lágrimas salgadas? Acredito....se acreditares. "Mostras-me a tua fada?" "Só se me mostrares a tua primeiro!" E as fadas escondidas, fechadas em prisões de carne e osso, segredando palavras incompreensíveis. Eu acreditava e acho que tu também. Mesmo quando abria as mãos e tudo o que via eram as linhas que me traçavam um futuro. A cigana na praia, a falar de maldições, amores, tragédias. Falava de nomes numa voz que despareceu e que se tornou eco do silêncio. Queria esses nomes, rir deles, sonhar com eles. Confusão, confusão. Não sabes quem és, suponho. Imagino que assim seja. Nem eu sei quem és. Vejo-te numa confusão de memórias. Suponho que sejas o infinito de gente que passou por aqui. Que decidiu espreitar quando passei. Que se dignou a olhar quando sorri. Que teve vontade de ler quando escrevi.

No comments: