Monday, November 19, 2007

Já chove

Acordei com as Cataratas do Nicarágua do outro lado da janela e pensei: "Ora bolas, viemos fazer uma viagem e os meus pais nem me avisaram!"

Até que se dissipou o sono, os olhos acostumaram-se ao dia (cinzento, cinzento) e percebi que estava SÓ a chover. A chover como quem usa um eufemismo para "estava a haver um dilúvio". Havia gente na rua praticando as famosas danças tribais do "agarra o chapéu de chuva" e "salta a pocinha" e quase jurava que se olhasse bem ia ver peixinhos a nadar na estrada graças às sarjetas entupidas.

O Natal de mangas curtas não tem piada. Natal é neve (na televisão, claro!), lareira acesa, marshmallows assados (outra coisa que só acontece na televisão), cachecóis branquinhos e peludos (a uma distância segura da lareira), as janelas embaciadas e as luzinhas a brilhar até se fundirem, uma a uma, e não restar mais nada a não ser um fio feio com pendentes estranhos colado aos vidros com fita-cola. (O facto de faltar mais de um mês para o Natal é um pormenor sem qualquer importância no contexto deste post).

Este tempo inspira-me sentimentos contraditórios: uma espécie de alegria caseira, uma vontade de rir sentada no sofá, de olhar para os outros lá fora e agradecer o cobertor por cima das pernas. Calço as galochas floridas e domino o mundo! Eu, aquela que não molha os pés e pode saltar à vontade! Que tem o impermeável e por isso pode dançar à chuva! Que já está constipada de qualquer forma e por isso pode apanhar frio sem medo!

A chuva não me deixa melancólica. Faz-me rir. Faz-me rebolar na cama meia hora antes de me levantar enquanto penso em músicas que envolvam chuva e as canto baixinho, debaixo dos lençóis.

"Este tempo, hum?"

"Estava na altura"

"Ah também é preciso não é?"

"Pois, pois é"

Mas o que eu queria mesmo mesmo era dizer-lhe (ele, o motorista de 60 anos da escola da minha filha): "Let's sing in the rain!", talvez acompanhado da devida tradução caso ele não me entendesse, com os chapéus de chuva a servirem de bengala para fazer os truques dos clássicos do cinema americano tal Gene Kelly.

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