
Menina rainha,
tão segura de ti caminhas
tão segura de ti caminhas
sem olhar a quem pisas nem a quem magoas!
O teu manto dourado com que cobres os outros,
com que negas a existência para além de ti,
está roto e sujo por baixo.
O seu brilho é manchado pelas lágrimas alheias,
de sal e água, gotejar de sereias
que são condenadas a uma vida menor.
Menina rainha,
olha em teu redor:
quantas vítimas do teu desprezo?
quantas vidas que ignoras?
quantos rostos que não olhas?
quantas almas que devoras?
Desce do teu trono de cristal,
descalça os sapatos, rasga o brasão
e sente, como todo o mortal,
a terra quente que palpita no chão.
É vida! Estremece,
contorce-se, geme e grita!
É o suor e o sangue dos antepassados
que nela revive e se multiplica.
E do teu pedestal, talvez não se veja.
Daí, onde estás, talvez o mundo não pareça importante.
Com o teu universo artificial de brilhos e luzes
talvez tudo te seja demasiado distante.
Segues caminhando a estrada dourada
sem nunca saberes, de facto, quem és,
porque nunca pisaste a terra que rebaixas
com a pele descalça dos teus pés.
Menina Rainha, és só menina.
Deita fora a tiara, esquece a nobreza.
Porque no mundo real os nobres são outros
e as rainhas de facto também conhecem pobreza.
São aquelas que limpam com as costas das mãos
as lágrimas dos filhos, amparam as quedas,
abraçam amigos, consolam irmãos
e abrem o peito ao mundo que vedas.
São aquelas que se erguem, mesmo que feridas,
e trazem no coração o mundo inteiro,
e têm na cabeça a coroa perfeita,
porque é feita de tudo o que é verdadeiro.
No comments:
Post a Comment