Tuesday, February 05, 2008

Quando foi?

Havia eu e ele. E o mundo, como pano de fundo, bandeira meia descolorida pelo sol, agastada pelas intempéries que, de vez em quando, insistem em suceder. Mas, enfim havíamos nós e a isso se resumiam os dias. Às horas que se precipitavam galopantes quando juntos, ou numa cadência de conta-gotas na ausência. Havia as estrelas, as do céu e as do mar, que espraivam os braços na areia molhada pela manhã ou se dispersavam na escuridão da noite, cada vez mais fortes, cada vez mais altas. Havia as estórias partilhadas, os segredinhos de algibeira contados a dois tempos, as palavras inúteis mas belas que se ofereciam como caixa de bombons quando não sobrava dinheiro depois do cinema. E, acima de tudo, havia nesse passado uma inocência assombrosa de menina, uma espécie de pacto com o mundo que prometia não destruir sonhos nem quebrar ilusões.
Até que um dia, sem saber bem quando (são datas que não se fixam em calendários), quebrou-se o pacto. Os olhos escureceram, alongaram-se os dias, curvaram-se os gestos. A isso obrigou o tempo, diriam os mais sábios, que aceitam o amanhã com paciência e sensatez. As meninas fazem-se mulheres, os sonhos fazem-se planos, as ilusões são esperanças e os amores são vulcões meios adormecidos. Um dia, podem despertar e destruir tudo em seu redor. Urge cumprir horários e regras, respeitar os códigos, dezenas, centenas de premissas irrevogáveis. O mundo já não é bandeira ao fundo, é palco principal cujo pano cai a qualquer momento. Quando cai, não resta senão levantá-lo de novo: doem os braços, afligem-se os dedos, partem-se unhas, às vezes. Ou deixamo-lo caído - nem sempre há tempo para o levantar - e partimos em digressão, à espera de um novo holofote mágico que nos encadeie e nos faça acreditar que ali, onde só há luz, está de facto a baleia do Pinóquio, que o engole num zumzum de mar.

Todas as meninas se fazem, mais dia menos dia, mulheres. Mas todas as mulheres guardam em si, mesmo que não o saibam, a menina que foram um dia.

3 comments:

Anonymous said...

Eu cá sei mt bem que guardo em mim uma menina, uma "bimba" cm me diz o meu amigo italiano (bimba é menina/criança em italiano). O q eu n sei é qd é q esse tal vulcão vai entrar em erupção.. esperemos q seja antes da mulher se transformar em pirâmide!

Lolly said...

eu tb te acho bimba amiga... ou "montanheira" se preferires lolol ;)deve ter sido o teu amigo para disfarçar: "ah sim sim bimba é menina e tal" :P adoro este nosso intercâmbio cultural: tão perto e no entanto tãooooo longe lol (sim, a alexandra usa sapatilhas no dia-a-dia... lol!)

Unknown said...

Era bom q tda a gente guardasse essa "criança" para sempre... A criança dos sonhos, a criança simples e feliz!É bom crescer, mas é bom que enquanto crescemos tenhamos tempo para andar de baloiço e sonhar, voar bem alto!!!
Bjinhos***