Thursday, January 15, 2009

Sinfonia da melancolia

Passos.
Uma última palavra esvoaçante entre os braços.
Uma só, depressa
antes que, de repente, alguém apareça!
Antes que a luz descubra, por completo, os prédios e as casas
em frente dos quais as palavras se tornaram gestos
e os gestos ganharam asas.
Antes que o coração desta terra volte a bater
e a gente encha as ruas, caminhando sem se deter.
Sacos nas mãos, saltos nos pés, sonhos guardados
- quando é que nos tornámos tão estranhos e errados?
Antes que as pontes ameacem ruir,
e ninguém pare para as ver no momento de cair.
Antes que os destroços de pedra se misturem com os destroços de nós
e que o ruído de mil passos nos abafe e cale a voz.
Quando?
Quando é que cegámos por completo?
Cidades inteiras perdidas em cegueiras que passam por um defeito discreto.
Quando é que nos tornámos tão sós?
Quando é que todos os outros passaram a ser tão diferentes de nós?
Não são passos que escuto em torno de mim:
é a sinfonia de uma inteira melancolia feita de notas que são as gentes assim.





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