Friday, February 26, 2010

Rituais

Rituais.
É aquela coisa de chegar à redacção, limpar os óculos, pôr os óculos com uma mão enquanto ligo o pc com a outra, teclar a password com dois dedos, enquanto procuro o pacote das bolachinhas na mala XXL com outros dois dedos e estalar o pescoço antes de sentar na cadeira que me deixa as pernas a balançar para trás e para frente.
Abrir o mail, abrir o outro mail, abrir o terceiro endereço de email. Ler os mails de uma e de outra e ainda da outra conta por uma ordem que vai dos potencialmente mais interessantes aos óbvia e tragicamente entediantes.
Ler um blog, dois blogs, três blogs. Escrever cem caracteres, duzentos caracteres, trezentos caracteres.
Chegar a casa e devorar o almoço de olhos fixos no último episódio da Betty Feia, das Donas de Casa Desesperadas ou do Serviço de Urgência.
Voltar e tentar encontrar um lugar onde estacionar o bólide, numa distância estratégica da porta da esplanada - calcular ângulos, raios, diâmetros.
Telefones a tocar, gente a gritar, impressoras a cuspir papel. Tardes que passam tão rápidas que nem damos por elas, ou às vezes horas que insistem em demorar-se, inúteis, nos ponteiros virtuais do ecrã.

E, às vezes, não fazer nada disto. Ignorar os emails, não responder a telefonemas, rabiscar caretas no papel em vez de escrever. Também é para isso que existem os rituais.

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