Tuesday, January 09, 2007

Orgulho







Quando os nossos pais são médicos aprendemos que nem todos os feriados são feriados, que os fins-de-semana muitas vezes são só dias como os outros mas com outro nome, que à noite nem todos estamos a dormir.
Aprendemos, também, que ao contrário do que a maioria julga, ser médico não equivale a férias em ilhas paradisíacas. Pelo menos, não no serviço público. Que o sonho de miúdo de querer ajudar os outros nem sempre se esgota com o tempo, a vida e a idade. Pelo menos, não em todos.
Por isso, quando o meu pai se levantou no dia antes do Natal para ir trabalhar quando nada o fazia prever, não nos surpreendemos. O médico que era suposto fazer esse turno decidiu que não trabalhava visto que não lhe pagavam as horas extraordinárias. Foi-se embora. Não o critico por lutar pelo que achou ser o seu direito. Afinal, se não olharmos por nós, quem o fará?
Só que quando o meu pai chegou a casa, depois de um dia de trabalho, sem ter recebido um único cêntimo a mais por isso, sem qualquer obrigação de o ir substituir, senti-me feliz por ser filha dele. E esperei ter alguns desses genes altruístas, maravilhosos, que o distinguem, tão bem, desse outro colega.

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