Quando nasceu, foi dada como tendo olhos castanhos. Nada mais que um erro, por parte de um funcionário distraído, preocupado com a hora de almoço que se aproximava. Se tivesse olhado por mais uns momentos, mais uns segundos apenas, ter-se-ia espantado e chamado os colegas para assistirem a tal prodígio.
Nos olhos dela viam-se as chamas e o sangue derramado pelas guerras, homens feridos e cambaleantes, crianças estendidas que nunca iriam crescer.
O horror do passado, do presente e do futuro cruzavam-se, rápidos, na escuridão que habitava o seu olhar.
Com óculos escuros, aprendeu a esconder o seu segredo, para que os homens não tentassem descobrir o seu futuro. Nem perante o espelho os retirava, receando assistir a tamanha dor.
E quando morreu e foi velada, tirando-lhe os óculos, a multidão gritou: como que um espelho, os seus olhos mostravam o seu corpo inerte, rodeado do espanto de quem a sepultou.
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Quem será?
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